O Outono vem comer à minha mão a sua folha, somos
Descascamos o tempo das nozes e ensinamo-lo a andar:
o tempo regressa à casca.
No espelho é domingo,
no sonho dorme-se,
a boca diz a verdade.
Olho a nudez da amada:
olhamo-nos,
dizemos coisas obscuras um ao outro,
amamo-nos como papoila e memória,
dormimos como o vinho nas conchas,
como o mar no raio de sangue da lua.
Estamos abraçados à janela, olham para nós da rua:
é tempo de saberem!
É tempo de a pedra se dispor a florir,
para que o desassossego faça bater o coração.
É tempo de ser tempo.
É tempo.
— Paul Celan*
(Tradução de Maria Teresa Dias Furtado)
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*Poeta Suicida
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