November 07, 2023

Chefe de gabinete de Costa e seu melhor amigo detidos

 



O chefe de gabinete de Costa, o seu melhor amigo e um autarca. Quem são os detidos na investigação sobre lítio e hidrogénio verde?

Marta Leite Ferreira

Vítor Escária é o gestor das pastas quentes de Costa e Lacerda Machado é o melhor amigo do governante. São dois dos detidos na investigação sobre o lítio, além do autarca de Sines e dois executivos.

Não é a primeira vez que o chefe de gabinete de António Costa enfrenta a Justiça. Vítor Escária era assessor económico do primeiro-ministro (funções que também exerceu no executivo liderado por José Sócrates) quando, em 2017, se demitiu após ter sido constituído arguido no caso das viagens pagas pela Galp para assistir a jogos do Euro 2016 — o chamado Galpgate.

Agora é também um dos cinco detidos nas investigações em torno dos negócios sobre a exploração de lítio e hidrogénio verde, que motivou buscas em várias localizações (incluindo a residência oficial do primeiro-ministro e gabinetes ministeriais). A ele juntaram-se Diogo Lacerda Machado, Nuno Mascarenhas e dois administradores da Start Campus. João Galamba foi entretanto constituído arguido

Vítor Escária regressou oficialmente a São Bento três anos depois do Galpgate, após ter pago uma multa de 1200 euros ao Estado. Mas nunca deixou de ser próximo de António Costa: em 2018, foi consultor do primeiro-ministro durante as negociações do Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia. Em 2020, esteve com o governante numa reunião preparatória do Conselho Europeu.

Licenciado em Economia pelo ISEG, onde era o melhor aluno do curso, Vítor Escária foi descrito como leal, frontal "até de forma chocante", pragmático, capaz de "pensar em directo" e com um sentido de humor peculiar: chamou Troika à cadela que adoptou a 1 de Abril de 2011, ano em que participava nas negociações sobre a ajuda externa a Portugal

A proximidade com António Costa adensou-se quando trabalhou com o então autarca de Lisboa num projecto que pretendia preparar a capital para o novo quadro comunitário — a missão Lisboa 2020. Depois disso, sem ter afiliação ao partido, ajudou Costa (enquanto secretário-geral do PS) a criar o programa eleitoral socialista. Seguiu então para São Bento.

Diogo Lacerda Machado, o homem de confiança de Costa

Orbita o executivo de António Costa há longos anos e é nas suas mãos que o agora primeiro-ministro tem colocado algumas das pastas mais sensíveis do Governo — as negociações da TAP, a busca de uma solução para os lesados do BES e a mediação das divergências entre os principais accionistas do BPI. Agora é um dos detidos no caso da exploração de lítio em Montalegre.

A relação com o primeiro-ministro começou em 1981, nos tempos da universidade, e evoluiu a ponto de Lacerda Machado ser padrinho de casamento de Costa. Quando o seu afilhado se tornou ministro da Justiça de Guterres, Lacerda Machado foi secretário de Estado — e foi nessa qualidade que herdou a responsabilidade de gerir algumas das pastas mais quentes.

Antes ainda de ter entrado na equipa de António Costa, Lacerda Machado foi um dos assessores do advogado Magalhães e Silva, que se tornaria em 1988 secretário-adjunto para a Administração e Justiça de Macau. O nome foi sugerido pelo próprio Costa, a par de outros dois: Eduardo Cabrita e Pedro Siza Vieira

Conhecido como "o melhor amigo do primeiro-ministro", Diogo Lacerda Machado já afirmou que essa ligação tem-no "prejudicado mais do que beneficiado". Aliás, a proximidade entre os dois foi fonte de estranheza para a oposição ao PS em 2016, quando prestou consultoria estratégica e jurídica ao Governo.

O chefe de gabinete de Costa, o seu melhor amigo e um autarca. Quem são os detidos na investigação sobre lítio e hidrogénio verde?
Perante as dúvidas sobre onde fica a fronteira entre a relação pessoal e profissional entre os dois, António Costa esclareceu que Lacerda Machado iria ganhar 2000 euros brutos mensais (mais IVA) por serviços de "assessoria no âmbito de processos negociais, incluindo mediação e conciliação".

Em entrevista, o primeiro-ministro já tinha desabafado, em resposta às dúvidas sobre o envolvimento de Lacerda Machado nas pastas sensíveis do Governo, que Lacerda Machado o estaria a ajudar naquelas pastas sensíveis enquanto seu "melhor amigo" — uma expressão que o consultor considerou ter dado azo a um "sarilho político que era provavelmente inútil"

Nuno Mascarenhas, o autarca de Sines

Na Câmara Municipal de Sines, as tardes de terça-feira estão reservadas aos atendimentos por marcação pelo presidente da autarquia, o socialista Nuno Mascarenhas. Esta semana, as visitas começaram mais cedo — e não foram as habituais: o edifício foi alvo de buscas pelo Ministério Público. O autarca foi detido.

Nuno Mascarenhas está na Câmara Municipal de Sines desde 1998, onde entrou enquanto vereador. Por esta altura, depois de ter subido à presidência em 2013, vai já no terceiro mandato enquanto líder da autarquia. É o responsável por áreas como a gestão financeira, projectos subjacentes a investimentos e a Divisão de Planeamento e Gestão Estratégica.

O autarca de Sines é também presidente da Comissão Permanente do Conselho Regional da CCDR-A (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo), vice-presidente do Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral e líder do Conselho de Administração do Sines Tecnopolo.

Em 2021, quando foi reeleito, Nuno Mascarenhas considerou que existiam "perspectivas muito boas" para o investimento no hidrogénio em Sines: "Ao nível dos grandes investimentos as perspectivas são muito boas para o concelho de Sines, quer do ponto de vista do hidrogénio e dos investimentos na produção de energia a partir de fontes renováveis, como a eólica e solar", disse à Rádio M24.


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