October 16, 2023

Há mais de 50 mil alunos ainda sem professores




E não são mais porque as escolas optaram por encher os professores das escolas com horas/turmas extraordinárias, sabendo que se pusessem a concurso um horário com duas turmas ou três não arranjavam ninguém. Com algumas dessas turmas extraordinárias vem, às vezes, o trabalho de DT. Mesmo nos horários que foram postos a concurso, enquanto não há professor, um outro tem que fazer o trabalho de DT do que falta. Isto que dizer que milhares de professores que já têm horários sobre-carregados, estão ainda mais sobre-carregados do que o costume. É mais uma vitória da maioria absoluta socialista de Costa.


Uma vergonha Nacional

Pedro Patacho

Para muitos dos docentes que vão sendo colocados, o futuro é uma tortura. A de trabalhar e ser pobre. Percorrer quilómetros, viver em quartos, pensões, do favor de amigos, longe da família e sem a dignidade de ter o mínimo de conforto e tranquilidade com o resultado do esforço do seu trabalho. Um desgaste emocional brutal. Uma vergonha nacional.

O salário dos professores portugueses em início de carreira é hoje inferior àquele que tinham em 2014 (corrigida a inflação). Aprovou-se em 2023 o novo regime de aceleração da progressão na carreira, mas mantiveram-se os travões no acesso ao 5.º e 7.º escalões. Além disso, os impactos desta medida serão muito diluídos no tempo, como já demonstrou a Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE). Cerca de metade dos 64 316 docentes abrangidos só a sentirão entre 2026 e 2033. E nessa altura estarão próximo da reforma, com uma idade média de 61 anos. Tudo isto não faz sentido.

A rápida progressão na carreira para os jovens professores é que tornaria a profissão atrativa, mesmo que o salário de entrada fosse baixo. Juntando isto à teimosa e injusta recusa de devolução faseada do tempo de serviço aos professores, que a ANDE já demonstrou ser possível até 2030 sem prejuízo das contas públicas, podemos dizer que se mexeu o suficiente para que tudo fique na mesma. As greves e a instabilidade vão continuar.

Quando as aulas arrancaram, em meados de setembro, cerca de 80 mil estudantes não tinham professor a uma ou mais disciplinas. No final do mês seriam cerca de 60 mil. Mas como o Ministério da Educação não divulga o número de pedidos de horários apresentados pelas escolas, não se consegue perceber se as necessidades estão de facto a diminuir acentuadamente ou se há pedidos das escolas que ficam sistematicamente sem resposta no concurso e que transitam de semana em semana. É o novo normal.

Perante a falta de professores, as soluções avançadas são reduzir as horas de formação dos futuros docentes, deixar de ser condição única para acesso aos mestrados profissionalizantes a detenção de uma licenciatura em Educação Básica, remunerar estágios e atirar rapidamente para as escolas os jovens professores, sem a prática supervisionada nos termos em que agora acontece. Outra medida é a abertura das portas da profissão a candidatos com outras formações. Andamos de cavalo para burro. Só neste ano letivo, já entraram nas escolas 1268 docentes não-profissionalizados. É o regresso à década de 80 do passado século XX. Vale a pena perguntar onde andam os cerca de 30 mil professores que foram afastados do sistema quando as "inteligências" nacionais diziam que tínhamos professores a mais. Não estariam muitos destes docentes disponíveis para regressar à profissão das suas vidas se existisse uma revisão séria da carreira docente?

O que temos visto nos últimos anos torna bem evidente que o setor da Educação não é uma prioridade política em Portugal. Como noutras áreas, o país não tem planeamento de médio-longo prazo, corre atrás do prejuízo e decide mal. No caso da Educação, como vemos, decide contra os professores e contra as famílias, que observam, de dia para dia, a diminuição acentuada da qualidade do ensino. Não admira que cresça a instabilidade, a agressividade e violência nas escolas, a desmotivação, o cansaço, o desalento, tanto de professores, como de alunos. Repito: uma vergonha nacional!



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