A exigência é a base do sucesso, não apenas no desporto, mas em praticamente todas as atividades desenvolvidas pelos seres humanos. Sem exigência e em particular sem a vontade de fazer amanhã melhor do que se fez hoje nunca se sairá da mediocridade ou da mediania. É uma pena que não tenha tido este princípio orientador quando foi ME, antes pelo contrário. A sua SE só falava em que os alunos tinham de andar felizes e cheios de prazer e que tudo devia ser um jogo e um divertimento.
Os curricula estão cheios de matérias, mas o desporto é o parente pobre a que poucos prestam a devida atenção, sendo que a prática desportiva é em si mesmo uma forma de desenvolver capacidades indispensáveis para uma boa formação de base. Não há nenhuma incompatibilidade entre estudar e praticar desporto mesmo de alta competição. A Irina Rodrigues, atleta lançadora de disco, é a prova de que se pode estudar e ser médica e ao mesmo tempo praticar desporto de alta competição. Isto não é bem assim. O desporto escolar funciona, não tem é apoio por parte do Estado. Faltam condições físicas e não só. A legislação não ajuda. É tudo à custa dos miúdos, dos pais e dos professores. O caso de Irina Rodrigues não é exemplo porque são pouquíssimos os alunos que conseguem ter sucesso académico ao mesmo tempo que praticam desporto. A quase totalidade dos alunos que tenho que pratica desporto escolar dorme muito poucas horas, anda sempre esgotada e no fim, ou sacrifica os estudos ou sacrifica o desporto.
Não podem ao mesmo tempo dizer que não há dinheiro para apoiar e que querem medalhas olímpicas. Em outros países as universidades têm vagas para alunos dotados no desporto. Aliás, é uma maneira de diminuir diferenças sociais e dar oportunidades aos deserdados da vida. Como se vê em muitos países, a maioria dos desportistas são pessoas que vêm de camadas sociais baixas e que singram na vida através do desporto. Os clubes vão buscá-los às escolas. Cá isso só acontece no futebol, o desporto que canaliza dezenas de milhões dos cofres públicos.
Depois, também acontece em outros países aproveitar-se os momentos em que há grandes campeões para apoiar todos os inspirados que querem seguir as passadas desses pioneiros. Isso foi muito evidente no ténis espanhol que há 30 anos não era nada e hoje é uma potência internacional. Ainda agora ouvimos nas notícias que no Brasil, à conta de Rebeca Andrade, em duas horas esgotaram as 400 vagas que tinham para treinar ginastas.
No nosso país não se aproveitam estes momentos que têm de ser seguidos de investimentos e apoios consistentes. Por conseguinte, o que temos são, desportos de pobres como o atletismo e desportos de ricos como a equitação ou a vela onde os próprios se suportam a si mesmos. De vez em quando surge um indivíduo extraordinário mas depois perde-se o ímpeto com a falta de interesse do país.
Eduardo Marçalo Grilo in publico.pt
Bem escrito. Subscrevo.
ReplyDeleteObrigada.
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