A conversa de Louçã faz lembrar o ministro da educação quando diz que herdou um problema de falta de professores. Louçã é parte activa do sistema -é do partido da geringonça e um apoiante das políticas do PS que está no governo há 14 anos com um breve hiato de três; ainda é conselheiro de Estado- que desembocou neste problema mas fala como se fosse alheio ao assunto e estivesse espantado de o descobrir.
Quem ficou hoje espantado de o descobrir foram os meus alunos - hoje estivemos a falar deste problema nas aulas porque estou a acabar o programa com o tema da teoria da justiça de John Rawls e a sua regra maximin corresponde a este subir do salário mínimo à custa do salário médio e tem riscos muito grandes, sendo um deles a fuga de talentos do país e outro a desmotivação para o estudo.
Os talentos já fugiram, queriam que ficassem?
As ofertas de empregos para os “talentos” são raras e os jovens sabem que, normalmente, lhes vai ser proposta uma remuneração colada ao salário mínimo. Os “talentos” emigram e não é difícil perceber a razão, a escala meritocrática é uma ilusão que esbarra na realidade do emprego em Portugal
O Manpower Group é um susto. Se abrirmos a sua página nacional, as boas notícias são esfuziantes: Portugal será no terceiro trimestre deste ano o segundo país europeu com “maior perspetiva de criação de emprego”. Se, em contrapartida, abrirmos a sua página internacional, o Talent Shortage Survey 2022 dá-nos a mais sombria das notícias: Portugal será o segundo país do mundo com “maior escassez de talentos”, uma escassez que atinge um máximo histórico de 16 anos, e 85% dos “empregadores” têm dificuldade em contratar trabalhadores qualificados. Ficamos atrás de Taiwan, seguem-nos de perto Singapura, China, Hong Kong e Índia, uma listagem que dá que pensar – são todos países com abundante mão de obra barata, mas com falta setorial de especialistas. Então, o emprego vai de vento em popa ou estamos no buraco em que ou não existem trabalhadores qualificados ou já emigraram? O problema é mesmo que as duas afirmações podem ter um grão de verdade.
(...)
As ofertas de empregos para os “talentos” são raras e os jovens sabem que, normalmente, lhes vai ser proposta uma remuneração colada ao salário mínimo. Os “talentos” emigram e não é difícil perceber a razão, a escala meritocrática é uma ilusão que esbarra na realidade do emprego em Portugal. A conclusão evidente para tanta gente é que só vale a pena tirar um curso para ir trabalhar no estrangeiro, fugindo a uma situação degradante em que muitas empresas se habituaram a pagar o mínimo para exigirem o máximo. Temos mesmo um problema a bordo.
No comments:
Post a Comment