Nestes últimos anos é comum os alunos dizerem-nos que não tiveram professor de matemática ou de inglês ou de português ou outra coisa qualquer durante um ano inteiro - o 8º, por exemplo. Depois no ano a seguir tiveram, mas o professor foi colocado no final do 1º período e passou o resto do ano a dar a matéria do 9º à pressa. Por conseguinte, não consolidou as aprendizagens do 7º ano (o que se faz no 8ª) nem as do 8º (o que se faz no 9º). Logo a seguir veio a pandemia e quase não tiveram aulas dessa mesma disciplina e outras porque não tinham PCs e as escolas não estavam preparadas. E entraram assim no secundário. Agora não conseguem tirar uma nota decente, mas isso não se deve à pandemia. A pandemia só aumentou um problema que já vem de trás, de não terem professores anos inteiros ou de num ano terem 4 professores a uma disciplina ou terem a disciplina por semestres e estarem dois anos sem a ter. A pandemia não é a causa dos atrasos nas aprendizagens, só os aumentou, mas os problemas já vêm de trás e há muito tempo.
Por exemplo, este ano tenho uma aluna que foi transferida e entrou na nossa escola no 2º período. Como na escola de onde vinha todas as disciplinas são semestrais, não traz notas (as avaliações seriam neste mês nessa escola de onde veio) e traz apenas umas linhas a dizer, que é trabalhadora ou algo do género. A primeira nota que vai ter numa pauta em todo este ano lectivo é em Abril, a um mês e meio do fim do ano. Isto não é razoável. Ela não tem noção dos seus progressos porque não tem notas e nós também não.
A escola pública está neste estado caótico por culpa da degradação da profissão que lhe impôs a Lurdes Rodrigues, no que foi seguida pelos outros posteriores e também pela ideologia de incompetência deste ministro.
Esta questão das disciplinas semestrais é paradigmática do que são as políticas de educação. Alguém aventa uma ideia para o ar, os outros acham giro e impõem sem pensar nem experimentar. As disciplinas semestrais fazem sentido em cadeiras que os alunos só têm uma vez no percurso escolar. Vamos supor que têm técnicas de pintura, uma vez apenas, no 7º ano. Em vez de terem uma aula por semana desgarrada e andarem sempre a perder a sequência a a prática, têm um semestre intensivo, imersivo. Agora uma disciplina como o inglês ou a história que têm todos os anos, se é dada em semestres, acontece no 7º terem a disciplina de Setembro a Fevereiro e só voltarem ao contacto com a disciplina em Março do ano seguinte, no 8º ano. Em idades de 12, 13, 14 anos, etc., um ano é uma imensidão de tempo e quando voltam a ter a disciplina já tudo se perdeu, nada se consolidou. Isto é típico das políticas de educação, estas imposições de gente que não percebe nada do que são os estudantes das escolas mas querem muito aparecer na TV como inovadores. Da tanga...
Na semana passada falei com vários pais porque houve reuniões intercalares. Os pais com quem falei -se bem que sejam poucos- estão todos a favor da nossa luta, apesar de estarem preocupados com a perda de aulas dos filhos, mas muitos deles já sentem na pele dos filhos, há anos, a falta de professores. Uma mãe dizia-me que não está de acordo com esta prática de todos os alunos passarem até ao 9º ano, mesmo sem irem às aulas ou sem fazerem nada. Depois, dizia ela, saem daqui, vão trabalhar (ela e o marido têm uma pequena empresa) e não fazem nada. Chegam atrasados todos os dias, respondem mal, não querem aprender nada, estão sempre a queixar-se, dizem que embirramos com eles... 'Olhe, vá dizer isso ao ME e ao primeiro-ministro, foi o que lhe respondi'.
Pelo meu agrupamento, estão semestralizadas as disciplinas que têm apenas uma hora semanal, mas há vontade de algumas mentes iluminadas em estender a coisa, que só não avança porque mentes brilhantes como a minha se têm batido contra tal. E a razão dada não é pedagógica, é mais para agradar às estruturas do ME.
ReplyDeleteO meu sobrinho, que frequenta uma escola bem maior, tem disciplinas como Ciências e Físico-Química, Inglês e Francês a funcionar em semestres.O miúdo não sabe o que «deu» ontem, quanto mais um ano antes!
Dito isto, o que me espanta é o alinhar dos diretores e dos professores a esta treta!
Há sempre acólitos que querem ir a correr agradar aos poderes, grandes e pequenos e vivem para isso.
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