Prejudica enormemente os alunos. Há alunos que vão fazer o exame do 9º ou do 12º ano sem ter tido professor de matemática ou de português ou o exame do 11º ano sem ter tido professor de biologia ou outro qualquer. Um aluno que entre no 10º ano sem ter tido professor de matemática, por exemplo, no ano anterior, está mais ou menos destinado a chumbar, a não ser que os pais o tenham posto numa explicação com um bom explicador no ano em que não teve professor; se for fazer o exame do 12º ano sem ter tido professor (ou tendo tido só no 3º período, por exemplo), está destinado a chumbar e não poder entrar para o curso que queria; se por algum milagre conseguir que lhe atribuam um 9,5 (com regras de classificação especiais para esses alunos), vai entrar num curso com conhecimentos ao nível do 11º ano - ou menos. Que sucesso poderá ter?
Entretanto, a Confederação de Pais não se interessa por este assunto e passa o tempo a dizer mal dos professores. Juntamente com a uma camada da opinião pública que foi cúmplice e apoiou a destruição da educação por via do desinvestimento na escola pública e do castigo dos professores por imaginárias ofensas, a CONFAP continua nessa senda de criticar os professores pelas medidas das equipas de educação.
Este ano disse aos pais das minhas direções de turma que os seus filhos estão numa situação de luxo relativamente ao cenário do país: têm os professores todos; todos os professores têm formação superior na disciplina que leccionam, mais especialização para o ensino; todos leccionam, pelo menos, há mais de duas dezenas de anos e todos têm muita experiência de preparar alunos para exame.
Ainda não vi este ministro tomar medidas para os problemas fundamentais da educação e, a manutenção de esquemas inúteis como as provas de aferição, só pressagia mais do mesmo.
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O contador de alunos sem professor a uma ou mais disciplinas disponibilizado no site da FENPROF indica que nas últimas semanas de maio, altura que os professores dedicam as aulas à preparação das provas de 9.º ano e dos exames nacionais de ensino secundário, cerca de 40 mil alunos não tiveram docente. E tem sido assim ao longo de todo o ano letivo, tal como já tinha acontecido no de 2022/2023.
A falta de professores, principalmente em Lisboa e no Algarve, deixou milhares de alunos durante largos períodos de tempo sem aulas a disciplinas sujeitas a exame, com as disciplinas de Português - o primeiro teste é dia 12 para os estudantes do 9.º ano - e Matemática no topo das mais críticas.
Uma situação vista com grande preocupação por parte de Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), que pede medidas extraordinárias para não prejudicar os alunos. “A curtíssimo prazo (tendo em conta o presente ano letivo), os exames devem adaptar-se às circunstâncias extraordinárias, como aconteceu durante a pandemia, como a necessidade de incluir mais perguntas de opção, de modo a só responderem a questões referentes a matéria que foi efetivamente lecionada”, defende (ver caixa).
O presidente da ANDAEP afirma que “estes alunos poderão ser prejudicados, dependendo do número de aulas que não foram lecionadas”. Para resolver a questão da falta de professores a médio prazo e consequente injustiça no desempenho nas provas e exames nacionais, Filinto Lima aponta um único caminho, o da valorização da classe docente de forma a atrair mais jovens para a profissão.
“Desconhecendo-se, neste momento, quais as medidas a incrementar, promotoras da resolução deste gravíssimo problema, auguro tempos muito difíceis de não for encontrado o antídoto para aquilo que poderá tornar-se numa pandemia (a escassez de professores)”, sublinha.
Apesar da escassez de professores ser mais sentida no Sul, o problema está, segundo o último estudo do Conselho Nacional de Educação, a alastrar-se a todo o país, sendo cada vez mais difícil substituir docentes que saem para a reforma ou faltam por motivos de doença.O presidente da ANDAEP lamenta também o condicionamento das escolhas dos percursos escolares dos alunos, pois muitos não se inscrevem em determinados exames devido à falta de aulas que tiveram às disciplinas às quais pretendiam ser avaliados.
Uma visão partilhada pela professora e porta-voz do movimento Missão Escola Pública, Cristina Mota. “Um aluno sem professor durante um ano letivo não vai arriscar uma má nota no exame, mesmo que seja de uma disciplina para a qual sente vocação. Neste momento, é certo que muitos alunos e respetivas famílias vão sentir o custo da fatura pelo desinvestimento que se tem vindo a sentir em Educação principalmente na última década”, afirma.
Para a docente, os alunos estão a ser “claramente prejudicados, não só na preparação do exame como, muitas vezes, os conteúdos lecionados no ensino secundário são o suporte para aprendizagens a nível do ensino superior”.
A curto prazo e de forma a defender os direitos dos alunos e a igualdade na avaliação, a porta-voz do movimento Missão Escola Pública pede que se crie a possibilidade de, voluntariamente, os professores acederem a horas extraordinárias menos penalizadas por impostos, “tornando vantajoso esse esforço extra”.
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