February 26, 2024

Setúbal - 50 anos depois falta quase tudo





Setúbal-50-anos-depois-falta-quase-tudo

Sónia Leal Martins

É um concelho onde há problemas em todos, ou quase todos, os setores do Estado, da saúde à educação, da mobilidade ao ambiente, do investimento ao desenvolvimento económico, da criminalidade ao desemprego.


Setúbal precisa de mudança. É preciso refletir no que conquistámos nos 50 anos de democracia, conquistou-se muito, mas podia-se ter conquistado muito mais e ter sido feita política a pensar nas pessoas.

É preciso mudar Setúbal.

Setúbal é uma cidade privilegiada, nasceu entre a imensurável beleza do Rio Sado e a Serra da Arrábida. Ao longo dos anos foi mantendo a frescura dos cheiros, o rico património histórico-cultural, o orgulho de bem acolher e o refúgio da serra e da praia num recato que convida à poesia e ao agradecimento sincero à natureza por ainda existirem lugares assim.

Setúbal conjuga rio com serra, localização com beleza, história com cultura, potencial económico com desenvolvimento, gastronomia com tradição – Setúbal tem tudo, mas falta-lhe (quase) tudo.

Foi em dezembro de 1976 que se realizaram as primeiras eleições democráticas para as autarquias locais em Portugal – desde então que Setúbal é governada por partidos de esquerda, alternando entre o PS e a CDU. As marcas da esquerda neste concelho são por demais evidentes. É um concelho com muito potencial, mas que está há mais de 40 anos estagnado.

É um concelho onde há problemas em todos, ou quase todos, os setores do Estado, da saúde à educação, da mobilidade ao ambiente, do investimento ao desenvolvimento económico, da criminalidade ao desemprego.

O acesso à saúde não é para todos, as urgências pediátricas e de ginecologia estão recorrentemente encerradas e agendar uma consulta com um médico de família é sinónimo de estar de madrugada numa fila interminável sem ter a certeza de ser atendido.

Há problemas no Centro Hospitalar de Setúbal que são sobejamente conhecidos. A Ordem dos Médicos tornou publico que se verificam más condições, que impossibilitam a segurança e o conforto dos utentes – para confirmar basta ir à urgência do Hospital de São Bernardo e estar por lá umas horas. Há problemas na captação de novos médicos, o que é particularmente preocupante, uma vez que o corpo clínico tem, na sua maioria, médicos com mais de 50 anos e há falta de camas – a dotação do Hospital não corresponde ao número de população que abrange – questão resolvida com a ampliação do Hospital que um dia estará pronta e que, sendo otimistas, acredita-se que resolva, pelo menos, o problema da segurança e conforto dos utentes e o número de camas.

A educação é outro problema grave: no concelho, há escolas sem professores, sem auxiliares de educação, sem casas de banho dignas, sem ginásios dignos, há escolas com tetos a cair, há escolas com buracos no chão, há escolas sem condições para receber a comunidade educativa.

No nosso concelho há pelo menos 200 alunos que ainda não conheceram o professor de pelo menos uma disciplina. Há 8 turmas, numa das escolas, em que os alunos ainda não tiveram aulas de inglês, francês ou português. Os problemas verificam-se em várias escolas do concelho.

Não há professores, não há auxiliares de educação, as escolas não têm condições de segurança e conforto, será difícil compreender o porquê de estar a aumentar o abandono escolar precoce?

A habitação no concelho de Setúbal ou a falta dela, é um assunto que deveria envergonhar o PS e a CDU. Não construíram uma única casa, zero. Durante 20 anos não houve lugar a construção de habitação pública em Setúbal, nem com o mote deixado por António Costa, que prometeu, que nos 50 anos do 25 de abril de 1974 todos os portugueses iriam ter uma casa – não só não há casas, como há cada vez mais pessoas em condição de sem-abrigo, pessoas que trabalham diariamente, mas já não conseguem suportar os valores de arrendamento ou de aquisição.

A mobilidade é mais um problema, um exemplo para que se perceba: um aluno que frequente o ensino secundário ou o ensino no Instituto Politécnico de Setúbal e que resida na freguesia de Azeitão pode demorar, em média, 1h30 a chegar à escola/IPS. O PS e a CDU, que têm dividido a governação do concelho, podiam, pelo menos, há 8 anos ter construído uma Escola Secundária em Azeitão.

Em matéria de desemprego a Península de Setúbal supera a média nacional em 2023 – facto este bastante preocupante. No concelho de Setúbal, em 2021, mais de 40% da população dependia de subsídios e prestações sociais do Estado. Esta é a realidade.

Mas há mais, muito mais, infelizmente, no concelho onde falta – quase tudo.

A segurança também é motivo de preocupação: Setúbal é o segundo concelho do distrito com mais crimes, a criminalidade violeta aumentou e a participação por violência doméstica também. Acresce a estes factos, a falta de condições com que todos os dias as forças de segurança trabalham por Setúbal. Para perceber será suficiente que qualquer um de nós entre na esquadra da PSP que se encontra na Avenida mais conhecida da cidade.

Em Setúbal vive-se rodeado de uma beleza ímpar, de um potencial de crescimento e desenvolvimento que deveria ser aproveitado – só os mais de 100 anos do Porto de Setúbal deveriam ser suficientes para desinquietar quem tem governado a cidade.

Setúbal precisa de mudança. É preciso refletir no que conquistámos nos 50 anos de democracia, conquistou-se muito, mas podia-se ter conquistado muito mais e ter sido feita política a pensar nas pessoas. É preciso mudar Setúbal.

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