Falar da Arménia, uma questão de justiça
Margarita Correia
A língua arménia constitui um ramo independente da família das línguas indo-europeias. A origem do arménio perde-se na noite dos tempos, mas os seus primeiros vestígios estão datados do IV milénio a.C. Em 405, São Mesrobes Mastósio criou o alfabeto arménio, constituído por 36 carateres, em uso até hoje, que constitui um dos grandes símbolos nacionais do povo arménio. A língua arménia moderna apresenta duas variedades linguísticas estandardizadas, mutuamente inteligíveis: o arménio oriental, que constitui a língua oficial da Arménia e é também falado na Geórgia, e o arménio ocidental, outrora dominante, que é hoje falado por pequenas comunidades na Turquia, Síria, Líbano, assim como pela diáspora, constituindo uma língua ameaçada.
Embora a sociedade portuguesa muito deva a um senhor chamado Calouste Sarkis Gulbenkian (arménio nascido em 1869 (em Uscudar, perto de Istambul, então parte do Império Otomano) e à Fundação que nos legou, em Portugal o silêncio sobre a Arménia, a sua história, cultura e língua é ensurdecedor. A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) teve, no final da década passada, cursos presenciais de língua e cultura arménia, mas cancelou-os em 2021, anunciando no seu site oficial, cursos assíncronos online, de oito ou 16 semanas, fornecidos pelo Armenian Virtual College, a começar no primeiro semestre de 2022. Coincidência ou não, estes cursos começaram ao mesmo tempo que António Feijó, antigo diretor da FLUL, se tornou presidente da Fundação Calouste Gulbenkian. Atualmente, quem quiser estudar presencialmente língua e cultura arménias terá de o fazer na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (UNL).
Oxalá a Arménia deixe de ser falada só por causa de desgraças, como o recente êxodo da população de Nagorno-Karabakh, e se torne assunto interessante entre nós. Seria no mínimo justo.
Estima-se que a diáspora arménia, presente em mais de 100 países, seja de mais de oito milhões de pessoas."
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