June 08, 2022

O «modus vivendi» das escolas

 


Hoje num intervalo uma colega dizia-me que tinha recebido 44 provas de exame do 8º ano para classificar e que tem de fazer o trabalho enquanto dá as aulas às turmas do 8º ano e prepara o 11º ano para os exames e ainda faz o trabalho de diretora de turma do 11º ano.

A rapariga estava chocada e enervada. Só quem nunca viu exames é que não sabe o que aquilo é: são 6 horas por dia sentada à secretária sem levantar o nariz. Como é que é possível que dêem esses trabalho no meio do resto do trabalho?

Disse-lhe que nos exames, tanto quanto sei, a não ser que este ex-SE, agora ministro, tenha mudado as regras, quando nos dão provas para classificar ficamos libertos dos outros trabalhos porque aquilo é, todo o trabalho. 

É claro que os exames nos são entregues quando já não há aulas, porque os exames são após as aulas de maneira que perguntei, 'mas agora há exames no 8º ano durante as aulas?' Não, não há. Há umas provas de aferição que não servem para nada nem os alunos as levam a sério porque sabem que não conta para a nota, mas que o ex-SE, agora ministro, quer que os professores façam para depois fabricar estatísticas e dizer por aí que tem registos de aferição de conhecimentos e que isto é tudo a sério.

O que isto é, é um abuso. Como se pode dar 4 ou 6 aulas por dia, mais o trabalho do DT e as outras grelhas infernais que este indivíduo inventou com a ex-SE Leitão e ainda acabar os programas curriculares e depois ir para casa fazer mais 6 horas de classificação de provas?

Este é o «modus vivendi» das escolas, inventado por estes indivíduos que depois dizem por aí que o ensino vai mal porque são precisas reformas e os professores estão instalados...

Hoje tive a penúltima aula com uma turma. Como tinha acabado o programa na aula anterior e não tinha tido tempo de avaliar este tema, pu-los a fazer um trabalho engraçado (engraçado para mim...) para avaliar o tema da Filosofia Política de Rawls. Embora depois se tenham entusiasmado, porque aquilo dava para fazer descontraído, começaram com suspiros e queixas de cansaço. Estão cansados. Mas a questão é que têm de ser capazes de manter um nível de energia consistente para chegarem ao fim do ano e se concentrarem no que é preciso até ao prazo final. Disse-lhes, quando tiverem exames têm que chegar ao fim do ano capazes de se galvanizarem para reverem matéria e irem lá fazê-los.

Depois contei isto a uma colega que me disse que também os nota a esmorecer e disse-me, 'tu como não dás aulas ao básico, não tens noção do que se passa. No básico é suposto introduzirmos os alunos nos processos básicos de construir conhecimento e fazer trabalho, mas de há uns anos para cá é extremamente difícil porque eles sabem que trabalhar ou não trabalhar, vir às aulas ou faltar, é igual porque passam todos na mesma. Por conseguinte, como a tendência das pessoas é procrastinar e deixar andar, sabendo que podem fazê-lo e ter muito sucesso, é o que fazem. Depois, chegam ao secundário completamente impreparados'.

Calculo que o futuro será alargar esta catástrofe de políticas deste ex-SE, agora ministro, ao secundário e chegarão todos à universidade, imaturos e impreparados, mas felizes. Havemo de vê-los queixarem-se do que nos queixamos há anos.

Os professores universitáriso têm sido cúmplices destas políticas porque têm grande ignorância e ódio e desprezo pelos professores das escolas. O que vale é que já não irei apanhar isto a não ser nas fímbrias porque não tenho feitio para mentir aos alunos e agora já passei a idade de aprender a ser estúpida.


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