September 07, 2022

Para ver é preciso mais que ter olhos




Sofi Oksanen

@SofiOksanen


Estou grata à #Ucrânia, porque:

- Há 20 anos que escrevo sobre colonialismo da Rússia e as suas consequências. Eu defino-me como uma autora pós-colonial, mas sempre que disse isto, os jornalistas ocidentais em geral não compreenderam o que queria dizer: não ligavam a história da ocupação da Estónia pela URSS a colonialismo. Desde Fevereiro que não tenho de explicar isto.

- Tornou visível a questão da energia como arma. Embora a Rússia a tenha usado durante séculos, os países ocidentais simplesmente não a viam.

- Tornou visível a apropriação cultural russa. Até o Google definia como russos, Repin e Gogol, que são ucranianos. O Ocidente não compreendia que fosse um problema, embora soubessem que a apropriação cultural é um instrumento para fazer com que o colonialismo pareça "justificado" ou "natural".

- Tornou visível o colonialismo russo. Nos Estados Bálticos, já assistimos à ascensão dos ventos coloniais quando Putin subiu ao poder. Mas o Ocidente era surdo às nossas palavras a este respeito.

- Tornou visível a retórica nazi russa e finalmente parece que os países ocidentais compreendem que para a RU, ser nazi é sinónimo de ser, não-russo. Nos Estados Bálticos, temos sido chamados nazis pelos russos desde 1940. Mas o Ocidente era totalmente surdo a isto e, quando a Rússia nos chamou nazis, o Ocidente começou a procurar nazis nos nossos países, embora devessem estar à procura de nazis no Kremlin.

Vou terminar por agora com um facto "curioso": os actores bálticos tiveram sempre a «honra» de representar os nazis no cinema soviético.

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