Estou neste momento a trabalhar a Lógica com os alunos do 10º ano. Grosso modo, a Lógica é uma gramática ou aritmética do pensamento que ensina a construir pensamentos consistentes e, nessa medida, a detectar as inconsistências nos conhecimentos, pensamentos, argumentos dos outros (e nossos).
Embora algumas pessoas pareçam ter uma disposição natural para a racionalidade e, portanto, para a lógica, mesmo os que vêm com esse software, digamos assim, menos desenvolvido, aprendem a desenvolvê-lo.
Clara Viana
O “reforço da identidade nacional” é um dos resultados do ensino da História que o Ministério da Educação português entende ser “muito importante”. Dos 16 países que integram o Observatório do Ensino de História na Europa (OHTE, na sigla em inglês), esta opinião só é partilhada pelas autoridades educativas da Arménia, Grécia, Malta, Sérvia e Turquia.
Nos outros países os resultados da aprendizagem da disciplina classificados como “muito importantes” são o “reconhecimento da diversidade cultural das sociedades do passado”, “o desenvolvimento de competências para a cultura democrática” e o “reforço da aprendizagem crítica e das competências para o século XXI”.
Estes são resultados do primeiro relatório sobre o ensino da História do OHTE, divulgado nesta quinta-feira. Para este estudo foram feitos questionários às autoridades educativas e aos professores de História (6511 respostas, das quais 212 de docentes portugueses). Foram também constituídos 11 “focus groups”, que integraram 49 participantes de todos os países do Observatório, à excepção de Andorra.
Ao contrário das autoridades educativas portuguesas, os professores de História em Portugal são dos que atribuem menos relevância ao desenvolvimento do “orgulho nacional” em resultado das suas aulas. Apenas 17% lhe atribuem importância. Nesta menorização são acompanhados pelos docentes de Andorra, Chipre e Grécia.
Já no que respeita à construção de uma identidade europeia, 64% dos professores de História portugueses apontam-na como um dos resultados que gostariam de alcançar nas suas aulas, estando em linha com a maioria dos outros países.
Durante muito tempo apontada como a “matéria-prima” da História, a memorização de informação como datas e acontecimentos históricos, é entendida por muitos inquiridos como sendo “pouco relevante”, oscilando esta percepção entre os 46% registados em Espanha e os 5% da Turquia. Em Portugal alinham com este grupo 38% dos inquiridos.
Manuais valem mais do que os interesses dos alunos
No relatório alerta-se, contudo, que “parece existir uma divergência acentuada entre o que os professores entendem como pertinente e o que descrevem como sendo a sua prática em sala de aula.”
Esta discrepância começa logo pelo tipo de pedagogia usada nas aulas. Os professores fazem notar a sua preferência pelos chamados “métodos de aprendizagem activos”, como a elaboração de projectos e de estudos com base em exemplos concretos, mas admitem que este tipo de prática pedagógica é a que “menos utilizam” em sala de aula, continuando a privilegiar a exposição oral que remete os alunos para um papel “mais passivo”.
E que factores têm mais influência na prática de ensino? Colocados perante uma escala de 1 (menos influente) a 5 (mais influente), os professores portugueses colocam os manuais escolares no topo (4.05), remetendo os “interesses e necessidades dos alunos” para o final da tabela (2.83). A Irlanda é onde se atribui maior peso a este factor (4.15). Já no que respeita à influência dos manuais escolares, é a Albânia quem está à frente (4.40). Os outros factores constantes do questionário são os exames, a formação contínua dos professores e a sua formação inicial.
Dos inquéritos realizados aos professores dos 16 países, fica-se também a saber que a história do género é o tema a que se dá menos tempo e relevância na sala de aula. “Cerca de metade dos professores indicou que nunca ou só raramente abordam nas suas aulas questões da história do género ou ambiental e quatro em 10 referem o mesmo em relação à história das migrações e à história das minorias e culturas”, destaca-se. Entre os professores portugueses, 38% consideram este tema “muito importante”, o que os coloca em quinto lugar nesta tabela.
O principal obstáculo a um ensino de qualidade é, para os professores, o tempo atribuído à História nas matrizes curriculares (58%). Em Portugal, a redução da carga lectiva a esta disciplina acentuou-se a partir de 2018, com a implementação da flexibilidade curricular. Um inquérito realizado, em 2021, pela Associação de Professores de História mostrou que, em mais de metade das escolas, a carga horária reservada para a disciplina, no 3.º ciclo, era menos de metade do tempo recomendado.
Desinformação e "factos alternativos"
Outras preocupações comuns aos docentes de História incidem sobre os recursos pedagógicos existentes, seja pela sua “abundância excessiva” seja pela necessidade de formação específica sobre como seleccionar os materiais para utilização nas aulas, existindo ainda dúvidas sobre a “adequação dos manuais escolares”. Questiona-se, por exemplo, se estes incentivam o pensamento crítico e até que ponto incorporam a diversidade cultural, étnica, linguística e religiosa das sociedades actuais.
