A casa tem as paredes -algumas forradas a cetim e seda- degradadas em muitas zonas. Tiraram os reposteiros e substituíram por uma telas japonesas brancas, mas que estão todas corridas até abaixo, de maneira que está tudo meio na penumbra, iluminado com os candeeiros originais, de um modo que não valoriza o interior.
Há zonas com vidros a impedir a passagem, como na sala de jantar e por isso não conseguimos entrar e ver os quadros que estão nas paredes - o que não era necessário, pois só podem estar duas pessoas de cada vez, em casa piso e temos uma pessoa sempre a seguir-nos.
No último andar está o atelier do artista. Uma sala muito ampla, com um pé direito enorme e janelas monumentais que, percebemos, devem inundar o estúdio de uma luz natural extraordinária. Pois, só que tem telas grossas a tapar tudo e está meio na penumbra. E em vez de terem a sala como se fosse o atelier vivo do pintor, têm os objectos dele guardados em vitrines, todos arrumadinhos a um canto. Se não soubéssemos que era o seu atelier, não o adivinharíamos.
O pior de tudo, quanto a mim, foi que praticamente nenhuma das imensas pinturas espalhadas pela casa está identificada. Algumas, conseguimos vê-las de perto e perceber a assinatura (as de Silva Porto), mas outras, têm a assinatura escondida pela moldura ou não se percebe a assinatura de modo que não se sabe de quem são.
Não há uma legenda, uma explicação... a não ser em duas delas, uma das quais logo à entrada, este Narciso de Courbet.
Aqui parece estar mais iluminado do que está na realidade porque o meu telemóvel, em condições de falta de luz, acrescenta luz.
Como as salas estão iluminadas com candeeiros antigos, só os quadrinhos pequenos se conseguem ver sem bolas de luz que os encandeiam e tapam uma parte delas.
Assim que subimos as escadas passámos por um pequeno hall com esta pintura que pareceu-me logo ser um Ruisdael, o que se confirmou porque consegue-se ver a assinatura. Porém o quadro não se consegue ver de frente porque a luz do candeeiro encandeia-o e, de lado, tem sempre bolas de luz a tapar uma área da pintura. Isto irrita.
Ponho-me no lugar de um turista que nunca ouvir falar, seja de Malhoa, seja de Anastácio Gonçalves e imagino-me a ir ali e não perceber nada. Cá em baixo há uma salinha onde um pequeno vídeo fala qualquer coisa de algumas peças da casa.
A casa faz parte da rede de museus nacionais... como é que um museu, por pequeno que seja, não tem nada identificado? A senhora que vende os bilhetes e está na loja disse-nos que podemos comprar o livro numa livraria. Isso eu sei... queria era ajudar o museu. Das duas funcionárias que estavam nos pisos a seguir-nos, uma delas sabia de quem eram os quadros, mas a outra não sabia nada.
Nós somos um país pequeno e não temos grandes coisas em termos de museus, mas temos algumas penas jóias, só que não valorizamos a nossa cultura e a nossa história. Nada.
Costa e os amigos só têm dinheiro para os bancos e para os amigos. O resto, pode estar tudo roto e a cair de podre que não lhes interessa, porque eles vivem naquela bolha onde uma obra derrapar dois milhões são trocos, receber-se uma medalha de mérito devendo dois milhões ao fisco é aceitável e receber um prémio de 500 mil euros por ser despedida é normal.
Hoje entrei num site de um jornal e li, Santos Silva reconheceu, este sábado, a atribuição do Urso de Prata ao filme 'Mal Viver', de João Canijo. Santos Silva, um tipo que já foi ministro de quase tudo nos governos PS e portanto, é grande responsável pela situação de pobreza dos serviços púbicos e atraso cultural do país, veio a correr capitalizar o trabalho de outra pessoa, como se tivesse alguma responsabilidade no prémio que ele recebeu.
É triste, sermos governados por estas pessoas que não fazem o seu trabalho e arranjam maneira de roubar o produto do trabalho dos outros.
No comments:
Post a Comment