September 20, 2023

Não percebo. Não faz duas semanas que o ME dizia que estava tudo a correr às mil maravilhas



Falta de professores. “A minha filha esteve das 8h15 às 14h sem aulas”


Há alunos em escolas de Lisboa que ainda não têm professores a cinco, seis disciplinas. Os pais preocupam-se com “atraso” da pandemia. Directores dizem que é preciso “dignificar a carreira docente”.

Débora Pena “só teve aulas das 11h20 às 12h20”. Esta terça-feira, deveria ter tido aulas de Inglês, Português, História, Matemática e Educação Física, mas só teve estas duas últimas. “De momento, a minha filha só tem professores de Matemática, Educação Física, Físico-Química, Francês, Ciências e Geografia”, diz a mãe desta aluna do 7.º ano da Escola Básica Pedro de Santarém, que pertence ao Agrupamento de Escolas de Benfica.

No mesmo ano, mas na Escola Secundária Vergílio Ferreira, também em Lisboa, o cenário é semelhante. “Ontem [segunda-feira], a minha filha não teve Matemática porque não há professor. Não teve Educação Física porque também não há professor. Não teve Geografia porque também não há professor. Esteve das 8h15 até às 14h sem aulas”, diz Ana Guedes, mãe desta aluna do 7.º ano.


“A indicação que deram aos miúdos é que não irão ter, pelo menos, até ao final de Novembro", relata esta encarregada de Educação.

Por agora, a dificuldade tem sido conseguir professores para as disciplinas de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), História, Português e outras línguas. E chega mais uma preocupação. “Até aqui temos estado a colocar professores que estão em Lisboa. Agora começamos a colocar professores que concorrem de outras zonas, que não a cidade de Lisboa. O que é que acontece? Acabam por ser professores mais jovens, que estão em início de família, com filhos pequenos. A grande preocupação é como é que vêm cumprir o horário às 8h, vindos não sei de onde, e têm de preparar os filhotes para os deixar na escola. Isto vai fazer com que alguns rescindam o contrato”, antecipa.

Esta encarregada de educação faz questão de frisar que “o problema está a montante” das escolas. “Os agrupamentos são o fim da linha, ficam com o problema nas mãos, mas não são eles que o criam. No meu ponto de vista, a falha principal é do Ministério da Educação, do Governo. No ano passado os professores passaram todo o ano a reivindicar melhores condições de trabalho, que não foram atendidas. Neste momento, o que está a acontecer em Lisboa, que é um caso particularmente grave, é que o vencimento da maioria dos professores não lhes permite arrendar um quarto”, nota Carla Galvão.

Entre saídas para aposentações e a dificuldade em captar jovens, a falta de professores, diz, é um fenómeno que tem de “ser atacado”. “É preciso dignificar a carreira docente. É preciso pensar em apoios à deslocação para os professores", aponta. E pensar na sua reivindicação central, a recuperação dos seis anos, seis meses e 23 dias de serviço congelado. Para isso, diz, é essencial que o Governo reabra o processo negocial. “Acho que se isso acontecesse, os sindicatos ficariam mais calmos, porque os professores perceberiam que estavam a tratar a sua vida com justiça. Neste momento, não se vê uma luz ao fundo do túnel. Isso não é bom para as escolas, porque não traz paz, nem traz estabilidade”, diz.


(Excertos)

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