November 30, 2022

A intolerância (ou estupidez) humana

 

Que o direito a casar com que se quer ainda tenha que ser vertido em forma de lei para ser respeitado, diz muito da intolerância e estupidez humanas. Ano sim, ano não, tenho, ou ouço contar, histórias de alunos que têm irmãos ou irmãs que foram rejeitados pelas famílias por terem casado fora das regras da comunidade ou da religião. Os testemunhas de Jeová são especialmente fanáticos: primeiro têm 10 ou 12 filhos, mesmo sem condições para os criar e educar; depois, se algum deles se casa com um ateu ou ele mesmo se torna descrente e deixa a religião, os pais obrigam os outros filhos, sob pressão da igreja, a cortarem relação com esse irmão, sob pena de eles mesmos serem ostracizados pela família. Põem os miúdos num dilema imoral e psicologicamente destrutivo. Convencem-nos que, se falarem com os irmãos descrentes, perdem privilégios dentro da religião - é uma daquelas religiões que pregam a ideia de que uns felizardos nascem com a graça divina e os outros estão tramados. Separam famílias e destroem os filhos. Que as religiões, que pregam o amor, sejam focos de intolerância fanática com milhões de seguidores, diz muito sobre a natureza humana. Os conselheiros bíblicos dos testemunhas de Jeová (os seus mullahs) dizem aos adolescentes que devem ter cuidado com os professores de filosofia e desconfiar deles porque criam a dúvida, de maneira que ter aulas de filosofia é uma espécie de lutar contra o demónio. Aqui há uns anos uma aluna, no primeiro dia de aulas do 10º ano disse-me que tinha medo da filosofia e de mim porque lhe tinham dito que a filosofia faz as pessoas deixarem de acreditar em Deus. Mas enfim, aquele divulgador científico espalhafatoso, Neil deGrasse Tyson, também defende que deviam proibir a filosofia porque faz demasiadas questões incómodas à ciência e cria dúvidas.

 

4 comments:

  1. Acredito que seja uma religião que limita bastante a liberdade humana, já de si tão débil. Contudo, tive várias alunas Testemunhas de Jeová - boas alunas a filosofia - e que eram mesmo bastante questionantes. Parecia-me gostarem da disciplina. O único senão é que uma por outra se lembra de quando em vez de me visitar naqueles seus passeios catequisantes em manhãs de domingo:). Não me aborrecem com discurso, mas deixam-me uns folhetos e é sempre um prazer revê-las formadas e já com família própria.

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  2. Os alunos que já tive dessa religião eram todos bons alunos. São educados naquela disciplina do dever e como acreditam, à semelhança dos protestantes, que excepto uns felizardos que nascem já em graça, os outros têm que matar-se a trabalhar para charem a atenção de Deus, trabalham muito. E eram quase todos pessoas questionadoras, mas muito instáveis psicologicamente.

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  3. As minhas alunas eram umas queridas. Psicológicamente instáveis? Não dei por nada. E olhe que - era o tempo de turmas de 12º mais ou menos pequenas - demos alguns pequenos passeios juntas em horários extra escola; houve mesmo uma que se inscreveu no grupo de teatro escolar em que eu participava e era impecável na ajuda e achegas, embora sem grande arte para representar. Não notei nelas mais do que simpatia e disponibilidade um pouco mais largas que no resto da turma. E, apesar de, por premência de outros compromissos, nunca ter estado presente nos cerimoniais de páscoa para que anualmente me convidam, continuam irrepreensíveis e enviam-me a cerimónia por vídeo. Têm nomes bíblicos que eu confundia, chamei sempre Ruth à Esther, por exemplo.
    Talvez eu tenha tido sorte com as alunas que me calharam. Tive um colega que era adventista e, à parte as sextas feiras dele em que não aceitava nada de diversão connosco, era normalíssimo. Mas é verdade que lhes encontro certo espírito de clã, gostam de casar entre si. É isso que lastimo nas minhas antigas alunas, embora elas me pareçam felizes como muitas outras não são. Enfim...
    Bom dia

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  4. Essa não é a minha experiência. Por norma esses interessam-se pela filosofia, penso que pelo facto da filosofia desafiar muitas das suas tradições e crenças de modo convincente e acabam por vir falar comigo no fim das aulas. Primeiro fazem muitas perguntas e depois acabam por exteriorizar os conflitos internos e dúvidas relativamente à educação extremista dessa religião e o que vejo, é que quase todas são pessoas em grande conflito interno entre o medo da família e da religião e o desejo de se expandirem emocional e intelectualmente e de se libertarem. Porque essa religião é um poço de preceitos contraditórios e irracionais devido ao literalismo da interpretação que fazem dos textos da Bíblia.

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