November 30, 2022

Leituras pela madrugada - as redes sociais e o risco de extinção

 



A Extinção é um risco real': Jaron Lanier adverte para a ameaça existencial da tecnologia à humanidade




"As pessoas sobrevivem passando informações entre si", disse Lanier, de 61 anos. "Estamos a confiar essa qualidade fundamental do ser-se humano num processo que tem um incentivo inerente de corrupção e de degradação. O drama fundamental deste período é descobrir como sobreviver adequadamente com esses elementos ou não".

O foco exagerado no Twitter nos últimos meses após a sua caótica tomada de controlo pelo bilionário Elon Musk levanta os receios antigos acerca do Facebook e outros, incluindo representantes do Estado. 
Lanier menciona "agentes psicológicos" que trabalham para Putin e para o aparelho de estado comunista chinês. Todos eles estão a filtrar informação ou a promover informação em seu proveito. Em suma, a web não é um mercado livre de informação, como inicialmente se previa. É um sistema violado de forma desenfreada.

"Há todo o tipo de intermediários. Podem ser os proprietárias de uma plataforma ou outros que são bons a exercer influência sorrateiramente. Alguns influenciados são oficiais, outros camuflados. Alguns são competentes, outros incompetentes. Alguns são aleatórios, como um algoritmo que alguém fez mas não compreendeu. Os riscos desta distorção são elevados e a extinção é um deles. Se conseguirmos coordenar-nos para resolver a crise climática, por exemplo, isso seria um sinal fundamental de que não nos tornámos completamente disfuncionais", disse ele.

Lanier ajudou a criar ideologias modernas - o futurismo da Web 2.0 e o utopismo digital. Mas Lanier já não é um fã da forma como a utopia digital está a surgir. Chamou-lhe "maoísmo digital" e acusou gigantes tecnológicos como o Facebook e o Google de serem "agências de espionagem". E tem sido brutalmente claro sobre o que vê como as consequências de uma dependência excessiva dos meios de comunicação social: cada pessoa receberá tanto vídeos de gatinhos como da guerra civil.

No seu livro de 2010, You Are Not a Gadget: A Manifesto, alertou para os perigos das ideologias da web e da "mente da colmeia" que poderiam conduzir a uma "catástrofe social". Agora chama a atenção para a teoria do 
"condicionamento operante" do psicólogo Skinner - também chamado, comportamento controlado pelas suas consequências, termo cunhado em 1937.

Nos estudos de Skinner, os ratos de laboratório foram submetidos alternadamente a choques eléctricos e recompensas para conseguir uma mudança no seu comportamento de resposta. Nas redes sociais, diz ele, experimentamos algo semelhante através de experiências agradáveis ou desagradáveis que nos levam a mudar o comportamento: aprovação, desaprovação ou rejeição e criação de padrões viciantes para indivíduos e depois - por procuração - eventualmente sociedades inteiras, são técnicas de manipulação online.

Num recente artigo de opinião do New York Times, Lanier escreveu observou um afunilamento no comportamento público de pessoas que utilizam muito o Twitter e outras redes sociais. Destacou, Elon Musk, Donald Trump e Ye (Kanye West), que ultimamente estão muito nas notícias. Estas pessoas, "que tinham personalidades distintas, agora convergem para uma personalidade semelhante com um comportamento comum, neste caso de «miúdos mimados»
 - um resultado talvez de ser "envenenado pelo Twitter", um termo mais contemporâneo para o condicionamento operante.

"É difícil estabelecer uma ligação causal com a nossa disfunção actual porque se olharmos para a historia vemos que as pessoas desde sempre fazem coisas terríveis, mas a questão mais profunda aqui é saber se somos suficientemente sãos para comunicar e coordenar para a nossa sobrevivência enquanto espécie. 
Isso é mais importante do que saber se estamos a tornar-nos uns idiotas, porque os idiotas podem potencialmente sobreviver, mas as pessoas com incapacidade de comunicar de uma forma directa umas com as outras, não podem", diz.

"Mesmo as pessoas que estão dispostas a cooperar podem não ser capazes de o fazer porque não estão a operar num ambiente em que são ouvidas da forma que imaginam", por causa dos filtros e dos intermediários, sejam algoritmos, intermediários com poder ou espiões dos Estados. "Neste momento não temos confiança de que o que dizemos será ouvido correctamente", diz ele.

"Eu próprio não sei se estou a ser ouvido correctamente. Se eu fizer uma previsão sombria e ela se tornar realidade, significa que não teve utilidade. Não pretendo ter todas as respostas, mas acredito que a nossa sobrevivência depende da modificação da Internet - para criar uma estrutura que seja mais amigável à cognição humana e à forma como as pessoas realmente são".


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