Aceleramos a digitalização das escolas?
Felisbela Lopes
Portugal está ainda numa fase incipiente no que diz respeito à transformação digital das escolas. Todavia, países que aceleraram essas reformas procuram agora reverter decisões. Como a Suécia que decidiu lançar um programa de reintrodução dos livros nas salas de aula.
A 15 de maio, a ministra da Educação sueca, Lotta Edholm, do Governo conservador de Ulf Kristersson, suspendeu a digitalização das salas de aula, aprovada pela Agência Nacional de Educação. Antes pedira estudos a mais de 60 especialistas nessa área. Todos concluíram que o ensino baseado integralmente em modelos digitais não beneficia o desenvolvimento do cérebro.
O último estudo “Progress in International Reading Literacy Study” (PIRLS), que avalia a literacia de leitura dos alunos do 4. ano de escolaridade de vários países europeus, acentuou essa desconfiança, ao alertar para o risco de estarmos a criar uma geração de “analfabetos funcionais”. A Suécia nem será o país mais apreensivo, pois reúne 544 pontos, estando acima da média europeia, situada em 528 pontos. Portugal registou uma quebra na leitura nesse domínio, somando 520 pontos, menos oito do que na avaliação anterior.
Em França, há também sinais significativos. Um conjunto de pais criou o movimento coletivo CoLINE (Collectif pour Lutter contre l’Invasion du Numérique à l’École) e a sua ação vem somando adeptos em várias regiões. O Governo já prometeu abrir o debate sobre os benefícios e as limitações de uma escola completamente digital.
Em Portugal, este tema está longe de provocar uma tematização pública. Neste final de ano letivo, discutimos a preparação que os estudantes (não) tinham para efetuar provas finais no computador, mas ainda ninguém se preocupou com o problema de fundo: substituir os manuais e o velho quadro por tablets ou telas digitais. A desmaterialização da escola parece, à primeira vista, atrativa e sinal de uma modernidade encantadora, mas será isso melhor para a aprendizagem?
É um facto que as crianças e os jovens têm hoje um grande consumo de ecrãs. Agarrados desde tenra idade ao telemóvel, sobretudo aos videojogos e às redes sociais, os mais novos precisarão, na minha opinião, de outros suportes, para além do digital, numa sala de aula. Retirando o papel dos primeiros anos de escolaridade, teremos decerto jovens adultos com muita dificuldade para manusearem um lápis ou uma caneta. Isso não será certamente a maior limitação deste processo de transformação. O que está em causa é saber se estamos a progredir nos processos de ensino-aprendizagem. Os países mais evoluídos neste campo demonstram uma grande desconfiança acerca dessa evolução. E isso deveria ser motivo para abrir já o debate entre nós.
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