October 08, 2023

Esta é uma guerra perdida?



E vamos retroceder aos anos 80, porque a nossa 'elite', ainda nem sequer chegou ao patamar de perceber a importância da educação e a diferença, para os alunos, entre ter um professor formado no assunto que ensina e com formação pedagógica para trabalhar com crianças/adolescentes e um curioso qualquer que nem está por dentro dos temas que é suposto ensinar nem tem estratégias educadas e adequadas para ensinar nestas faixas etárias.
Penso que esta posição do governo contra os professores é um problema geracional e enquanto tivermos esta geração nos governos esta é uma guerra perdida.

Os professores têm de voltar a ocupar o seu lugar, “já”




Ser professor é um chamamento! Os professores têm de ocupar novamente um lugar prestigiante na sociedade.

Daniela Lima, Observador

Diz a sabedoria popular que saber esperar, é uma grande virtude. Sendo eu uma pessoa emotiva por natureza, faço o exercício de explorar de forma sistemática um estado de tranquilidade emocional que aplaque a minha revolta contra as injustiças. Sei que fazem parte da vida, mas ainda assim, considero um atentado contra a dignidade humana a forma como se têm vindo a degradar as condições de vida e a carreira dos profissionais em Portugal. 
Hoje, quero refletir em específico sobre as condições e processos de trabalho dos professores. Porque ser professor hoje não é atrativo, não é prestigiante e expõe os profissionais a uma miríade de riscos e desafios que conduzem inevitavelmente a situações de elevados níveis de stress, de ansiedade, que conduzem invariavelmente a estados depressivos, ao síndrome de Burnout e à doença mental.

Cumpri o meu objetivo de me distanciar no tempo, tendo em consideração que o arranque do ano letivo já “vai longe”. Mas, ainda assim, permitam-me caracterizar toda esta situação como dramática, e que inclusive, já se perpetua há imensos anos. 
Esta tendência para a crescente degradação das condições de vida dos professores e, consequentemente das suas famílias, associada ao aumento do nível de vida, à crise na habitação e ao encarecimento dos combustíveis conduzem estes profissionais a situações impossíveis, desumanas e desesperantes. 
Este desespero tem vindo a ser denunciado através de vários exemplos amplamente difundidos em vários órgãos de comunicação social: “um casal de professores que está a 300 kms de casa faz “sacrifício” para manter a profissão”; “… o professor Rui Garcia que dorme no carro e faz a sua higiene e as refeições na escola”; a professora Maria Sanches considera que “É um prémio que dou a mim mesma”, “aos 68 anos entrar para os quadros”, e “O ano letivo começa mal e provavelmente será um dos piores.” “Mais de 92 mil alunos começam as aulas sem professores” (fonte: comunicação social portuguesa).

Parece-me que estamos na presença de um flagelo social. Porquê? Porque coloca em perspetiva a sustentabilidade da nossa sociedade. Os professores são os artesãos que moldam o futuro. Se os professores estão doentes são também as crianças e jovens deste país que ficam com o seu futuro comprometido. Os dados indicam que uma importante fatia dos professores em Portugal adoeceu a trabalhar, porque não existe suporte social para promover as condições de trabalho adequadas a estes profissionais em específico. 
O relatório Eurydice de 2021, publicado pela Comissão Europeia, compara um conjunto de 38 países da Europa, incluindo os 27 estados-membros da União Europeia (UE), no que respeita às carreiras e ao bem-estar dos docentes. Conclui que quase 50 % dos professores declaram sentir entre “algum stress” ou “muito stress” no trabalho. 
Na Hungria, em Portugal e no Reino Unido (Inglaterra), a percentagem de professores que refere sentir “muito” stress no trabalho é o dobro da UE. Portugal lidera a tabela entre os professores do 3º ciclo do ensino básico, onde cerca de 88% dos profissionais nacionais refere sentir “bastante stress” e “muito stress” no trabalho. 
Quanto aos fatores de stress, os professores destacam: (1) o peso das tarefas administrativas, (2) o volume de trabalhos de alunos para corrigir, (3) o facto de serem responsabilizados pelos resultados dos alunos, (4) a manutenção da disciplina em sala de aula, (5) a necessidade de responder às exigências das entidades reguladoras e (6) as sucessivas reformas educativas.

A educação é um eixo estratégico para o futuro porque capacita os jovens a serem críticos, a refletirem com rigor e a serem mais justos e equilibrados. E nós precisamos “desesperadamente” de “reter massa critica” em Portugal, eles são o nosso futuro! Contudo, é necessário preparar o futuro porque percebemos as dificuldades que as novas gerações enfrentam devido à multiplicidade de fenómenos que se precipitam em catadupa quase diariamente. 
Exige-se dos professores que tenham a capacidade de abraçar todos estes desafios, mas com que recursos? E a quantidade de professores que “batem” com a porta anualmente e abandonam a docência? E quem serão os jovens que, face ao panorama geral, “terão a coragem de arriscar” e abraçar uma carreira ao nível da docência em Portugal? Muitas questões, mas todas elas de resposta muito óbvia!

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