August 24, 2023

O roubo do British Museum

 


Nos últimos anos, o Museu Britânico - e outras instituições do Reino Unido - têm sido alvo de uma pressão crescente no sentido de devolver objectos das suas colecções aos países de origem. Um dos exemplos mais mediáticos é o das esculturas do Pártenon - os Mármores de Elgin, como são conhecidos, que estão expostos no British Museum desde o século XIX, quando o embaixador britânico Lord Elgin pediu à autoridade Otomana, que então ocupava Atenas, para estudar e copiar as esculturas e aproveitou para, em vez disso, removê-las e levá-las para Inglaterra com o argumento de que tinha a autorização dos ocupantes.

A sua coleção de artigos (roubados) foi transportada para o Reino Unido e em 1816 uma comissão do Parlamento inglês considerou tudo muito bem e legal. As esculturas do Pártenon (feitas entre 447 a.C. e 432 a.C. para decorar o Partenon) foram transferidas para o Museu Britânico através de uma lei do Parlamento. O Museu defende a sua manutenção em Inglaterra apelidando o Museu Britânico de "museu da nossa humanidade comum".

Mais de quatro milhões de pessoas visitaram o Museu Britânico em 2022 e os administradores acreditam que as esculturas do Pártenon são "uma parte significativa" da história contada pelo museu "das realizações culturais em todo o mundo, desde o início da história humana, há mais de dois milhões de anos, até aos dias de hoje. O Museu Britânico cuida das esculturas do Pártenon há gerações e todos os anos milhões de pessoas de todo o mundo podem ver estes tesouros gratuitamente".

Um porta-voz do Ministério da Cultura, dos Media e do Desporto disse à BBC que o Governo "não tenciona alterar a lei" para permitir um regresso permanente. Existe um Projecto Partenon que quer trocar as esculturas do Partenon por artefactos gregos do Museu da Acrópole nunca expostos fora da Grécia, como a Máscara de Agaménon, com 3600 anos, por exemplo ou o Menino Kritios.

A Máscara de Agaménon

Há 200 anos que os gregos pedem a devolução das esculturas e os britânicos recusam com pretextos de estarem mais seguras no Museu Britânico e de as terem trazido legalmente porque os ocupantes disseram ok. Ora, este é o argumento mais esfarrapado que já se ouviu. Seria o mesmo que defender que foi legal trazer obras de Paris ou da Holanda durante a Segunda Grande Guerra porque os ocupantes nazis deram autorização.

Eu não defendo que se devolvam todas as obras que ao longo da história foram roubadas em ocupações e guerras. É um trabalho impossível, dado todas as culturas se terem apropriado da arte de outras culturas. Contudo, defendo que devem ser devolvidas todas as obras emblemáticas das culturas e civilizações. Imagine-se desmontarem a Torre de Belém e levarem-na para outro país ou os Painéis de São Vicente ou a Janela Manuelina de Tomar e um português ter de viajar para outro país para ter experiência e tomar contacto com as grandes obras emblemáticas da sua própria história e cultura.

Ora, as esculturas do Partenon, que foram retiradas do friso do edifício, são uma obra emblemática da cultura e civilização gregas e devem estar na Grécia, onde pertencem. Também é absolutamente vergonhoso que o mesmo Lord Elgin tenha roubado uma das seis cariátides do Pórtico do Erecteion, conhecidas em todo o mundo e que o Museu Britânico a tenha exposta, separada das suas cinco irmãs gregas que estão no Museu da Acrópole. Lorde Elgin era um ladrão de arte, é preciso dizê-lo e já na altura isso se sabia pois o assunto da legalidade do roubo até foi ao Parlamento inglês. Portanto, não podemos dizer que no contexto da época não era roubo. Infelizmente o Parlamento inglês na época foi atacado de cupidez e validou o roubo. Porém, está a tempo de fazer o que é correcto.

Vários museus europeus têm devolvido obras e artefactos emblemáticos aos seus países de origem, o que está certo.

Porque razão a Pedra de Roseta está em Inglaterra? Por que razão o busto de Nefertiti está na Alemanha? Porque razão os Bronzes do Benin estão em França?

O Papa Francisco, por exemplo, devolveu, há pouco tempo, três fragmentos de esculturas que decoravam originalmente o Pártenon e que se encontravam na coleção do Vaticano há mais de dois séculos. Doou as esculturas ao líder espiritual da Grécia, o Arcebispo Ieronymos II, chefe da Igreja Ortodoxa Grega, que por sua vez as deu ao Museu da Acrópole. 

Isto é o que está certo e todos os argumentos a defender roubos de arte como coisa normal não têm lugar neste tempo.

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