Na introdução ao relatório, o Conselho da Europa alerta para “a manipulação da História com fins políticos: apesar de ser “recorrente desde o seu estabelecimento como disciplina, a guerra da Rússia contra a Ucrânia veio mostrar as suas capacidades destrutivas, com o Governo russo a moldar uma história alternativa onde se nega a existência da Ucrânia como forma de legitimar a sua guerra de agressão”.
Deste modo, acrescenta-se, “a desinformação e os ‘factos alternativos’ não são só promovidos por indivíduos e grupos online, mas são também parte integrante de políticas estatais revisionistas que representam uma ameaça para a paz na Europa”.
Logo no título deste artigo, que é especificado no 1º parágrafo, percebe-se uma inconsistência: se o ME considera muito importante para o reforço da identidade nacional o ensino da História, porque tem vindo a reduzir drasticamente a sua carga horária? - em mais de metade das escolas, a carga horária reservada para a disciplina, no 3.º ciclo, era menos de metade do tempo recomendado.
Mais abaixo, fala da tal "identidade nacional" usando a expressão, "orgulho nacional", quando estas expressões não são sinónimas e, o facto de nos sentirmos portugueses -eu sinto- não resulta em sermos nacionalistas que são os que têm "orgulho nacional". É uma falsa inferência. Podemos sentir orgulho de certas acções dos portugueses e vergonha de outras, mas aceitar ambas como fazendo parte da nossa identidade em evolução.
Esta discrepância começa logo pelo tipo de pedagogia usada nas aulas. Os professores fazem notar a sua preferência pelos chamados “métodos de aprendizagem activos”, como a elaboração de projectos e de estudos com base em exemplos concretos, mas admitem que este tipo de prática pedagógica é a que “menos utilizam” em sala de aula, continuando a privilegiar a exposição oral que remete os alunos para um papel “mais passivo. - não seria razoável partir do princípio que os professores de história não são idiotas aos milhares para preferirem uma certa didáctica e usarem a oposta? Não seria razoável perguntarem-se se o próprio questionário foi elaborado de modo a ocultar premissas importantes?
Esta discrepância começa logo pelo tipo de pedagogia usada nas aulas. Os professores fazem notar a sua preferência pelos chamados “métodos de aprendizagem activos”, como a elaboração de projectos e de estudos com base em exemplos concretos, mas admitem que este tipo de prática pedagógica é a que “menos utilizam” em sala de aula, continuando a privilegiar a exposição oral que remete os alunos para um papel “mais passivo. - não seria razoável partir do princípio que os professores de história não são idiotas aos milhares para preferirem uma certa didáctica e usarem a oposta? Não seria razoável perguntarem-se se o próprio questionário foi elaborado de modo a ocultar premissas importantes?
Por exemplo, passa-me pela cabeça a hipótese de que, tendo o ME reduzido a carga horária da disciplina retirou aos professores a possibilidade desses métodos activos que requerem muito tempo: dar aos alunos um tema para investigar, ensiná-los a fazer uma pesquisa e praticar com eles dentro da sala de aula e depois dar-lhes tempo para que a façam e a apresentem (todos) oralmente, requer, se calhar, um mês de aulas ou mais, dada a carga horária reduzida, ao passo que expor o tema pode requerer uma aula apenas.
Quando se tem 90 minutos por semana ou menos com os alunos para trabalhar, não é possível fazer esses trabalhos e cumprir os programas. Às vezes as escolas organizam os 90 minutos semanas em duas aulas de 50 minutos, o que ainda é pior. Quando toca à entrada, até se chegar à sala, podem passar mais de 5 minutos (dependendo do tamanho da escola e da distância a que está a sala); depois, conseguir que os miúdos do básico entrem e se acalmem e se preparem para trabalhar são outros 5 minutos (por aquilo que vejo, estou a ser muito optimista). Portanto, em duas aulas de 50 minutos, perdem-se 20 minutos, na melhor das hipóteses - nem estou a considerar que há alunos que obrigam a interromper a aula, seja porque entram atrasados ou por comportamento.
Quando se tem 90 minutos por semana, gastam-se três semanas a fazer um teste: uma aula para tirar dúvidas e fazer exercícios de preparação para o teste, outra com o teste e outra com a correcção do teste. Onde é que os professores podem ter tempo para essas pedagogias activas com esta carga horária?
Portanto, este artigo com óbvias inconsistências e subtracção de informação importante para se compreender o problema, que confiança merece? Nenhuma.
O ensino da História é importante para a identidade nacional? Governo e professores em desacordo
Relatório sobre o ensino da História na Europa aponta o dedo à redução da carga lectiva desta disciplina. E alerta para a “manipulação” da História, que conhece agora um dos seus pontos altos.
O ensino da História é importante para a identidade nacional? Governo e professores em desacordo
Relatório sobre o ensino da História na Europa aponta o dedo à redução da carga lectiva desta disciplina. E alerta para a “manipulação” da História, que conhece agora um dos seus pontos altos.
