Os alunos dos dias de hoje, que chegam ao 10º ano sem saber ler, mesmo se quisessem não saberiam consultar um dicionário.
Este processo de degradação durou quase um século. Na primeira metade do século passado, nos anos 30, nos EUA, investigadores fizeram estudos sobre os anos da escola primária (básica) e concluíram que os alunos de meios desfavorecidos estavam em desvantagem relativamente aos outros devido à aprendizagem da leitura e escrita ser feita através de sílabas, o método da descodificação.
Aprender a ler não é um traço evolutivo, dizem os especialistas, como aprender a andar ou a falar a língua nativa. Cada vez que alguém nasce tem de ser ensinado a fazer essas sinapses e o cérebro leva muito tempo a conseguir fazer as conexões necessárias para compreender o significado das palavras. Portanto, a norma é haver dificuldade nessa tarefa, que não é natural e ela implicar esforço.
Enfim, esses investigadores defenderam que aprender a ler era um processo difícil em si e que as crianças de meios pobres com pais que não sabiam ler ou mal sabiam ler levavam muito mais tempo a aprender que os outros, pois os outros tinham em casa quem reconhecesse as sílabas e ajudasse a chegar ao significado da palavra ao passo que os desfavorecidos não tinham capacidade de treinar em casa essa aprendizagem do significado. O resultado, diziam, era que essas crianças ficavam com ideia de serem burras e essa má imagem e infelicidade contribuíam para que se acentuasse o fosso entre ambos os grupos.
Os pedagogos acusaram os defensores do método de descodificação de serem burgueses a defender privilégios de classe. Resultado: em vez de melhorarem as condições dos desfavorecidos para que acompanhassem os outros, os defensores das ciências da educação entenderam pôr os mais avançados na aprendizagem ao nível dos outros menos avançados, para que todos ficassem em pé de igualdade. Assim, inventaram o método global ou ideo-visual de aprender a ler, que consiste em aprender a palavra e o seu significado sem aprender a sua construção silábica e regras de associação.
Como consequência, todas estas crianças que aprenderam palavras, mas não sílabas, não sabem ler. Não conhecem a lógica da associação das sílabas em palavras. Se nunca ouviram a palavra não sabem como ler, porque não conhecem as regras gramaticais da associação de sílabas, uso de acentos, etc. É assim que, vendo pela primeira vez a palavra, 'axiologia' ou perguntam, 'como é que isto se lê' ou tentam ler e lêem, 'achiológia'. Se já ouviram a palavra mas nunca a viram escrita (o que é o mais provável porque não lêem a não ser frases estereotipadas na internet e cada vez menos), escrevem exactamente como ouvem, por exemplo, 'hxár' em vez de 'agachar.'
Levam tanto tempo a ler uma frase por desconhecerem quase todas as palavras que quando chegam ao fim nem sabem o que leram. E é difícil ensiná-los a pensar nas palavras, porque isso obriga a saber 'partir' as palavras e saber o que é cada uma das partes desde o radical ao sufixo. Sim, aprendem depois estes termos (não sei ao certo quando se ensina isto) mas como vêm sem a aprendizagem básica e não lêem nada de nada, quando chegam ao 10º ano ainda não sabem ler e escrever. E quando juntamos a isso, aqueles imensos anos em que não se podia treinar a memória das crianças ou fazer ditados porque era fascista e não trazia felicidade...
Nós que aprendemos a ler pelo método silábico, mesmo que nunca tenhamos visto uma palavra, sabemos como ela se lê e acentua e vamos ao seu significado pelo radical, pelo sufixo, etc. Hoje-em-dia, primeiro os neurologistas e depois os sociólogos, demonstrarem que o método silábico é mais eficaz, particularmente para crianças de meios desfavorecidos e em muitos países está a reverter-se o ensino da leitura ao método silábico.
Nos EUA as crianças já nem vão à net para ler alguma coisa ou pesquisar. Falam com as aplicações. Desde bebés habituam-se a usar a voz para ir à internet e aceitam as respostas das Alexas e dos Siris.
O acordo de Bolonha, em parte, seguiu esta linha de, em vez de melhorar as condições de aprendizagem dos desfavorecidos, baixar o nível académico da universidade para que estes pudessem lá chegar.
As políticas educativas do nosso ME seguem exactamente esta linha de, em vez de melhorar as condições de aprendizagem dos desfavorecidos, degradar a exigência do ensino para que todos se sintam felizes e incluídos. É claro que isto se faz à custa das possibilidade destes alunos desfavorecidos transcenderem as suas condições desfavoráveis de origem. Como se vê nos rankings.
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