Este artigo fala de preconceitos que existem contra as mulheres. O que a articulista diz, são factos: uma percentagem de mulheres sofre de endiometrose e tem problemas incapacitantes de cada vez que tem a menstruação.
Não sei porque consideram vergonhoso falar ou legislar acerca disto. Todos nós professores temos de vez em quando alunas que faltam às aulas uns dias por mês porque estão de cama, incapazes de se mexer. Têm declarações do seu médico a atestar esse problema crónico para o qual não existe medicação, a não ser tomar uns Ben-u-rons. São poucos casos, é verdade, mas as que têm este problema, têm-no de modo incapacitante. Isso não lhes tira mérito enquanto estudantes. Algumas são muito boas alunas -outras não- e compensam esses dias com mais trabalho nos outros, mas a verdade é que nesses dias estão pregadas à cama, algumas a vomitar o tempo todo. Não é uma brincadeira.
Já na semana passada um artigo da Joana Mortágua falava deste assunto porque sendo uma doença, o argumento segundo o qual, se as mulheres disserem que têm essa doença ninguém as emprega e são descriminadas, é extremamente chauvinista. Uma pessoa não é mais fraca ou mais incompetente por ter uma incapacidade. O problema não está nas mulheres que têm a doença mas nos preconceitos dos outros.
Eu que tenho um cancro, tenho uma incapacidade atestada, enquadrada pela lei, mas não perdi competência por causa dela. Hoje-em-dia muitas pessoas, quando lhes diagnosticam um cancro, vêem falar comigo, porque sabem que não tenho problema em falar da doença, dos tratamentos e de outros assuntos relacionados, mas pedem-me para não dizer a ninguém, porque têm medo dos preconceitos dos outros.
Quais preconceitos? Bem, um dia, há um par de anos, porque estava ofegante de ter subido uma escada, uma colega volta-se para mim e diz, 'bem, se tens uma doença, se calhar devias reformar-te'... e ficou ofendida porque lhe respondi, 'Olha, lamento se o meu cancro incomoda a tua vidinha fútil'.
As pessoas, que podem ser grandes incompetentes e estúpidas, não se coíbem de chatear os por terem uma incapacidade, como se fosse um crime. A incapacidade que algumas mulheres têm com a menstruação não é escolha delas, não é um benefício, mas também não é nenhum demérito.
Desde quando é que a posse de um aparelho reprodutor feminino se tornou um demérito, um crime ou uma vergonha a ser calada?
Se uma pessoa como eu, com um problema oncológico, tem direitos ligados a certas incapacidades próprias da doença, porque é que outras doenças, também incapacitantes, não podem ter os seus direitos? Não vejo nada de estranho ou de mal nisso. Vejo mal é na quantidade de gente que tem tantos preconceitos contra as mulheres ao ponto de troçarem de doenças. Ridículas são essas pessoas.
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