Clara Viana
O “reforço da identidade nacional” é um dos resultados do ensino da História que o Ministério da Educação português entende ser “muito importante”. Dos 16 países que integram o Observatório do Ensino de História na Europa (OHTE, na sigla em inglês), esta opinião só é partilhada pelas autoridades educativas da Arménia, Grécia, Malta, Sérvia e Turquia.
Nos outros países os resultados da aprendizagem da disciplina classificados como “muito importantes” são o “reconhecimento da diversidade cultural das sociedades do passado”, “o desenvolvimento de competências para a cultura democrática” e o “reforço da aprendizagem crítica e das competências para o século XXI”.
Estes são resultados do primeiro relatório sobre o ensino da História do OHTE, divulgado nesta quinta-feira. Para este estudo foram feitos questionários às autoridades educativas e aos professores de História (6511 respostas, das quais 212 de docentes portugueses). Foram também constituídos 11 “focus groups”, que integraram 49 participantes de todos os países do Observatório, à excepção de Andorra.
Ao contrário das autoridades educativas portuguesas, os professores de História em Portugal são dos que atribuem menos relevância ao desenvolvimento do “orgulho nacional” em resultado das suas aulas. Apenas 17% lhe atribuem importância. Nesta menorização são acompanhados pelos docentes de Andorra, Chipre e Grécia.
Já no que respeita à construção de uma identidade europeia, 64% dos professores de História portugueses apontam-na como um dos resultados que gostariam de alcançar nas suas aulas, estando em linha com a maioria dos outros países.
Durante muito tempo apontada como a “matéria-prima” da História, a memorização de informação como datas e acontecimentos históricos, é entendida por muitos inquiridos como sendo “pouco relevante”, oscilando esta percepção entre os 46% registados em Espanha e os 5% da Turquia. Em Portugal alinham com este grupo 38% dos inquiridos.
Manuais valem mais do que os interesses dos alunos
No relatório alerta-se, contudo, que “parece existir uma divergência acentuada entre o que os professores entendem como pertinente e o que descrevem como sendo a sua prática em sala de aula.”
Esta discrepância começa logo pelo tipo de pedagogia usada nas aulas. Os professores fazem notar a sua preferência pelos chamados “métodos de aprendizagem activos”, como a elaboração de projectos e de estudos com base em exemplos concretos, mas admitem que este tipo de prática pedagógica é a que “menos utilizam” em sala de aula, continuando a privilegiar a exposição oral que remete os alunos para um papel “mais passivo”.
E que factores têm mais influência na prática de ensino? Colocados perante uma escala de 1 (menos influente) a 5 (mais influente), os professores portugueses colocam os manuais escolares no topo (4.05), remetendo os “interesses e necessidades dos alunos” para o final da tabela (2.83). A Irlanda é onde se atribui maior peso a este factor (4.15). Já no que respeita à influência dos manuais escolares, é a Albânia quem está à frente (4.40). Os outros factores constantes do questionário são os exames, a formação contínua dos professores e a sua formação inicial.
Dos inquéritos realizados aos professores dos 16 países, fica-se também a saber que a história do género é o tema a que se dá menos tempo e relevância na sala de aula. “Cerca de metade dos professores indicou que nunca ou só raramente abordam nas suas aulas questões da história do género ou ambiental e quatro em 10 referem o mesmo em relação à história das migrações e à história das minorias e culturas”, destaca-se. Entre os professores portugueses, 38% consideram este tema “muito importante”, o que os coloca em quinto lugar nesta tabela.
O principal obstáculo a um ensino de qualidade é, para os professores, o tempo atribuído à História nas matrizes curriculares (58%). Em Portugal, a redução da carga lectiva a esta disciplina acentuou-se a partir de 2018, com a implementação da flexibilidade curricular. Um inquérito realizado, em 2021, pela Associação de Professores de História mostrou que, em mais de metade das escolas, a carga horária reservada para a disciplina, no 3.º ciclo, era menos de metade do tempo recomendado.
Desinformação e "factos alternativos"
Outras preocupações comuns aos docentes de História incidem sobre os recursos pedagógicos existentes, seja pela sua “abundância excessiva” seja pela necessidade de formação específica sobre como seleccionar os materiais para utilização nas aulas, existindo ainda dúvidas sobre a “adequação dos manuais escolares”. Questiona-se, por exemplo, se estes incentivam o pensamento crítico e até que ponto incorporam a diversidade cultural, étnica, linguística e religiosa das sociedades actuais.
Na introdução ao relatório, o Conselho da Europa alerta para “a manipulação da História com fins políticos: apesar de ser “recorrente desde o seu estabelecimento como disciplina, a guerra da Rússia contra a Ucrânia veio mostrar as suas capacidades destrutivas, com o Governo russo a moldar uma história alternativa onde se nega a existência da Ucrânia como forma de legitimar a sua guerra de agressão”.
Deste modo, acrescenta-se, “a desinformação e os ‘factos alternativos’ não são só promovidos por indivíduos e grupos online, mas são também parte integrante de políticas estatais revisionistas que representam uma ameaça para a paz na Europa”.
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