Uma ex-aluna do Técnico escreve um artigo sobre psicologia, embora seja engenheira. Alega, a partir das estatísticas da depressão entre os jovens universitários (os outros jovens não universitários também têm taxas altas de depressão mas ela ignora-o), que a culpa é das universidades e até sabe a causa:
(...) porque lhes é exigido mais do que é humanamente possível, ao ponto de sofrerem burnout ou de pensarem suicidar-se. E, neste contexto, que profissionais estamos a formar?
Ela sabe, porque consultou documentos, que a causa não está nas universidades, mas conclui que de certeza que, em grande parte, está:
Na maioria dos casos não, mas com toda a certeza as universidades têm a sua quota parte da responsabilidade.
E conclui o artigo dizendo que há uma degradação da saúde mental das populações e que por isso as universidades devem trabalhar para a felicidade dos alunos:
Numa altura em que assistimos a uma rápida degradação da saúde mental geral das populações, ignorar taxas de ideação suicida como as sugeridas pelos estudos apresentados, ignorar a experiência de alunos com episódios de burnout e ansiedade, é condenar centenas de alunos à infelicidade e, em casos extremos, a provocarem a sua própria morte. Precisamos de dar acesso generalizado, diversificado e profissionalizado a cuidados de saúde mental a todos os nossos estudantes universitários e em politécnicos, para garantirmos que teremos um futuro cheio de bons profissionais. (Engenheira e alumni do Instituto Superior Técnico, presidente do Volt Portugal)
Este é um artigo leviano que acusa as universidades de serem causadoras de doenças mentais e levarem os alunos aos suicídio por não estarem vocacionadas para a felicidade.
Uma coisa é saber-se da adequação dos cursos às idades dos alunos, ter psicólogos e tutores nas instituições de ensino, preocupar-se com a despersonalização das aulas dado o tamanho das turmas, etc., outra coisa é querer que os cursos sejam feitos à medida dos desejos de felicidade de cada aluno, como se coubesse às instituições de educação resolver os problemas psicológicos e filosóficos dos indivíduos que as frequentam e das populações em geral. Como se o professor de mecânica II tivesse a responsabilidade de formar filosófica, espiritual e psicologicamente os seus alunos. Como dizer o óbvio? As aulas não são terapia de grupo. Se os alunos entendem que o Técnico é uma universidade muito exigente, frequentem outra menos exigente.
Os alunos de hoje passam o tempo em pânico com qualquer coisinha e a sentirem-se vítimas de tudo e mais alguma coisa. Se entregam uma justificação de faltas na segunda-feira de manhã e ao fim do dia não está justificada, coisa que vêm no programa de alunos online, enviam emails, ligam para a escola, o filho no dia seguinte anda em pânico à nossa procura, ligam para a direcção, em pânico... apesar de estarem avisados que temos uma hora/dia específicos no horário para tratar de assuntos da direcção de turma e que não é a qualquer hora/dia. Apesar destes avisos, se enviam um email e não recebem resposta no mesmo dia vão à direcção queixar-se. Se não os atendemos quando resolvem bater à porta da sala de aula e interromper a aula para falar duma falta qualquer do filho, vão à direcção queixar-se que o director de turma recusou recebê-los...
Um aluno falta muito às aulas e recusa apoio ao estudo de matemática, por exemplo, porque tem treinos de futebol na equipa em que joga, não profissionalmente e não tem tempo. Começa a ter más notas. A mãe vai a escola dizer que o filho é vítima de má fé dos professores porque tem direito a andar no futebol e é natural que esteja cansado para vir às aulas...
Quando se passa o tempo a falar dos direitos dos alunos -deveres, zero- e de como os professores são todos aldrabões, canalhas, velhacos enganadores que não prestam, naturalmente os pais e os filhos pensam que são grandes vítimas das escolas, primeiro e depois continuam nas universidades. E, como acontece a quem se sente vítima, estão sempre em pânico.
Os pais irem às universidades queixarem-se dos professores e das notas dos filhos não é comum em Portugal, por enquanto, porque a proletarização do ensino superior ainda vai a meio, mas lá chegaremos.
Falta de maturidade, de se acharem o topo do mundo e quando as coisas não correm bem, vítimas de tudo e todos. Conheci assim alguns na faculdade, também...No fundo, os casos que conheci resultavam mais de nunca terem ouvido um não e de terem sido sempre protegidos pelos pais do que outra coisa qualquer...Viviam numa bolha e a bolha rebentava e pronto, não tinham mecanismos para lidar com isso.
ReplyDeleteLuna
Vivemos numa sociedade insana e sem equilíbrio, mas não é a escola ou a universidade que vão resolver os problemas sociais, a não ser muito indirectamente, na medida em que ajudarem a criar pessoas mais bem preparadas e conscientes. A questão da infelicidade e do bem-estar psicológico não são questões académicas como esta ex-aluna quer aqui vender. Uma coisa é criar um ambiente academicamente equilibrado outra é querer que a universidade erradique a infelicidade, a frustração e a incapacidade de alguns ou muitos alunos.
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