November 06, 2023

Médicos e professores, duas profissões em sofrimento


 

Médicos e professores, duas profissões em sofrimento

Como resultado deste desencantamento que leva anos, a falta de professores sente-se hoje nas escolas, como a de médicos se sente nas urgências dos hospitais e nos centros de saúde.

Sónia Sapage

Apenas 5% dos jovens licenciados anualmente vêm de cursos na área da Educação. A percentagem de professores com menos de 30 anos não chega a 2%. Cerca de 3500 docentes reformam-se até ao final de 2023. E um estudo de 2021 revelou que, até 2030, continuará a ser preciso contratar mais de 34 mil professores para o ensino público.

Como resultado deste desencantamento que leva anos, a falta de professores sente-se hoje nas escolas, como a de médicos se sente nas urgências dos hospitais e nos centros de saúde. Mas, entre as duas profissões que estão há anos em luta pelos seus direitos laborais, persiste uma grande diferença: ser médico seria um projecto de vida para um número mais elevado de jovens, não fosse o caso de os numerus clausus serem tão limitados e as médias de entrada na universidade tão altas.

Em parte, a falta de médicos no SNS acontece porque, apesar dos problemas evidentes com que estes profissionais se debatem no sector público (salários baixos, excesso de doentes e horas de serviço), há um sector privado em crescimento que dá condições consideradas mais apetecíveis — até quando? — e que captam o interesse dos mais jovens e não só, rivalizando com o SNS e canibalizando-o. Mas esta é apenas uma visão parcial da questão.

Há quase 60 mil médicos em Portugal e a percepção geral é a de que não são suficientes para as necessidades e estão a ser levados ao limite. É uma boa estratégia não fechar a porta aos representantes da classe e continuar a conversar sobre as formas de melhorar as condições salariais dos que estão neste momento a exercer medicina, de valorizar as suas carreiras e de dar ferramentas ao sector público para concorrer com o privado, ao nível da contratação. Só isso contribuirá para resolver alguns dos problemas no imediato

Mas é preciso precaver o futuro. A classe médica, assim como a dos professores, precisa de se manter viva e de aumentar. E ainda que não aumentar o número de médicos (e de escolas de Medicina) signifique mais poder negocial para os que existem actualmente, a longo prazo pode ser um caminho perigoso.


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