February 11, 2023

Como os responsáveis em Portugal denigrem o ensino e os professores subtilmente

 

E porque é que tenho zero respeito e interesse pelo que diz o Conselho Nacional de Educação. São pessoas que em vez de terem um papel construtivo e pedagógico, existem para destruir o ensino através da destruição dos professores. Este artigo é típico do tipo de veneno do ministro da educação.

Nele se diz que esta escola do Seixal tem péssimas condições e está num bairro problemático, mas tem professores que só pensam em trabalhar (para dar a entender que o problema das escolas em geral é que os professores não querem trabalhar). Todos os minutos da sua vida na escola estão num canto sem parar de trabalhar. 
Estes professores só fazem coisas excelentes porque são pessoas tão dedicadas aos alunos (portanto o problema do ensino é os professores em geral não serem dedicados aos alunos) que não se importam das condições miseráveis em que trabalham e nunca se queixam (portanto o problema do ensino é os professores importarem-se com as condições miseráveis em que trabalham e quererem condições de trabalho dignas e usarem disso como desculpa para os maus resultados). 

Que todos os professores e funcionários são são pessoas positivas que 'depositam' grande crença no sucesso dos alunos (isto raia o ridículo e desafia todos os conhecimentos que temos sobre seres humanos e condição humana), que defendem que a aprendizagem deve ser feita para a afectividade (para quem é bacalhau basta) e que estão todos contentes porque os alunos têm maus resultados académicos mas tendo em conta que são uns seres humanos de bairros miseráveis de várias nacionalidades, é excelente que não sujem o chão.

É preciso não ter vergonha na cara, nem o Conselho Nacional de Educação, nem o director desta escola que deixa publicar um artigo que é uma traição aos professores, alunos e trabalhadores em geral (e encarregados de educação) da sua escola.

O que está nas entrelinhas deste artigo:

1. os professores não precisam de boas (ou até razoáveis) condições de trabalho, precisam é de amochar calados e trabalhar todos os minutos, caladinhos, bem dispostos e sem queixas;
2. não é necessário ambicionar que os alunos tenham bons resultados académicos. São pobrezinhos e coitadinhos - basta que sejam amigos, obedientes e limpinhos. Ninguém espera ou se interessa que tenham sucesso académico intelectual ou profissional. Até fazem muito para o que se esperava deles.
3. o ministério da educação e o governo em geral não têm responsabilidade nenhuma em ter escolas em condições, ensino acessível e professores qualificados, motivados e bem pagos. Isso é nada necessário, desde que os professores tenham espírito de missionários e essa é a sua obrigação;
4. os bons professores são os que fazem milagres, quais Madres Teresas de Calcutá, em condições péssimas e todos os outros que se queixam e querem melhor são maus professores;

Conclusão: todos os professores das outras escolas que não trabalham o tempo todo pelos cantos em escolas que nem têm uma sala para os professores, sem se queixar das condições miseráveis das escolas e não fazem todos os dias milagres é porque não são bons professores. 
Este tipo de escola é inspiradora, é um modelo, diz o artigo e é a ela que todos devem aspirar. 

Devemos aspirar a uma escola destas... lembram-se da escola da Finlândia do post anterior? A Finlândia cujo ensino estão sempre a atirar-nos à cara? Que tem condições óptimas que aqui só alguns colégios particulares têm? Que tem turmas muito pequenas todas com os seus equipamentos electrónicos gratuitos, em escolas onde nada falta? 

Ainda bem que na escola do Seixal há professores a fazer bom trabalho, mas aquela escola é um modelo do que não se deve aspirar: péssimas condições, baixas expectativas, professores e funcionários em condições de guerra num país em paz. Infelizmente ainda existem escolas destas, como guetos e os governos não se interessam, nem em construir novos horizontes de escolas ou de sociedades mais justas, onde não haja lugar para estas escolas de miséria para os 'coitadinhos', mas este é um modelo de escola mais próprio do terceiro mundo que da UE.
E para quê? Para dar dinheiro a banqueiros que se queixam de ainda haver portugueses que podem ir jantar fora à sexta-feira. Tudo isto é miserável. 

O lema do ministro da educação, do senhor do Conselho Nacional de Educação e ao primeiro-ministro para os professores portugueses: 'pobrezinhos mas contentes'. Espera lá... já ouvi isto em qualquer lado...


A escola degradada no Seixal onde se fazem "milagres" diariamente

Numa escola degradada do Seixal, frequentada por alunos de 24 nacionalidades, todos os dias se fazem "milagres" e "ninguém é deixado para trás", num dos oito casos apresentados como "inspiradores" do relatório do Conselho Nacional de Educação, hoje divulgado.

A escola é antiga e nasceu paredes-meias com o Bairro da Jamaica, um dos mais problemáticos da área metropolitana de Lisboa. Na Escola Paulo da Gama, "não há grafitis, nem lixo no chão", descreveu à Lusa Filomena Ramos, assessora técnica do Conselho Nacional da Educação (CNE).
A técnica fez parte da equipa que durante uma semana passou ali os dias, falando com professores, funcionários, alunos e encarregados de educação.
A escola é um dos estabelecimentos de ensino onde os alunos do 9.º ano conseguem ter melhores resultados académicos do que seria esperado, tendo em conta a média nacional para escolas com alunos de contextos socioeconómicos semelhantes.

Na Escola Básica do 2.º e 3.º ciclos Paulo da Gama, todos são conhecidos pelo nome próprio e em todos é depositada a confiança no sucesso académico.
Professores e funcionários "acreditam que todos são capazes" e que a aprendizagem "é um percurso que pode demorar mais ou menos tempo".

Numa escola onde não é estranho encontrar jovens que deixaram os pais no país de origem para estudar, a "segurança afetiva" é muito importante.

De um dia para o outro, mudam de país, de cultura, de clima, de bairro. "A escola tem essa noção e tenta suprir estas carências", explicou, recordando as palavras da diretora que defende uma aprendizagem dos afetos em que os alunos sentem que "a escola se interessa por cada um deles".

A atitude dos docentes também surpreendeu os técnicos do CNE. Sem sala de professores para descansar ou trabalhar, eram vistos a "trabalhar em qualquer canto da escola", observou.

Uma escola com tão poucos recursos levou o CNE a considerar que ali se "fazem milagres".

As queixas da falta de condições que ouviram nunca serviam para justificar falhas no trabalho. 
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Escolas portuguesas típicas (no Seixal e não só):






reparam no chão, com a madeira verde de bolor? Típico...




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