February 07, 2023

A vida dos outros e porque não voltará a haver uma oportunidade destas I

 


Li hoje um artigo num jornal acerca de termos descido no índice das democracias do The Economist, porque houve democracias que nos passaram à frente e são agora democracias plenas. Nós somos uma democracia com falhas. Mas o importante, parece-me é que o movimento de democracias estava numa rota descendente e parou essa rota. Desde 2021 há mais democracias que evoluíram para híbridas e há democracias que são agora plenas. As excepções e, são excepções de grande peso, são a Rússia e a China que regrediram e não foi pouco. 

O que me parece importante é notar que estamos num momento decisivo, mas também num momento de uma oportunidade extraordinária que dificilmente voltará a apresentar-se. Estávamos numa rota muito perigosa de desagregação europeia. Muitos países a manifestarem desagrado com a União, a começarem a aventurar-se a dizer que talvez o melhor fosse sair da UE -a Inglaterra saiu-, uns a defenderem que devia deixar-se alguns países para trás economicamente e fazer dois grupo, países a fazerem leis que vão contra os princípios da democracia e a defenderem democracias sem liberdade e a Rússia a China a capitalizarem esta pré-dissolução e a entrarem cada vez mais no caminho da repressão e autoritarismo. A NATO sem liderança nem ânimo. Os EUA a afastarem-se. Já se falava na morte da Europa e dos valores democráticos europeus.

Eis que a Rússia invade a Ucrânia, pensando que vai ser business as usual, quer dizer, o Ocidente esbraceja um pouco mas finge não ver e deixa passar, como fez em 2014 e de repente surge um Zelensky que galvaniza o seu povo, põe os líderes da Europa, dos EUA e do mundo, na ONU, em brios e mostra que ele mesmo e o seu povo estão dispostos a pagar o último preço para se manterem na Europa e na democracia que querem ser. De repente, os países da Europa unem-se, a NATO ganha um ímpeto que andava perdido e as democracias da Europa, que estavam numa rota descendente, estacaram e recuperaram um pouco. Se não fosse este presidente, isto não tinha acontecido e uma pessoa destas que inspira o povo a lutar e a morrer também pela liberdade dos outros, só muito raramente na história surge e não se consegue fabricá-la, provocá-la. Foi uma sorte de conjugação de factores, que num caminho de derrapagem de liberdade, alguém fizesse de travão e invertesse a lógica.

Este é o momento para não deixar que os regimes autoritários, repressivos e com intenção de destruir as democracias vinguem. Pelo contrário, é o momento de aproveitar este braço-de-ferro gerado pela guerra para fazer recuar esses regimes e parece-me que não voltará a haver uma oportunidade destas em que a Europa e grande parte do mundo estão unidos e querem que a liberdade vença. 



 

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