June 10, 2024

Estamos no dia de Camões, um viajante e celebramos também a vocação de emigrantes e miscigenados que sempre fomos




Precisamos de políticos competentes. Os nosso políticos são políticos de interesses. Montenegro vai apoiar Costa para o Conselho Europeu. Costa foi quem desmantelou o SEF à balda para salvar um amigo imoral que entre outras obscenidades atropelou gratuita e mortalmente um homem, em violação do código da estrada. Agora, temos uma agência incapaz de lidar com os problemas da imigração.

Temos que cuidar dos imigrantes que acolhemos. Que um indivíduo tenha que mandar a filha pequena embora daqui com medo que os portugueses lhe façam mal devia envergonhar-nos a todos. 

Onde está o ministro da administração interna e o que faz?

Ontem, nos discursos das europeias, Montenegro falou infantil e inconsequentemente, com Bugalho ao lado, o rapaz superficial e sem substância política ou sequer pessoal que escolheu para lidar com os dossiers que nos afectam. Nós que elegemos 21 deputados em 720, precisamos de pessoas com experiência e conhecimentos, pessoas credíveis e com prestígio e não de populistas superficiais. 

Estamos no dia de Camões e das Comunidades Portuguesas, que é o dia de Portugal e celebramos também a vocação de emigrantes e miscigenados dos portugueses. Somos um povo de viajantes e emigrantes. Como é que isso se pode coadunar com perseguição a imigrantes dentro do país?

Precisamos de políticos adultos e competentes.

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A imagem que esta semana nos chegou pela televisão de um homem imigrante a não conter o choro, quando confrontava o líder da extrema-direita em Portugal e o séquito que lhe segue os passos e beija os pés, é dilacerante. Iqbalh Hossain, de 33 anos, natural do Bangladesh, a viver cá no país há três, interrompeu uma ação de campanha na Póvoa de Varzim para denunciar a situação precária dos pescadores indonésios no concelho, onde, à falta de mão de obra nacional, a pesca vive de imigrantes - já lá vamos. 

Perante o aparente descrédito recebido por parte daqueles a quem se dirigia, Iqbalh acabou a falar da crescente hostilidade contra estrangeiros, que o motivou a mandar a filha de dois anos, nascida em Portugal, para fora.

Chorou a dizer e repetir que está muito triste, que faz "tudo direitinho", que tem visto de residência e que, embora cumpra a lei, é atacado por ser imigrante, apontando à narrativa "racista" dos mal-aventurados. Os mesmos que seriam apanhados, horas mais tarde, a manipular vídeos na Internet para invalidar o discurso de Iqbalh, fabricando as ideias de que estaria a mentir e que teria sido ali plantado pela oposição. E os mesmos que, no momento em que Iqbalh denunciava xenofobia, lhe davam razão às queixas. "Trabalho nas estufas, a cortar cravos", disse aos jornalistas. "Viva Portugal, pá! Parem de lhe dar palco. Ainda há portugueses em Portugal!", responderam-lhe. 

A ironia... O homem cuida da flor que é o símbolo maior da revolução, da liberdade e da democracia, e que, nos dias especiais, é empunhada pelo povo e exibida nas lapelas da Esquerda à Direita no Parlamento, para ouvir clamores nacionalistas de quem julga ser o guardião supremo da nação.

O palco deste episódio desconcertante foi a cidade da Póvoa de Varzim, uma das maiores comunidades piscatórias do país, onde, em março de 2023, os indonésios (com vistos de residência e contratos de trabalho, mas sem cédula marítima reconhecida em Portugal) representavam 75% da tripulação, reportava, na altura, o JN. Mais de um ano depois, a situação agravou-se, com o aperto da fiscalização a ameaçar paralisar a pesca e a deixar revoltados os homens do mar, que garantem que 90% da frota não tem autorização para pescar.

A pesca, como a agricultura, é exemplo de um setor económico que, sem mão de obra estrangeira, arriscaria colapsar. Essenciais em alguns mercados de trabalho, os imigrantes procuram Portugal porque Portugal os procura. 

O último relatório anual do Observatório das Migrações, divulgado em dezembro de 2023, é claro: com taxas de atividade muito superiores às dos cidadãos nacionais, os estrangeiros contribuíram com mais de 1800 milhões euros para a Segurança Social em 2022, sete vezes mais do que aquilo que dela recebem. Não são só importantes para a economia, são essenciais para o Estado Social, que nos paga, a todos, os apoios, os subsídios, as reformas.

Iqbalh merecia mais deste país. E mereciam também mais os cerca de 20 imigrantes indostânicos que vivem amontoados em beliches, numa cave de um bazar na Rua de Camões, no centro do Porto, e pela qual pagam entre 150 a 200 euros por mês cada um, noticiou o JN na manchete de domingo. Fosse Camões vivo e tapava o outro olho para não ver.

Rita Salcedas in https://www.jn.pt/

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