- Excelência, escolas de excelência, ensino de excelência - quem usava muito estas expressões era Sócrates. Em primeiro lugar, o termo perdeu significado, de tanto ser usado. O que se considera excelente: os professores serem todos excelentes? Os alunos serem todos excelentes? As condições da escola serem excelentes? Os currículos serem todos excelentes? Os pais e encarregados de educação serem todos excelentes? E a excelência corresponde a quê? Todos os alunos terem a classificação máxima? Todos os alunos andarem entusiasmados com a vida, como almeja, com ignorância, o chefe da banda? Há uma grande propaganda fomentada pelos políticos e veiculada pelos jornais em torno desta palavras. Todos os anos aparecem vários artigos de jornal com títulos, 'fulano ou fulana de tal são alunos excelentes, tiraram 20 nos exames'. Como se esse fosse o objectivo da educação escolar. O termo excelência está conotado com um certo tipo de alunos que tira notas máximas a todas as disciplinas e que é muito bom ou excelente em outras actividades curriculares. Ora, se é isso que se pretende, não se pode, ao mesmo tempo, querer uma escola inclusiva, pois a inclusão tem de abarcar todos os outros que não correspondem ao estereótipo. Fomentar a ideia de que o que é bom e satisfaz é ser excelente é contrário a todos os propósitos pedagógicos e condições de aprendizagem. Há muitos alunos nos dias de hoje que sofrem por não ser excelentes. Têm esse propósito inculcado -de tanto levarem com a propaganda em cima- e levam muito tempo a ajustar as expectativas que têm de si mesmos com prejuízo próprio e completamente desnecessário. Não me lembro, quando era estudante, de alguma vez querer ser excelente. Nem os colegas. Havia quem estudasse muito e gostasse de ter boas notas, mas por ser competitivo e não por uma ideia oca de excelência. A excelência, é como a vida: só no fim e olhando para trás é que podemos dizer o que fomos, a partir do que fizemos.
- Escola de elite- usa-se este termo para querer dizer que é uma escola onde os alunos são excelentes devido aos professores e à direcção serem excelentes. Ora, todos sabemos que as escolas de elite são as escolas onde 99% dos alunos vêm de contextos socialmente ricos, em todos os sentidos: em dinheiro, em experiências culturais, em facilidade de recursos, etc. Esta ideia, frequentemente atirada para contrastar com a escola pública, que é inclusiva, não acrescenta nada à educação e às escolas a não ser mais distância do que a que já as separa em termos de recursos e contextos familiares. De resto, são os representantes dos colégios particulares e não as escolas públicas, quem anda sempre a pedir para que se acabe com os exames nacionais. Vá-se lá saber porquê... Há pouco tempo estava numa formação e o formador, que dá aulas num colégio particular, começou a dizer temas que trabalhava com os alunos e como eles respondiam e depois vendo que aquilo não é o normal, acrescentou com um sorrisinho de satisfação, 'eu só tenho alunos de excelência' - aqui, deu-se conta do que tinha dito e acrescentou muito depressa, 'mas este colégio não escolhe alunos'. LOL Tarde demais para dizer isso. Foi um bocadinho desapontante. Se tem só alunos de um certo meio, é pá, assuma, que diabo. Não é nenhum crime. Pois não, mas as pessoas querem parecer que conseguem as coisas sem condições prévias. Querem parecer excelentes.
- Paixão pela educação - quem dizia muito isso era Guterres, antes de abandonar o governo e ir embora. É um termo vácuo, não quer dizer nada.
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