June 01, 2022

Os problemas que os políticos nos deixam em herança e que fingem não saber



A conversa de Louçã faz lembrar o ministro da educação quando diz que herdou um problema de falta de professores. Louçã é parte activa do sistema -é do partido da geringonça e um apoiante das políticas do PS que está no governo há 14 anos com um breve hiato de três; ainda é conselheiro de Estado- que desembocou neste problema mas fala como se fosse alheio ao assunto e estivesse espantado de o descobrir.

Quem ficou hoje espantado de o descobrir foram os meus alunos - hoje estivemos a falar deste problema nas aulas porque estou a acabar o programa com o tema da teoria da justiça de John Rawls e a sua regra maximin corresponde a este subir do salário mínimo à custa do salário médio e tem riscos muito grandes, sendo um deles a fuga de talentos do país e outro a desmotivação para o estudo. 
Os alunos não tinham ideia do problema mas depois de terem visto a aplicação da regra e o caso português chegaram sozinhos a essa conclusão: mas de que vale ir estudar e investir numa profissão onde começamos por nem ganhar nada se queremos um estágio para acabar a ganhar mais cem euros que uma pessoa que nem acabou o 12* ano e não teve ou tem que investir em nada? E se calhar nem tem responsabilidades. E uns perguntavam porque não se podia subir o salário a todos. Não há dinheiro? Haver há mas tem sido gasto de maneira irresponsável e até criminosa e de qualquer modo, não é assim que as coisas funcionam. Ficaram siderados. Não sabiam da realidade que estes senhores criaram.



Os talentos já fugiram, queriam que ficassem?

As ofertas de empregos para os “talentos” são raras e os jovens sabem que, normalmente, lhes vai ser proposta uma remuneração colada ao salário mínimo. Os “talentos” emigram e não é difícil perceber a razão, a escala meritocrática é uma ilusão que esbarra na realidade do emprego em Portugal

O Manpower Group é um susto. Se abrirmos a sua página nacional, as boas notícias são esfuziantes: Portugal será no terceiro trimestre deste ano o segundo país europeu com “maior perspetiva de criação de emprego”. Se, em contrapartida, abrirmos a sua página internacional, o Talent Shortage Survey 2022 dá-nos a mais sombria das notícias: Portugal será o segundo país do mundo com “maior escassez de talentos”, uma escassez que atinge um máximo histórico de 16 anos, e 85% dos “empregadores” têm dificuldade em contratar trabalhadores qualificados. Ficamos atrás de Taiwan, seguem-nos de perto Singapura, China, Hong Kong e Índia, uma listagem que dá que pensar – são todos países com abundante mão de obra barata, mas com falta setorial de especialistas. Então, o emprego vai de vento em popa ou estamos no buraco em que ou não existem trabalhadores qualificados ou já emigraram? O problema é mesmo que as duas afirmações podem ter um grão de verdade.

(...)

As ofertas de empregos para os “talentos” são raras e os jovens sabem que, normalmente, lhes vai ser proposta uma remuneração colada ao salário mínimo. Os “talentos” emigram e não é difícil perceber a razão, a escala meritocrática é uma ilusão que esbarra na realidade do emprego em Portugal. A conclusão evidente para tanta gente é que só vale a pena tirar um curso para ir trabalhar no estrangeiro, fugindo a uma situação degradante em que muitas empresas se habituaram a pagar o mínimo para exigirem o máximo. Temos mesmo um problema a bordo.

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