October 16, 2023

Não percebo esta estratégia não-produtiva

 


@antonioguterres

As we are on the verge of the abyss in the Middle East, I have two humanitarian appeals:


To Hamas, the hostages must be immediately released without conditions. 

To Israel, rapid & unimpeded access for humanitarian aid must be granted for the sake of the civilians in Gaza.
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Faz-me lembrar aqueles professores que começam o ano a dizer aos alunos, 'esta disciplina é muito difícil e vão ter exame e se não estudam muito não vão conseguir, vai ser uma catástrofe, ninguém vai conseguir passar'. Os miúdos ficam logo assustados e com a ideia de que o empreendimento, no geral, é tão difícil que é praticamente inalcançável. Os que têm problemas de auto-confiança ou os que vêem mal preparados desmotivam-se logo ali. É uma estratégia não-produtiva.

É o que me lembram estas declarações catastrofistas de Guterres a propósito de tudo e de nada e de igual modo, seja mesmo uma questão grande ou seja pequena, tudo são abismos. Isto não é produtivo, não motiva para a acção positiva. 
Queremos saber o que a ONU sabe dos assuntos e o que está a pensar fazer e não se pensa que vem aí uma catástrofe, o que só contribui para que a tarefa pareça impossível. Ora, como dizia Hanna Arendt, uma das características da acção humana é o facto dela ser imprevisível e isso significar, também, que é aberta e que podemos sempre reinventar um outro caminho humano. A ONU deve ser uma organização de esperança e de abertura de caminhos humanos mais positivos que os anteriores.
O seu cargo é um cargo de buscar soluções através de convergências, de influenciar compromissos e soluções e a sua credibilidade, penso, vem em grande parte da coerência da sua acção. A voz das NU não pode ser uma voz passiva de moralismos e avisos catastrofistas. Por exemplo, ao mesmo tempo que fala a favor dos direitos humanos em Israel, mantém o Irão no conselho de segurança dos direitos humanos das NU e não age relativamente a isso. É uma incoerência que descredibiliza a acção das NU.
Enquanto falava de abismos, o secretário americano conseguiu que o Egipto abrisse a fronteira para fazer sair estrangeiros de Gaza e entrar ajuda humanitária e conseguiu que Israel voltasse a ligar a água para a faixa de Gaza. Ah, podem dizer, 'mas o secretário americano tem um poder real que o secretário-geral das NU não tem'. Mas a questão é que tem, se o quiser e souber usar. Em vez de usar adjectivos alarmistas e catastrofistas, diga os factos e as soluções positivas que está a tentar encontrar. 

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