February 19, 2024

"O que é que não funciona?" PNS

 


Lisboa em risco: neonatologia sem médicos e enfermeiros


Hospitais de Lisboa e Vale do Tejo com falhas na neonatologia causam insegurança nos profissionais e risco para os bebés.

No início do ano a Direção Executiva do SNS (DE-SNS) elaborou «um plano estratégico, em rede, numa abordagem sistémica, que permite soluções sustentadas, com segurança e qualidade para as grávidas, crianças e suas famílias», lê-se na deliberação 215/2023 de 31 de dezembro. Para fazer face à falta de médicos especialistas em obstetrícia e ginecologia e para responder à indisponibilidade dos médicos para assegurar serviços de urgência para além das 150 horas de trabalho extraordinário anual, a DE-SNS reorganizou a rede em todo o país. No entanto, na zona de Lisboa e Vale do Tejo, não assegurou que essas alterações fossem acompanhadas com um reforço ou reorganização dos serviços de neonatologia. E o resultado é que o hospital Beatriz Ângelo, em Loures-Odivelas, assim como outros hospitais da zona de Lisboa e Vale do Tejo, estão sem elementos suficientes na equipa de neonatologia para responder e assistir bebés prematuros.

(...) preocuparam-se com a parte da unidade de obstetrícia, em reforçar os médicos e fazerem equipas para não fecharem à população, e não se preocuparam se havia lugar para os bebés», contou ao Nascer do SOL uma fonte hospitalar. E acrescentou: «Andamos sempre aflitos a prever onde é que vamos conseguir colocar os prematuros, porque na verdade não temos vagas para todos». Além disso, não é aconselhável que «os prematuros andem a passear de um lado para o outro como sistema».

Muitas vezes apenas está ao serviço um elemento das equipas de neonatologia, quando é obrigatório que estejam dois. «Felizmente, na maioria dos casos estão dois elementos. Mas há dias só com um. E basta um ou dois dias sozinhos e já é demais», relatou ao Nascer do SOL outra fonte de um hospital da região de Lisboa. A risco é eminente: «Alguma coisa pode correr mal e se só tivermos um neonatologista de presença física é uma insegurança e um risco para a saúde desse bebé. Estamos de mãos atadas porque, enquanto os obstetras fecham a admissão quando não têm equipas, a neonatologia não pode fechar. E temos de rezar para pedir que nada corra mal», declarou a mesma fonte.

Enquanto não se resolve esta situação, os médicos especialistas sentem que estão todos os dias a trabalhar no fio da navalha. Além do risco para os bebés, há ainda a responsabilidade em termos legais caso alguma coisa corra mal e com isso arriscam a própria carreira por estarem sozinhos a assegurar um serviço que exige dois elementos. Havendo duas urgências, é provável acontecer «ter de assistir a um bebé que esteja em estado grave e ter de ir para a sala de partos para salvar outro e não há como estar dois sítios ao mesmo tempo», advertiu um médico ao Nascer do SOL. Para agravar a situação, verifica-se ainda a transferência destes médicos para os privados, que estão com maior movimento e necessidade em contratarem segundos elementos de neonatolgia.

Também com as equipas de enfermagem, o rácio não é cumprido. Nos cuidados intensivos destas unidades deveria ter, pelo menos, um enfermeiro por duas crianças e em cuidados intermédios um enfermeiro para quatro crianças. No entanto, são muitas as vezes em que o rácio é de quatro bebés em cuidados intensivos para um enfermeiro. Com o novo de regime, que prevê contratos de 40 horas com ordenados de 35, houve várias enfermeiras com experiência que também saíram para o setor privado. Tornado ainda mais complicado responder a esta nova organização. «Vive-se todos os dias com o credo na boca. São raros os dias em que se pode dizer que está tudo bem, que não há problemas», contou um responsável ao Nascer do SOL.

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