Não há professores II

 

Nem vai haver, com estas políticas de desvalorização da profissão. E há outro factor que vai influenciar negativamente a escola pública e que é também consequência da falta de professores. Os professores funcionam em grupos: grupos disciplinares, grupos de conselhos de turma. A dinâmica de grupo tem uma influência determinante na qualidade do trabalho que cada professor desenvolve com as turmas. 

O trabalho colaborativo dos grupos disciplinares praticamente desapareceu desde a Lurdes Rodrigues, com a divisão de professores entre titulares e 'outros' e, mais tarde, com a manutenção dessas pessoas ex-titulares nos cargos a imporem uma dinâmica de sabotagem geral dos colegas para permanência ad aeternum nos postos. Um dia que alguém colija dados e estude os factos verá como grupos que nas escolas tinham sempre bons ou muito bons resultados em exames nacionais, quase de um dia para o outro ficaram completamente destruídos por conta da destruição da dinâmica de trabalho de grupo.

Essa foi a primeira grande machadada na qualidade do trabalho e acontece através da destruição das condições de qualidade do trabalho colaborativo, essencial para o sucesso dos alunos. 

(talvez já ninguém se lembra mas nessa altura a Lurdes Rodrigues quis que as justificações médicas para os professores titulares fossem de cor diferente das dos outros, para que não se confundissem nem na doença) 

A segunda machadada veio com Crato e com este ministro. O primeiro despediu cerca de 30 mil professores e proletarizou os outros e o segundo aproveitou essa desvalorização e desenvolveu ao máximo essa caminho.

Os conselhos de turma ainda são espaços onde a maioria dos professores têm critérios de qualidade: são pessoas que ensinam na área da sua formação universitária e têm especialização para a docência; desse modo impõem uma dinâmica de rigor e de auto-exigência pedagógica aos processos e, com isso, influenciam positivamente a qualidade do trabalho dos docentes do grupo. No dia em que a maioria dos professores do conselho de turma forem professores que estão a dar química, mas cuja formação e experiência é em teatro e coisas do género, imaginem o que vai ser o ensino público.Para já não falar do dia em que essas pessoas forem a maioria nas direcções e conselho pedagógico.

 E não, não estou a caricaturar.