December 01, 2022

Quando um buraco negro engole uma estrela




Fui dar com este título e assim que li o meu cérebro disparou imediatamente a imagem do governo PS como grande buraco negro que engole toda a riqueza do país mas não dispara nada de retorno. Às vezes vomita e é o melhor que sabe fazer. Outro dia disseram-me que a média de utilização dos fundos europeus em Portugal anda nos 14% (este ano não chegou aos 10%) enquanto a média de Espanha, por exemplo, anda nos 90%. Sei que sou uma optimista delirante, porque quando li que tinha havido uma remodelação do governo pensei, 'finalmente vamos ver-nos livres deste poço de incompetência e falta de ética que é o ME e, quem sabe, do ministro das finanças' (a filha do pai sabemos que é inamovível) mas não, não houve remodelação nenhuma que torne este governo mais competente e sério. Aconteceu que uns secretários de Estado passaram do gabinete do João para o do Manel, dois andares mais abaixo ou mais acima.

E já que falamos em engolir, parece-me que ninguém engoliu aquela farsa de comunicado do ME a dizer que não, que não vai acabar com os concursos - que trazem transparência à contratação de escolas- e impor o nepotismo, a opacidade e outros vícios que interessam a quem só sabe desresolver problemas. Ele disse isso, penso, para não ter chatices nas vésperas de Natal e dar uma saída airosa aos sindicatos, pois assim, quando tudo for adiante, sempre podem dizer que fazem nada porque foram enganados e são umas vítimas.

Esta semana em conversa com um colega ele dizia e eu concordava, que aquilo que as escolas deviam fazer e os sindicatos organizar era baixar o nível do nosso trabalho ao salário e tratamento de carreira que nos dão. Trabalhar com os alunos e os pais, sim, mas tudo o resto não: visitas de estudo que dão uma trabalheira e representam muitas horas extraordinárias não pagas (às vezes vários dias em outra cidade ou país que é um inferno organizar), não; festinhas de Natal e de comemoração disto e daquilo nas escolas, clubes disto e daquilo, que dão uma trabalhadeira e representam muitas horas extraordinárias não pagas, não; reuniões em horário pós-laboral que representam muitas horas extraordinárias não pagas, não; apoios ao estudo (explicações) que o ME manda que sejam consideradas horas não-lectivas, mas que representam muitas horas de preparação e de lecionação não paga, não; clubes e actividades extra que as escolas têm às dezenas, não. Reuniões, preenchimento de dados infindos em plataformas que representam trabalho de borla para o Instituto Nacional de Estatística e para as estatísticas do currículo pessoal do ME, não. Portanto, muitos de nós não estamos de acordo com estas greves que servem para nada. Era preciso que 100 mil professores fizessem greve durante um mês para isso mudar alguma coisa. Na última greve às avaliações, que não fiz porque estava de baixa a fazer quimioterapia e radioterapia, mas que acompanhei através de colegas e dos jornais, soube que o ME mandou ordens não assinadas para as escolas a dar instruções para se fazerem ilegalidades, que fez sair portarias com ordens ilegais para os directores passarem por cima dos conselhos de turma de avaliação, perseguirem professores, etc. As direcções, em geral, obedeceram a tudo. São muito bem mandados. Portanto, dado que o ministro não foi remodelado e tem refinado o seu MO, espera-se mais do mesmo, mas de maneira mais encapotada e enviesada. Só vejo prejuízo, nenhum ganho.


Quando um buraco negro engole uma estrela, os restos são disparados em jacto

É um fenómeno raro – ou melhor, muito raro. (Público)

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