Putin cancelou a viagem à África do Sul, para estar presente na Cimeira dos BRICS em Agosto, por receio de ser preso por crimes de guerra. Há um mandato do TPI do qual a África do Sul é signatária o que a obriga, formalmente, a prendê-lo, sendo que isso lhes causaria um grande problema, como é evidente. Uma coisa é prenderem um qualquer criminoso de guerra, outra é prenderem o Presidente de um país porque é, apesar de tudo, uma ingerência num Estado soberano. Todos querem ver Putin preso e julgado pelos crimes que tem andado a cometer mas ninguém quer ser o carrasco de serviço, de maneira que a África do Sul deve estar a suspirar de alívio.
Porém, a questão importante é que Putin queria muito ir -precisa desesperadamente de aliados- e pressionou a África do Sul de várias maneiras, incluindo uma ameaça de guerra - mas não teve sucesso e recuou. Teve medo que o prendessem mesmo. E porque teve medo? Porque Putin faz muito bluff, muita ameaça, mas o Ocidente ainda não fez nenhum bluff. Tem sido consistente em estar à altura das suas palavras: faz o que diz e diz o que faz.
Há uma liga da maioria dos países do mundo, consistente e firme a defender valores da Carta das Nações Unidas contra um país imperialista e agressor e a pressão que têm feito -que inclui ajuda explícita e determinada ao país atacado- tem funcionado. Havendo pessoas com qualidade na ONU, este é um momento para consolidar esta prática. Como a ONU não tem força de lei sobre os países e depende da sua união e boa vontade, dificilmente encontrará um momento tão propício como este.
É preciso um plano de paz, sim, mas não um plano de paz apenas entre a Ucrânia e a Rússia, quando chegar esse tempo. É preciso um plano que recrie esta unidade sempre que estas iniciativas de guerra imperialista ecludam.
Lá para o fim da sua obra, "Guerra e Paz", Tolstói põe Pierre a falar numa reunião em que se discute o governo corrupto e malfeitor da Rússia: 'quando uma liga de malfeitores se une para destruir, os homens de bem têm que, por sua vez, construir uma liga de benfeitores que lhes faça frente'. (estou a citar de memória)
Se desta guerra terrível sair uma mudança positiva para o mundo, pelo menos as mortes dos ucranianos e a destruição da Ucrânia não foram em vão.
Eu apenas generalizava o último parágrafo: "as mortes". Porque tão injustas são as dos ucranianos como as dos russos que são obrigados à guerra. Sempre que os homens se tornam inimigos mortais uns dos outros e procuram mutuamente aniquilar-se, há drama. Dir-me.á que é diferente ser vítima ou agressor. Pois é. Mas, em guerra, perecer às mãos de outro homem é mal que não conhece fronteira: é morte.
ReplyDeleteTomara que cesse esta guerra de que vemos pormenores até à saturação, comentários que se repetem e repetem, alguns tão eivados de preconceito que não se entende por que perversa razão existem. Parece que estamos também a banalizar a guerra, o que é perigoso e nada de mental e moralmente saudável.
Infelizmente a guerra sempre foi banal porque os motivos das guerras, por norma, são a cobiça, o desejo de poder e a ganância.
DeleteÉ por isso que a morte do russo e do ucraniano, nesta guerra particular, não são a mesma coisa, apesar de serem ambas, uma 'morte', um desaparecimento da vida: o russo, para deixar de morrer na guerra só tem de escolher parar de matar, de destruir, de invadir; mas o ucraniano não tem essa escolha, pois se parar de se defender desaparece, desaparece a sua família, os seus concidadãos e o seu país - cessa tudo de existir.
Então, de facto, toda a morte por motivos de cobiça, de vontade de poder e de destruição é um desperdício, mas nem toda a morte na guerra é um desperdício se o que morre luta contra a instalação desses vícios, pela defesa de valores positivos de vida e para impedir a instalação do mal.
Por isso, aproveitar este momento em que a maioria dos países do mundo escolheu unir-se contra a injustiça e a morte arbitrária de uma guerra por motivos de mal, seria aproveitar o esforço dos ucranianos para pôr um travão eficaz, doravante, à banalidade da guerra.