November 20, 2023

Não deixar à justiça o que é da justiça

 


Não se consegue abrir um jornal sem ataques ao MP. Apesar do PM dizer desde há anos que "à justiça o que é da justiça", nem ele nem os seus companheiros de amiguismo deixam que a justiça trabalhe. Confesso que não sei como funciona, por dentro, a orgânica dos casos: quem acusa, quem faz a instrução, que meios usam, quais são os critérios para constituir alguém arguido, etc. Sei alguma coisa do que vou lendo mas é insuficiente para compreender os meandros das situações.

Porém sei ler e ajuizar dos argumentos que se atiram à praça pública. (em privado calculo que seja um rodopio de telefonemas de gente que "está-se a cagar para o segredo de justiça" e tenta saber quem é quem e a quem é que pode dar uma 'palavrinha' para que tudo se esfume.)

Em primeiro lugar, a culpa desta crise não é do MP, mesmo que tenha cometido algum erro, mas do tráfico de influências (de que o próprio PM se gabou publicamente), da corrupção, do clientelismo, da incompetência negligente e do estado caótico e podre ao mais alto nível da governação, que já motivou a saída de 14 membros do governo.

Em segundo lugar, percebo que atiram cá para fora informação aos pedacinhos de modo a que as coisas apareçam de certo modo. Por exemplo, fala-se que Galamba teve almoços e jantares pagos, desde refeições de 30 euros por cabeça a refeições de 300 euros por cabeça, mas não se diz se foram dois ou se o senhor em questão nunca pagou uma refeição do seu bolso e, portanto, está sempre ao serviço de alguém. Quem diz isso, diz muitos outros aspectos que não sabemos porque não temos acesso a toda a informação, o que me parece ser propositado (estas pequenas fugas cirúrgicas), uma maneira de influenciar a opinião pública. 

Depois, aos políticos, o tráfico de influências parece sempre pouca coisa, uma perk que vem com o cargo, como ter carro de 100 mil euros pago por nós ou comer lagosta a 5 euros no restaurante da AR. Quem não se lembra de Centeno, acabado de chegar ao cargo de ministro das finanças, dar ordem para que o Benfica lhe oferecesse bilhetes para si e família e aparecerem políticos de todos os cantos políticos a dizer que isso não tem importância nenhuma, é normalíssimo? Quem não se lembra do indivíduo do Benfica que está acusado de crimes ter usado o PM para apoio da sua campanha? Favores com favores se pagam...

Pela parte que me cabe, sabendo nós do historial do PS desde Sócrates no que toca a corrupção, amiguismo, aproveitamento de cargo público, traficância de influências, nomeação de primos, entrega de obras de milhões a familiares, promiscuidade com consultores, etc., mesmo sem saber ao certo o que está neste processo (que ainda nem chegou ao lítio) a minha confiança vai para os magistrados e não para estes políticos que já mostraram o que são. Costa não teve pejo em destruir publicamente um homem, fazendo justiça de linchamento público, a pedido de Galamba. Como diz Kasparov, quando um político te mostra como é, acredita.


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