Pouca gente se lembra, mas, ainda em plena “geringonça”, António Costa disse duas coisas importantes para percebermos estes quase oito anos de vida política nacional. A primeira é que ele não era nem Guterres, nem Sócrates. Ou seja, e para usar uma expressão cara ao meu saudoso amigo José Medeiros Ferreira, Costa não tenciona ser levado em ombros até à porta do cemitério que, no caso daqueles dois, foi o pedido de demissão. A segunda, dirigida a Marcelo, consistiu em frisar que o Governo só depende do Parlamento. Ora, desde o ano passado, o Parlamento passou a depender dele com a maioria absoluta do PS.
Veja-se o “caso Galamba”. Costa não perde uma ocasião para atirar com Galamba à cara do presidente, mandando-o fazer figura de corpo presente em todo e qualquer evento que meta Governo e Belém. Este narcisismo político teve recentemente o seu apogeu napoleónico. Costa, num exclusivo a uma jornalista que andou com ele ao colo quando era pequenino - convém ter presente que não existe ninguém mais “sistémico”, em funções, que António Costa -, afirmou solenemente o seguinte: “eu sou o garante da estabilidade em Portugal”.
Na galeria de mediocridades que se sentam no Conselho Europeu, não é difícil a Costa “fazer figura”, deixando correr o tabu de um putativo cargo europeu. Na realidade, Costa só acumula tempo e experiência de poder. Nada mais tem para dar ao país. Numa entrevista, aliás, deixou bem claro que odeia o termo “reformas estruturais”. Nunca fez, nem nunca fará uma como, apesar de tudo, Soares, Guterres ou Sócrates tiveram de fazer. Gere com inteligência o seu tempo político, claro, na proporção inversa de como gere, por exemplo, o PRR multimilionário cuja execução tem sido paupérrima.
Por isso, fora a dele próprio, não se entende que espécie de “estabilidade” é que ele “garante” a um país que “compra” com os dinheiros que distribui através do contabilista Medina. Entretanto, o Estado está tão autoritário como ele, desde a administração pública central até aos tribunais.
Degrada-se a qualidade do regime democrático que, por si, nunca foi grande coisa. E lubrifica-se a alienação geral através dos meios oficiosos de comunicação social que não possuem a menor pertinência informativa. A “estabilidade” de Costa, que alguns já prometem até 2030, é a versão portuguesa da paz dos cemitérios da dupla Schiller-Verdi. Um oportunismo sem substância que apenas dura.
Degrada-se a qualidade do regime democrático que, por si, nunca foi grande coisa. E lubrifica-se a alienação geral através dos meios oficiosos de comunicação social que não possuem a menor pertinência informativa. A “estabilidade” de Costa, que alguns já prometem até 2030, é a versão portuguesa da paz dos cemitérios da dupla Schiller-Verdi. Um oportunismo sem substância que apenas dura.
João Gonçalves. in JN
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