É óbvio que o ME não tem perfil para o cargo. Estaria bem em outro tipo de organização...
“Subdiretor de agrupamento de escolas demite-se por causa de pressões contra as greves e contra si de Delegado Regional de Educação do Norte”
Este título resume o que venho aqui contar.
Amanhã entrego ao diretor do meu agrupamento, depois de uma longa conversa sobre isso hoje, o meu pedido de cessação imediata de funções como subdiretor do agrupamento de escolas da Abelheira, a escola onde sou professor para o resto da vida, enquanto quiser.
Vou pedir exoneração imediata.
Não sou obrigado a continuar em funções.
O cargo é de exercício voluntário.
O meu diretor foi pressionado por minha causa pelo Senhor Delegado Regional de Educação do Norte em reuniões e telefonemas.
Não lhe foi dito para me demitir, que essas coisas são sempre subtis. O piano já foi chamado de pianoforte e ficou só piano. Há certas pessoas que são sempre pianinhos…..
Foi-lhe dito que a greve às provas de aferição da semana passada era uma ideia de radicais que “estavam a dar má imagem da escola e dele (diretor).”
E que a greve tem graves problemas de moralidade (o senhor Delegado gosta de dar sermões).
Subtilmente foi sugerido numa reunião que viriam problemas se não me “controlasse”. Por “problemas” entendam-se: eventuais processos disciplinares a mim e a ele (sobre outras coisas, um deles na calha).
Aliás, a sanha é de tal maneira que até me foi imputada uma intervenção destrambelhada numa reunião onde não estive presente e que alegadamente terá melindrado um qualquer membro do governo.
A conversa com o senhor Delegado, na sede no Porto, deve ter sido interessante.
O meu diretor foi lá para ser notificado do arquivamento de um processo e saiu de lá alarmado com a perspetiva de que terei um PD e que isso cairia em si.
A conversa com o delegado resvalou para a greve de fome e questionamento sobre ela. O senhor delegado, pelos vistos, é pessoa que gosta de dar opinião, aos que julga seus subordinados, mesmo sobre aquilo que não é da sua conta.
Num dos dias de greve às provas de aferição, há 8 dias, o senhor Delegado telefonou para acabar de apertar os parafusos do receio que tinha instalado nesse primeiro dia.
Ouvi o telefonema (dos 2 lados) porque o som estava alto e estava sentado ao lado. Trabalhamos em openspace.
O responsável da DGESTE Norte, mesmo sabendo que nada houve de ilegal na greve de há 8 dias às provas de aferição, lembrou, entre outras coisas sumarentas, que os dirigentes escolares, ao contrário do que eu julgava, na sua opinião douta, tem de ser solidários com as posições politicas do governo ou calar-se ou sair.
Eu não sou dirigente capacho, não sou boy e não estou para aturar isto.
Não preciso ser subdiretor para ser quem sou.
Servi bem a comunidade da minha escola.
E servirei bem a dar aulas a tempo inteiro.
O meu diretor não vai ter de passar nenhum problema por ter o desafio de me segurar.
O senhor delegado parece querer a minha cabeça. Dou-lha de bom grado e ofereço a bandeja.
Por mim, a equipa diretiva e a escola a que pertenço não vão ter problemas por eu insistir em continuar em fazer o meu trabalho. E ser grevista e dar opinião pública sobre a falta de respeito aos professores.
Eu saio sem problemas.
E ninguém, mesmo um inspetor com carreira enriquecida com cargos políticos de nomeação PS, que exerce o cargo em substituição há largos meses, me atemoriza. Venham os processos.
Mas saio, porque se a minha presença causa incómodo e justifica receio de problemas, não me manterei a mais.
Problemas desses repercutem-se só em mim.
Não quero ser fonte de desconforto para a escola ou para ninguém. Por isso saio pelo meu pé.
Se o problema é comigo, o senhor delegado regional pode procurar saber de mim no sitio onde, depois de amanhã, darei as minhas aulas.
Já que não teve coragem de falar comigo daquilo de que me mandou recado.
O senhor delegado regional vai negar o seu papel nesta história. Óbvio…..o segredo destes métodos é negar o que se faz ocultamente.
A ironia é que tanta gente me atirava a cara que os dirigentes escolares não se demitem em solidariedade com a luta dos professores.
Serei o primeiro. E até quero ver a solidariedade comigo…..(não tenho expetativas).
E não duvidem que estarei ainda mais na luta.
Mais livre. E continuarei a dizer que Portugal não pode ser isto.
E continuarei a dizer que não me conformo com a injustiça e falta de respeito aos professores.
Antes de ser subdiretor, mantenho-me professor e, antes disso, cidadão de uma República, estado de direito democrático.
Luís Sottomaior Braga
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