March 01, 2023

Santana Castilho sobre a educação - sim e não



Concordo com o diagnóstico de Santana Castilho. É difícil não concordar com a falta de bom senso (no sentido cartesiano) e seriedade do ME e do primeiro-ministro, mas não concordo com a solução de ir para a escola 35 horas por semana e não fazer nada fora dessas horas, sendo que se fossemos para a escola essas horas, não conseguíamos fazer o nosso trabalho porque as escolas não têm meios para que os professores façam lá todo o seu trabalho e muito menos ao mesmo tempo.
O trabalho do professor não é um trabalho dessa natureza, de rotina e burocracia (por muito que este ME nos queira transformar em animais domésticos da sua quinta), a maioria dos professores não seria capaz de deixar de fazer aquelas coisas todas que fazem em favor dos alunos fora da escola e, mais do que isso, pelo facto do ministro da educação ser uma pessoa com graves dificuldades/deficiências de liderança, de compreensão da complexidade dos problemas e do seu alcance (isto é uma opinião pessoal baseada na sua actuação), não devemos transformarmos-nos [para pior], para nos tornarmos iguais a ele - ou ao primeiro-ministro que também governa para as estatísticas, para a aparência, para os amigos, para os ganhos pessoais de carreira e que faz sempre o que entende, mesmo que vá contra todo o país, como ele próprio, de resto, o admite. 
Isso seria o pior de tudo. Transformarmo-nos em imitações destes políticos medíocres e ambiciosos.
Um e outro são pessoas sem espírito democrático e, pessoalmente, não quero tornar-me igual a eles (não tenho vocação para o quiet quitting, para fingir que trabalho) e acredito que a maioria dos professores também não o quer. Agora, penso que devemos deixar de fazer tudo o que seja trabalho extra: apoios, clubes, visitas de estudo, reuniões à noite, feiras, palestras, etc., etc. Se não é trabalho lectivo, se está fora das nossas obrigações, se não é pago, não se faz.



As mercês pouco sérias de João Costa – Santana Castilho


Santana Castilho 

António Costa disse que quando o ministro da Educação fala é ele que está a falar. Ora quando o António afirma que a recuperação do tempo de serviço dos professores custa 1300 milhões ao ano e o João diz que essas contas estão agora a ser feitas, em qual Costa devemos acreditar? Por outro lado, quando, há dias, o Ministério das Finanças disse que a recuperação custava 331 milhões, fê-lo sem antes ter feito contas?

Quando, na última entrevista ao Jornal das 8 da TVI, António Costa disse não ter sido ele nem um governo dele que congelou a carreira dos professores, apenas jogou com as palavras. Com efeito, era ministro do Governo durante cuja vigência foi determinado o primeiro congelamento da carreira dos professores (Lei 43/2005, de 29/08). Formalmente foi a Assembleia da República. De facto, a AR apenas obedeceu aos ditames de um Governo de maioria absoluta do PS.
Uma negociação séria e um entendimento justo não é um jogo de manipulação da verdade e dos factos.

É sério apontar a “queda” do Conselho Local de Directores como uma cedência, quando se propõe, a seguir, a criação do Conselho de Quadros de Zona Pedagógica, constituído pelos mesmíssimos directores, agora apenas referidos a áreas geográficas diferentes?

É sério anunciar como progresso que os quadros de zona pedagógica passam de dez a 63, diminuindo-lhes a extensão, quando os parágrafos sete e oito do artigo 55º do anteprojecto do DL, que estabelece o novo regime de gestão e recrutamento do pessoal docente, acaba por manter tudo como antes?

É sério o ministro e o primeiro-ministro apregoarem que querem acabar com os professores de “casa às costas”, quando os professores dos quadros de agrupamento, até agora inamovíveis dos seus agrupamentos, passam a poder ser deslocados para qualquer local dentro da sua zona pedagógica, para completarem horas lectivas?

É sério exigir aos que venham a adquirir vínculo que concorram a todo o país no concurso seguinte?

É sério o ministro da Educação dizer que a graduação profissional persiste como indicador universal para colocar professores, quando o normativo que propõe continua a dar mandato aos directores para a ignorarem?

Na peugada da miserável visão estratégica de Maria de Lurdes Rodrigues, de dividir para vencer, foi mais uma vez desastrosa a ideia, do ministro da Educação, de recuperar o tempo de serviço apenas para os professores colocados nos primeiros escalões da carreira. Sempre que João Costa fala, a chama da discórdia aumenta.

É minha convicção que a maioria dos professores actua diarimente ao contrário daquilo em que acredita. Sociologicamente, este comportamento paradoxal explica-se porque os professores foram simplesmente instruídos a fazer de determinado modo e estão condicionados pela propaganda e pelo medo. Sucede, neste quadro, que a sua obediência à autoridade tem limites.

Duas sondagens acabam de mostrar que os portugueses apoiam esmagadoramente a luta dos professores, enquanto o PS cai 9% nas intenções de voto. As continuadas mentiras e iniciativas pouco sérias do Governo para desacreditar a luta dos professores junto da opinião pública falharam.

Todavia, o Governo continua a fugir a uma negociação séria, pelo que é necessário, agora, produzir documentos com propostas de resolução do contencioso, que demonstrem, a par da firmeza, maturidade e sensatez. Do mesmo passo, devem os professores ser protagonistas de iniciativas arrojadas e inéditas, que respondam às tentativas governamentais de anular o direito à greve.
Dou um exemplo: aos serviços mínimos pode responder-se com serviços máximos. Que quero dizer com isto? Recusa absoluta de fazer em casa seja o que for. Permanência integral de 35 horas por semana nas escolas, sendo apenas e só no local de trabalho que os professores passam a cumprir as tarefas a que por lei estão obrigados. Notificação aos directores para que indiquem aos professores os espaços onde passam a preparar lições, corrigir testes e satisfazer todos os compromissos. Fim de utilização dos computadores pessoais e de Internet privada para aceder às plataformas do sistema. Fim de utilização de carro próprio para deslocação entre as escolas do agrupamento. Tudo legal, sem qualquer ónus possível para os professores.

A novilíngua, a do século da paixão de João Costa, o XXI, chama a isto “quiet quitting”.

Público” de 1.3.23


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