E que não tem pedigree político forte? E que António Costa, uma pessoa que se gaba de pôr os amigos à frente de tudo (portanto, do país, com aliás o vimos fazer, ao ponto do obsceno com Cabrita, por exemplo), e de facilitar cunhas a grandes negócios, ele é que tem?
Não me passa pela cabeça que o Governo português, tendo a hipótese de ter um presidente do Conselho Europeu português, não estivesse unanimemente à volta desse nome. Seria um tiro no pé. Seria contra o interesse nacional. Não percebo esta maneira de pensar, mas é típica dos "homens do sistema" que não querem que nada estrutural mude, verdadeiramente. Defendem o TINA. Estamos num momento crítico da Europa e pomos lá um português só por ser português? É do nosso interesse? Durão Barroso fez alguma coisa por nós? Nada. Fez pela sua vidinha, mas por nós, nada. E Guterres, um português na ONU, que tem feito de positivo? Nada, nem para nós nem para o mundo. Tem sido um facilitador de bandidos, um instrumento da descredibilização da organização. Enquanto os países votarem em pessoas por pensarem que são um portal para a cunha não andamos para a frente.-------------------
Continuidade que é com Ursula von der Leyen.Sim. Mas se depois, ao nível de chefes de Estado e de Governo mais da direita radical presentes no Conselho Europeu, ou na negociação para os top jobs, se a família política da primeira-ministra italiana tiver uma influência negocial, aí podemos dizer que haverá alguma alteração na correlação de forças. E é essa dinâmica que espelha mais a avaliação nacional, ou seja, cada ato, em cada país, é mais espelhado no Conselho Europeu do que propriamente no Parlamento Europeu. Depois, como o Conselho Europeu tem uma preponderância maior no processo europeu do que o Parlamento, aí pode dizer-se que há um respaldo, talvez diferente, nos equilíbrios à volta da mesa. E aí a figura do Presidente do Conselho não é irrelevante. Se for uma figura fantoche no bolso de algum chefe de Estado em particular, tende a expor mais a amplitude do atrito à volta da mesa. Se for uma figura com um pedigree político maior, com maior reconhecimento das várias famílias, e com um grau de diálogo mais ou menos igual entre todas, pode ditar uma agenda mais construtiva.
Esse perfil de uma figura com um pedigree político forte aplica-se ao ex-primeiro-ministro António Costa?
Adequa-se sim. Mas não significa que António Costa esteja na primeira linha para este cargo. A primeira linha pressuporia que ele tivesse o caminho desimpedido em função do handicap nacional que tem neste momento. Agora, é sempre um nome que gera uma expectativa generalizada nas principais famílias políticas. Mas essas principais famílias políticas do Parlamento Europeu podem não ser as principais do Conselho. Porque aqui entre não-alinhados e direita radical o peso é semelhante ao que tem o Partido Socialista Europeu.
Quando fala do handicap, está a falar do judicial, porque o facto de ser do Partido Socialista e este não estar no poder, não costuma afetar o apoio a altos cargos?
Não me passa pela cabeça que o Governo português, tendo a hipótese de ter um presidente do Conselho Europeu português, não estivesse unanimemente à volta desse nome. Seria um tiro no pé. Seria contra o interesse nacional. O handicap é meramente o judicial.
Bernardo Pires de Lima in dn.pt
No comments:
Post a Comment