Em primeiro lugar, o partido de Le Pen reforçou o seu perfil e ganhou mais 50 lugares do que em 2022, enquanto a coligação liberal do Presidente Macron recuou. Durante quanto tempo mais poderá o establishment mantê-los fora do poder?
"É uma reviravolta política, mesmo que o Rally Nacional não acabe por governar o país", disse Benjamin Morel, analista político da Universidade Panthéon-Assas, em Paris. O movimento de Le Pen é "o grande vencedor das eleições. Milhões de votos traduzem-se num grande ganho financeiro", disse, referindo-se ao financiamento estatal que se seguirá ao resultado. Isso coloca Le Pen numa posição poderosa e com uma queixa perfeita para explorar, antes da sua provável campanha para a presidência francesa quando Macron se afastar em 2027: podem dizer que a sua vitória foi roubada e que são a verdadeira alternativa".
Antes das eleições antecipadas, Macron comandava o maior grupo parlamentar. Agora, é provável que tenha de trabalhar com um político da oposição como primeiro-ministro. A sua autoridade no país e a sua credibilidade no estrangeiro foram afectadas.
Embora a aliança de esquerda e os liberais de Macron tenham concordado em colaborar e votar taticamente para impedir a vitória do Rally Nacional de Le Pen, uma coligação mais profunda entre os dois grupos para governar a França parece improvável.
O veterano da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon, um dos partidos da aliança de esquerda, excluiu a possibilidade de governar com os liberais do Presidente. Da mesma forma, o primeiro-ministro de Macron, Gabriel Attal, afirmou que o seu partido nunca partilharia o poder com Mélenchon.
Qualquer que seja o governo que saia desta confusão, é pouco provável que dure muito tempo.
A França está sob pressão para reduzir o seu défice, depois de ter falhado os objectivos no início do ano. Há muitas ideias sobre as quais a esquerda, os liberais e a extrema-direita nunca estarão de acordo. A política orçamental está no topo da lista.
Mélenchon, três vezes candidato presidencial indicou que não se importaria de ser ele próprio o primeiro-ministro de França: "Estamos prontos para isso", declarou.
--------
O problema de Mélenchon não é só ser de extra-esquerda, é também ser um anti-semita confesso, um político que se recusa a condenar os ataques de 7 de Setembro a Israel, que se recusa a considerar o Hamas como um grupo terrorista, que já declarou várias vezes não ser favorável a democracias partidárias, não ser favorável à existência da NATO, querer um referendo parecido com o do Brexit para a França sair da UE, ter admiração por Putin e defender que a França não deve ser contra Putin.
A nossa posição é a de uma França não-alinhada. Os russos não são nossos adversários. Queremos sair da NATO. A NATO é uma aliança de países europeus e norte-americanos criada em 1949, no auge da Guerra Fria. Moscovo procura conter a expansão da NATO para leste e opõe-se à adesão de Kiev à Aliança Atlântica.
Mélenchon considerou que a França devia ser "não-alinhada", antes de acrescentar: "Isto significa que os russos não devem entrar na Ucrânia e que os americanos não devem anexar a Ucrânia à NATO" Na sua opinião, a posição de Vladimir Putin é compreensível. "Não sei como é que nós, franceses, reagiríamos se soubéssemos que Erdogan [o Presidente turco] criou uma aliança que cercaria a França. Não gostaríamos disso, por isso penso que a palavra-chave deveria ser desanuviamento", continuou.
[quanto à Síria] O candidato do La France insoumise deu o seu apoio assertivo a esta intervenção. Entrevistado na France 2, em fevereiro de 2016, afirmou: "Penso que ele (Putin) vai resolver o problema". E "felicitou" o Presidente Putin pela sua acção na Síria. Em outubro do mesmo ano, Jean-Luc Mélenchon apareceu no programa "L'Epreuve de vérité" do Public Sénat, fazendo comentários ambíguos sobre a existência de crimes de guerra russos na Síria. Questionado pelo jornalista: "Contesta a noção de crimes de guerra imputáveis à Rússia?", Jean-Luc Mélenchon respondeu: "Tudo isso é uma conversa de treta. Está a decorrer uma guerra...". melenchon-est-il-un-soutien-du-regime-russe
Logo, não vejo que seja uma grande vitória para a França ou para a Europa, a vitória deste extremista, defensor de terroristas. Na realidade, nem os outros partidos da esquerda com quem ganhou as eleições querem ter alguma coisa a ver com ele. De maneira que estas eleições francesas parecem ser apenas uma catástrofe anunciada para daqui a bocadinho.
Eleições em França: UE respira de alívio, mas não está tranquila
No comments:
Post a Comment