March 17, 2023

Histórias do dia-a-dia das escolas públicas do socialista António Costa

 


Situação típica, exemplar, de milhares de alunos. 

Ano lectivo 2019-2020. Um aluno está no 8º ano de escolaridade, no 3º período. É um aluno sem grandes posses económicas, mas trabalha razoavelmente, é interessado e vai passando com notas sempre positivas. Não tem professor de inglês, porque a professora que tinha está de licença de maternidade e não se conseguiu substituição; já teve 2 professores de matemática (com intervalos de um mês e meio entre a colocação de cada um) e agora vai ter o 3º - no 3º período. A escola fecha por causa da pandemia. O aluno não tem computador próprio e a escola não está preparada para funcionar à distância. O programa de matemática está tão atrasado que o professor escolhe um tema para dar (pedindo depois extensão curricular para o ano seguinte), não faz consolidação das aprendizagens do 7º ano por falta de tempo, vai mandando fichas para os alunos que não têm computador fazerem e enviarem por email. Alguns conseguem acompanhar as aulas por vídeo, mas não a maioria. Passam todos sem fazer avaliações a sério, dada a situação de caos e desinteresse do ME em investir e equipar as escolas e a impotência dos alunos em acompanhar devidamente as aulas.

Ano lectivo 2020-2021. A escola funciona até ao Natal presencialmente e depois fecha e as aulas voltam a ser à distância. O nosso aluno está agora no 9º ano. Tem professor de matemática desde o início do ano, mas o professor começou o ano a dar partes da matéria do 8º ano em atraso. Quando a escola fecha, no Natal, começa o programa do 9º. O nosso aluno, como outros da turma, consegue um computador em Fevereiro e começa a assistir às aulas à distância. Vai muito atrasado na matéria e agora só tira negativas nas avaliações, apesar destas serem muito lassas, dada a situação. Passa o ano, mas sem fazer exames ou provas de aferição e com grande permissividade por parte do professor, dado todo o contexto de pandemia. Não tem noção da qualidade das suas aprendizagens. Voltou a ter inglês no 2º período, mas a professora, que tem uma licenciatura em português-inglês, há mais de 20 anos que só dá português...

Ano lectivo 2021-2022. As escolas estão abertas e a funcionar presencialmente, embora com constrangimentos: máscaras, distância, etc. O nosso aluno está no 10º ano, num curso de ciências naturais com a matemática como disciplina específica, mas só tem professor de matemática a meio de Outubro. O programa de matemática está muito atrasado e o aluno tem tantas falhas nas aprendizagens do 7º, 8º e 9º anos, umas porque nem as fez, outras porque nunca as consolidou, que chega ao Natal com média de 4, em 20. Tentou-se arranjar aulas de apoio a matemática (explicações) na escola, mas é impossível, porque os professores que existem estão com turmas e alunos até ao pescoço, alguns já com horas extra porque mandaram-nos assumir a docência de turmas para as quais não se arranjou professor. O nosso aluno não tem dinheiro para arranjar um explicador. Entretanto, dadas as dificuldades que tem a matemática, também tem notas negativas a física, que é uma disciplina subsidiária da matemática. No fim do ano passa com 2 negativas de 8 valores (matemática e física), para o 11º ano. A professora de inglês, apesar dele ter muitas dificuldades por causa da falta de professores no passado e porque vem de um meio pouco favorecido onde isso não é estimulado, subiu-lhe a nota para a positiva para ele poder passar de ano.

Ano lectivo 2022-2023. 11º ano. A escola continua com falta de professores de matemática e, agora, de física, logo, continua sem poder oferecer aulas de apoio nessa disciplina para alunos com falhas de aprendizagem, sejam pequenas ou grandes. O 'nosso' aluno não consegue tirar uma única positiva, está completamente desmotivado, pensa que é burro porque não consegue acompanhar a matéria, mesmo depois de se lhe explicar que o seu problema não é incapacidade intelectual, mas sim as aprendizagens em falta e as outras que nunca foram consolidadas. A mãe chora quando vai à escola falar com o DT, porque não tem dinheiro para explicações e a escola está sem recursos humanos para o ajudar. Este ano não passa de ano, porque a desmotivação e a falta de auto-confiança fizeram-no desinteressar-se pelos estudos em geral e agora tem negativa a muitas disciplinas. No ano seguinte vai para outro curso, sem matemática e sem interesse nenhum pelo estudo. Provavelmente não vai ter professor de história ou de inglês ou de outra disciplina qualquer. 

O ministro da educação vem à TV e aos jornais dizer que a culpa de não haver professores é dos professores doentes (porque não acredita que estejam doentes) e das grávidas que querem estar próximo de casa e dizem que são de risco - a sua estratégia para resolver a falta de professores e o miserabilismo que impôs à educação é contratar centenas de médicos e inspectores para perseguirem e denunciarem professores doentes e grávidas. Recusa-se a melhorar a profissão. Recusa-se a aceitar que a escola pública tem falta de investimento. Recusa-se a aceitar discutir os problemas dos professores. Recusa-se a aceitar que vive numa democracia e não pode impor os seus caprichos e ideologias sem contestação. A sua estratégia para resolver os problemas da escola pública é ameaçar professores. Neste ano lectivo reformam-se mais uns milhares de professores e não há quem os substitua. Ninguém quer ser professor nesta escola.

Esta é a escola pública do socialista António Costa. 


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