Fui dar com este título do jornal SOL: Manuel Monteiro entrevista Paulo Portas. Achei o título curioso e fui ler a notícia.
Lá se diz, entre outras coisas:
A próxima revista do IDL-Instituto Amaro da Costa – que vai para as bancas em setembro – está carregada de novidades. Sendo o prato forte uma entrevista exclusiva de Paulo Portas ao presidente do instituto, Manuel Monteiro.
Catedráticos dão corpo a Dicionário Político
O Instituto Amaro da Costa conta com mais novidades. Uma delas é o Dicionário Político, cuja edição foi iniciada no final do passado mês de abril. Trata-se de um projeto «de formação coordenado por um Conselho Científico […] A sua liberdade e rigor contribuem para que o dicionário, independentemente das posições que nele se exprimem, possa ser uma fonte de conhecimento e uma sustentada forma de afirmação das diferenças que continuam a existir no pensamento político», defende o IDL.
Achei esta iniciativa de um novo Dicionário Político, não alinhado com a tradicional interpretação da esquerda, particularmente interessante. Quis saber se seria um Dicionário Político com alguma independência de pensamento e fui ver quem são as pessoas que constituem o tal Conselho Científico (faço colecção de dicionários e fiquei logo interessada).
São estes os nomes:
Do conselho científico fazem parte Alexandre Franco de Sá, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; António Cerejeira Fontes, professor convidado da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho; Diogo Costa Gonçalves, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; Fernando Oliveira e Sá, professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa; Francisco Carmo Garcia, mestre em Ciência Política, pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa; Inês Neves, assistente convidada da Faculdade de Direito da Universidade do Porto; João Perry da Câmara, advogado e membro do Conselho Diretivo do IDL; Mafalda Miranda Barbosa, professora associada com agregação da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra; Manuel Carneiro da Frada, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade do Porto; Paula Ponces Camanho, assistente da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Porto e advogada; Paulo Otero, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; Pedro Barbas Homem, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e ainda Pedro Rosa Ferro, professor na AESE Business School (Lisboa) e diretor do Programa de Alta Direção de Empresas (PADE).Não sei quem são. Não são todos catedráticos como diz o sub-título. A maioria são advogados. Mesmo no fim, chamou-me a atenção (não interessa agora porquê) o apelido Rosa/Ferro de um professor da AESE Business School. De repente, fez-se uma associação na minha mente: Rosa/Ferro + Opus Dei + Manuel Monteiro. Assim que fiz esta associação disse com os meus botões, 'vai lá fazer uma pequena investigação para descartares a hipótese de estares a fazer uma triangulação ao modo esquizofrénico'.
Comecei por tentar encontrar uma biografia deste senhor, mas não encontrei. Em Portugal é difícil sabermos alguma coisa, mesmo de figuras públicas governamentais, como é de bom tom e transparência em outros países democráticos.
A IESE Business School, bem colocada num ranking qualquer, tem MBAs para mulheres, muito ao modo da separação de homens e mulheres da Opus Dei - os homens como a cabeça delas, claro.
Então, entrei no site da AESE Business School para saber alguma coisa por esse meio. Não encontrei em lado algum o significado do acrónimo. Fui ao google, escrevi duas palavras e fui dar ao site da IESE Business School que, juntamente com a Universidade de Navarra são obras corporativas da Prelatura da Opus Dei. A IESI (Instituto de Estudos Superiores da Empresa) Business School é fundadora da AESE Business School, que o tal senhor dirige.
A IESE Business School, bem colocada num ranking qualquer, tem MBAs para mulheres, muito ao modo da separação de homens e mulheres da Opus Dei - os homens como a cabeça delas, claro.
Portanto, a minha triangulação intuitiva não foi esquizofrénica. Aqui está um conjunto de pessoas que inclui Manuel Monteiro (um dos escritores daquele livro Identidade e Família que promove o apartheid de género e a submissão da vida das mulheres ao interesse dos machos e que, como é sabido, tem uma obsessão contra os homossexuais - o que tem a sua piada, dado que passa o tempo com padres, essa instituição que tem mais gays por metro quadrado que pessoas há na Índia) e outras pessoas financiadas pela Opus Dei, com o apadrinhamento de Paulo Portas.
Estas pessoas têm o direito de fazer um Dicionário Político com uma orientação/financiamento de uma organização fundamentalista católica? Evidentemente. Na democracia existem a diversidade e a liberdade de opinião. Agora, nós leitores dos jornais também temos o direito a ser cabalmente esclarecidos das motivações e orientações destas pessoas. Ou será esperar demais dos jornalistas? É que, o não esclarecimento do contexto e financiamento da iniciativa, a mim parece-me logo propaganda encapotada. Que eu saiba, o espaço para a propaganda tem que estar devidamente identificado, para que não se faça confusão.
Gostei deste seu post. Excelente. Os jornais passam o tempo a fazer de nós parvos e há lá mais manipuladores avençados do que jornalistas.
ReplyDeleteObrigada 🙂
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