BODAS VERMELHAS
PEDRO HOMEM DE MELO
Não há ciência: há segredo.
E a eternidade é um minuto
Não há silêncios: há medo.
Não há lágrimas: há luto.
Triste, triste, triste, triste
Tristeza de entristecer!
Dança meu bem! Que o prazer
Só ele e mais nada existe.
Olha os palácios escuros
Em que as salas são cavernas!
Olha os jardins! Troncos, muros,
Raízes fundas, eternas…
Olha tanta vida bela!
Olha tanta mocidade
Que nunca foi à janela
Ver se o dia era verdade!
Ó ruas negras sem luz!
Ó noites sem maresia!
Ó terra áspera e fria
Que tudo a cinzas reduz!
E aquela pena apressada
Pior que a treva e que a neve
Que antes que a morte a leve
Escreve e não conta nada?
Que disse a bruxa a teu pai?
Ao longe cantam… Então,
Ergue flâmulas e vai
Atrás daquela canção!
Apenas não me enganaram
As vozes dos meus sentidos
Todos os mapas ficaram
Com nomes desconhecidos.
Mar de Java? Mar Egeu?
Alcácer? Damão e Diu?
Irmãos! Quem sois? Quem sou eu?
Tive uma filha e morreu.
Tive um amigo e mentiu.
As estrelas são estrelas
Não porque assim o quiseste.
As estrelas são estrelas
Como o cipreste é cipreste.
Quantas contaste? – Nenhuma.
Quem tas apontou? – Ninguém.
Dança! Dança! Enquanto a bruma
Te esquecer… Dança meu bem!
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