May 07, 2022

Espero que não se perca este «momentum» da História




Tom Nichols

@RadioFreeTom

Em quarenta anos de estudo #Rússia, o que mais tentei perceber foi como que esta notável e imensa nação, uma fonte de génio cultural e científico, também está de tal forma dilacerada pela ignorância e insegurança que é incapaz de viver em paz com o mundo.

Vou escrever mais sobre isto noutra altura, mas é espantoso que a Rússia - uma nação também capaz de proezas notáveis de heroísmo e realização - nunca tenha sido capaz de superar a sua própria cultura política. Pode-se culpar os soviéticos por muito disto - eu culpo - mas não por tudo isto. 

Outras nações têm conseguido superar histórias feias. Por vezes através da derrota na guerra, outras vezes através do desenvolvimento e do progresso. Os russos, abraçando ardentemente um sentimento de vitimização, reivindicam uma isenção especial, especialmente depois da II Guerra Mundial. Agarram-se a ela. 

E no entanto, os próprios russos têm tido os mesmos debates durante séculos: Porque estamos tão atrasados, somos realmente europeus, porque estamos sempre no exterior, etc. Os peritos russos debatem as mesmas coisas: Será a pura geografia(?), a História(?) e assim por diante. Mas pergunto-me se isso é realmente importante. 

A dada altura, não se pode continuar a apontar a "história" como a culpada. As culturas são a soma das escolhas individuais tanto como são o sedimento da história. Muitos russos culpam a "história" como uma espécie de desculpa genérica. Já chamei, «treta», a isto, na Rússia falando com russos.

E tanta projecção. Os Putinistas russos afirmam estar a lutar contra a imoralidade e a decadência, mas a Rússia é um Estado profundamente decadente; é um país onde até a elite nacionalista e predadora (incluindo Putin, a sua família, e o Patriarca) vive vidas extravagantes e cheias de luxo. 

Em qualquer caso, a grande promessa no final do século XX era que já não teríamos de ser prisioneiros das nossas histórias. Duas guerras mundiais e uma Guerra Fria deram lugar a um mundo com escolhas, inclusive na Rússia. E no entanto, estamos a retroceder, com a Rússia criminosamente mais depressa do que ninguém. 

Ironicamente, uma das maiores obras literárias russas de todos os tempos (O Grande Inquisidor) inclui um capítulo sobre a razão pela qual a liberdade é um fardo.  Talvez seja. Talvez seja demasiado para muitos de nós. Mas é também uma responsabilidade. Um teste. Muitos de nós estamos a falhar, como pessoas e nações.

Os russos nunca enfrentaram esta responsabilidade. Pensei que o fariam depois de 1991; na verdade, tinha quase a certeza de que o fariam. Os americanos (para mudar de assunto) sempre enfrentaram este desafio de frente, mesmo quando ficámos aquém das expectativas. Mas milhões de nós parecem já não se importar. 

Este é um tempo negro para a democracia. #Ucrânia - um lugar que eu não esperaria que liderasse, dada a sua história inicial pós-independência - está agora a lutar pela liberdade. Estou contente por os americanos estarem unidos no apoio aos ucranianos. Mas espero que tenhamos a fortaleza para ficar. 

Precisamos de saber que esta não é uma luta que terminará amanhã, ou que terminará na Ucrânia. E espero que esta realização acorde o resto de nós.

Mas suponho que se a gasolina ficar a quatro dólares o galão, as nossas democracias vão dizer que já chega.

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