January 21, 2023

Isto não é um braço de ferro e não é aceitável que numa democracia o governo se gabe de se ter unido contra os professores.

 


Há aqui um grande equívoco nesta luta dos professores. A maioria que está de fora vê isto como um braço de ferro, o ME e o primeiro-ministro também o vêem, de tal maneira que já vieram dizer que o governo está unido contra nós, professores. Este é o primeiro equívoco: o governo devia estar unido a favor da escola pública e dos professores porque quanto mais tenta prejudicar os professores, matar o espírito dos professores, mais prejudica os alunos, em primeiro lugar e, em segundo lugar, o país. 

O segundo equívoco é pensar que os professores e outros trabalhadores da escola estão nesta luta por despeito a fazer um braço de ferro. Isto não é um braço de ferro, isto são as nossas vidas: pessoas que estão no fim de uma carreira muito exigente física, intelectual e psicologicamente e vão-se embora no escalão do meio e o que os espera é uma reforma miserável muito próxima do salário mínimo; pessoas que há 20 anos que trabalham e nem sequer entraram na carreira; pessoas que estão os primeiros 15 ou mais anos de trabalho praticamente sem ver a família a calcorrear o país em condições miseráveis; pessoas que têm 500 alunos para dar atenção, ensinar e preparar; pessoas que trabalham na escola e depois vão para casa continuar a trabalhar para a escola, enterradas em papéis e grelhas que inventaram para controlar tudo o que fazemos até ao pormenor, por um salário mínimo. Em cima disto tudo, todos os dias os ministros da educação e os jornais nos ofendem com mentiras grosseiras que mostram que o governo está apostado em vergar os seus professores. Não é aceitável que o primeiro-ministro diga que escolheu os professores para serem os únicos trabalhadores da função pública a quem não vão devolver os anos de trabalho que roubaram e que tenha o descaramento de dizer que o dinheiro do país não suporta pagar-nos o que nos deve, no meio do regabofe de milhares de milhões todos os anos perdidos em corrupção, incompetência, desvios de orçamentos, desvios de fundos, indemnização milionárias, etc. Não é aceitável que numa democracia o governo se gabe de estar unido contra os professores.

E esta luta é também contra as políticas deste ministro que estão a destruir completamente a qualidade da educação pública. As coisas estão muito piores nesse aspecto do que podemos dizer aqui publicamente porque não podemos vir aqui falar de casos particulares que são imediatamente identificáveis. 

Não é esta greve que prejudica os alunos. Não é por causa dela que os alunos estão sem aulas. Eles estão sem aulas porque não há professores. No ano que vem 150 mil alunos não vão ter professores a pelo menos uma disciplina. E no ano a seguir 250 mil. Cada professor que se reforma deixa entre 100 a 400 alunos sem aulas, porque cada professor têm muitos alunos. O que prejudica os alunos é carreira ser tão má que ninguém quer ser professor. E nos anos que vêm preparem-se para terem pessoas no 1º ano da faculdade de qualquer curso a dar aulas ao 12º ano de qualquer disciplina.

Estas pessoas que escrevem estes artigos, reconhecem que há anos que os professores vêm a ser maltratados, mas defendem que têm que continuar a ser maltratados porque agora é tarde para endireitar o que foi mal feito... parecem não perceber que, se não se resolvem os problemas agora e se se continua a adiar o que tem de ser feito, está-se a  defender o agravamento de todos os problemas. É o que chamo desresolver problemas. 

Portanto, porque é que estes senhores, em vez de pressionarem para que voltemos ao trabalho nestas condições que reconhecem serem catastróficas, não pressionam o governo para não ser inimigo dos professores e dos alunos? Sim, porque quanto mais o governo nos destrói e põe pais contra nós, mais prejudica os alunos.


Alguém vai ter que ceder

As suas reivindicações são, no essencial, válidas, mas têm uma limitação de base: não podem ser atendidas todas ao mesmo tempo. Não é possível resolver num passe de mágica problemas que se arrastam há anos. E que custam muitos, mas muitos, milhões de euros.

Por isso, só há uma saída possível: negociar com realismo e bom-senso. A bem dos professores, mas sobretudo da escola, das famílias e dos alunos, as maiores vítimas indiretas desta batalha. Dar pouco não é melhor do que não dar nada...


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