Qualquer coisa que comi misturada com o excesso de calor pôs-me num estado de náuseas, fraqueza e dores. É como se me tivessem dado uma sova. Certamente que há trinta anos ou até menos, uma coisa destas passava-me de um dia para o outro, mas agora já não é assim e é o terceiro dia em que estou para aqui prostrada, a arrastar-me sem conseguir sair de casa e a dormir 4 ou 5 horas por noite. Se estivesse a trabalhar estava a faltar porque não é possível aguentar uma aula de 90 minutos neste estado. Pode dar-se aulas com dores -já fiz isso tantas vezes nestes últimos anos...- mas não com esta sensação de ir vomitar e/ou desmaiar. Dar aulas a adolescentes obriga a uma grande energia física, emocional e intelectual. São 90 minutos muito intensos e que requerem grande robustez. Nestes últimos anos já me aconteceram várias situações nas aulas sem que os alunos alguma vez se apercebessem. No ano lectivo que passou, por duas vezes senti uma dor súbita e tão violenta no que me pareceu ser o coração, como se alguém tivesse disparado uma bala à queima-roupa. Foi tão repentina e tão violenta que da primeira vez, não estando à espera, até me encolhi. Vale que das duas vezes não era eu que estava a falar e os alunos nem deram por isso. Embora tenha percebido que não podia ser um ataque cardíaco porque a coisa durou uns 10 segundo ao todo, não mais, apanhei um enorme susto e fiquei à espera de cair redonda no chão tal foi a violência da dor, mas não - a minha médica pneumo-oncologista disse-me depois que tinha sido um espasmo do esófago (tenho uma esofagite rádica [lesões] resultado dos tratamento de radioterapia). Portanto, se estivesse em tempo de aulas, da maneira como estou agora, estaria a faltar porque não é possível trabalhar neste estado. Em 2019, no ano em que fazia tratamentos de imunoterapia de 15 em 15 dias, sem nunca ter faltado e muitas vezes cheia de dores e outras complicações, numa aula lá para o fim do 2º período senti-me de tal maneira a desfalecer que disse aos alunos, 'vou sentar-me e ficar quieta 5 minutos porque estou a sentir-me mal. Não se assustem que isto já passa'. Os miúdos ficaram assustadíssimos. Portanto, se estivesse em tempo de aulas, neste estado, estaria a faltar porque não é possível trabalhar assim. Pois, é o que acontece a dois terços dos professores das nossas escolas, apesar do ME ser demasiado inteligente para perceber que a profissão é extremamente exigente do ponto de vista físico, emocional e intelectual -o nosso trabalho não é de estar sentado a ler papéis enquanto se beberica um café ou uma bebida com pausas regulares- e que os professores estão quase todos numa idade em que as maleitas abundam e mesmo as mais vulgares levam tempo a passar - mas como ele é muito inteligente, opta por dizer que os professores se fingem de doentes e só querem faltar. Que diabo, nos dias que correm, o calor excessivo só por si já me põe doente. Imagine-se se tivesse que fazer agora, como fiz há trinta anos, 2 horas de viagem em vários transportes públicos ao calor para conseguir chegar à escola, já derreada, antes mesmo de começar o trabalho. Morria. Contudo, essa é agora uma possibilidade real para milhares de professores, com o diploma vomitado pelos inteligentes que nos governam, no ME e no gabinete do PM e aprovado pelo Presidente.
No comments:
Post a Comment