Há umas semanas uma colega contou-me que a propósito de qualquer coisa disse a um aluno, 'deve pensar que é o Elvis' e o aluno perguntou, 'quem é o Elvis?' Nunca deixa de me surpreender como se pode viver no mundo como se ele tivesse começado agora mesmo e não ter interesse nenhum na cultura da geração dos pais e avós. É assim que as pessoas se tornam gente que só se vê um palmo à frente do nariz. Enfim, pode ser que com este filme aprendam alguma coisa sobre o Elvis.
Li que um actor tinha ganho uma data de prémios a fazer de Elvis num filme e fui ver o filme. O actor entrou tão bem dentro da pessoa que foi Elvis que há cenas em que, se não fosse pela voz, não percebíamos que não é o Elvis. Embora o actor cante muito bem e de uma maneira parecida com o Elvis e muito convincente. O que não é fácil, quer dizer, ser excelente a parecer o Elvis sem parecer uma impersonation do Elvis. Porém, o Elvis tinha aquela voz de veludo quando canta baladas, que ninguém mais tem.
A última cena é baseada numa das últimas (ou a última) actuações de Elvis antes de morrer, quando ele já está muito pesado e com aquela cara inchada das drogas (custa vê-lo assim) e a suar em que canta Unchained Melody. A cena começa começa com o actor, mas passa para a decuja gravação do próprio Elvis (o filme acaba com imagens do próprio Elvis), o que se percebe primeiro pela voz. Depois, também se vê a expressão da cara dele quando acaba de cantar, com uma enorme satisfação de ter cantado bem. Como é que ele é capaz de cantar com aquela entrega, naquele mau estado físico, é uma coisa que diz muito da pessoa que ele era e como se transformava liricamente diante do público. (pus essa cena a seguir ao trailer)
Adiante. O filme é sobre a vida de Elvis, mas também sobre a influência ambígua do seu promotor, o Coronel Parker, o homem que o lançou, mas também explorou e abusou dele, económica e artisticamente. Numa altura em que os homens da indústria da música e da TV queria censurá-lo por causa da maneira como dançava e porque cantava música negra (o rock and roll era considerado obsceno e negro), o coronel, primeiro fez um acordo que o despachou para a Alemanha por dois anos, durante a guerra e depois quando voltou enfiou-o em Hollywood a fazer filmes sem interesse nenhum com um ar atinadinho.
Houve um grupo que conseguiu convencê-lo a fazer aquele concerto especial de Natal, absolutamente fabuloso, onde ele renasceu - canta com a sua banda as músicas que o fizeram famoso, mas depois disso o coronel vendeu-o aos tipos de Las Vegas. Quem faz de coronel é o Tom Hanks e é muito bom a fazê-lo.
Fica-se com um gosto amargo porque percebe-se o que ele poderia ter sido em termos musicais e culturais se o coronel o tivesse deixado ser livre - poderia ter sido ainda muito maior do que foi. Elvis morreu com 42 anos.
Muito bom o filme. Gosto especialmente da primeira parte com aquele ambiente de música entre o gospel e o blues no Sul americano.
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