April 25, 2022

O SPD que governa a Alemanha é ainda pior do que parece no que respeita à Rússia

 


E tendo em conta que a Alemanha nos governa, há razões para ter muito receio e cuidado com este governo de Scholz.

Sergej Sumlenny
🇩🇪 alemão, Perito da Europa Oriental com sede em Berlim com mais de 10 anos de trabalho na Ucrânia, Rússia, Bielorrússia. Ex-Direct
or @boell_stiftung  Escritório de Kyiv (UA+BY), escreveu, em Novembro do ano passado, a avisar dos perigos da política do Tratado para a Ucrânia, países do Báltico e Europa. É ler para perceber o que são estes indivíduos. 
Os políticos, em grande número são pessoas gananciosas e dogmáticas mas cheias de arrogância.
(reparo que no ponto 4) afirmam que vão comprometer a UE com a Rússia - usando o seu peso na União, claro. Esta gente é um perigo...)

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@sumlenny

Em Novembro de 2021, chamei ao Tratado de Coligação Alemã (um acordo entre as partes no poder sobre as políticas futuras) um desastre, na parte relativa à Ucrânia e à Rússia. Fui imediatamente chamado de alarmista, não tendo a menor ideia de como o acordo era pró-Ucraniano. Hoje posso dizer: Eu avisei...

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24 de Novembro de 2021


Porque é que o Tratado de Coligação é um mau tratado e quais as suas consequências para a Ucrânia e outros países da Europa Central e Oriental.

1) Não há adesão à UE à vista para a Ucrânia, Moldávia ou Geórgia, apesar dos muitos comentários. Não. O Tratado diz: "Países como a Ucrânia, a Moldávia ou a Geórgia, que lutam pela adesão à UE, devem poder aproximar-se (da UE) através de reformas consequentes no Estado de direito e na economia de mercado". Mais uma vez: UKR, MD, GEO devem tomar medidas, e "aproximar-se", mas sem nada à vista.

2) O Tratado apoia efectivamente "a reconstrução da integridade territorial e da soberania da 
Ucrânia", mas sem mencionar nenhuma acção. Em vez disso, existe uma promessa de "aprofundamento da parceria energética com a Ucrânia, com fortes ambições em matéria de energias renováveis, produção de H2 verde, eficácia energética e corte de CO2".

Esta é na realidade A ÚNICA promessa feita para a Ucrânia em todo o Tratado, nenhuma outra medida de apoio à Ucrânia ou de concessão de novas oportunidades à Ucrânia é mencionada (ao contrário da Rússia, mas já vamos a este vergonhoso tema).

3) A redacção sobre a Bielorrússia parece forte: "ficamos do lado do povo da BEL... apoiamos novas eleições, democracia, liberdade, Estado de direito, pedimos a libertação imediata dos presos políticos. A intimidação dos RÚSSIA não é aceitável". Ainda assim, a única ameaça mencionada é a "extensão das sanções".

Efectivamente, isto pode significar que nenhuma estratégia consequente em relação à Bielorrússia foi desenvolvida no âmbito da nova coligação. É também de ler, que qualquer pressão sobre a Rússia, excepto a frase, "não é aceitável", não faz parte do acordo da coligação. A Rússia prosseguirá com as suas acções.

4) A política da Rússia é o maior problema do tratado. Em primeiro lugar, a parte russa do Tratado começa com uma espécie de promessa de lealdade: "As relações germano-russas são profundas e diversificadas. A Rússia é também um importante actor internacional. Conhecemos a importância de relações estáveis e substanciais e vamos lutar pela sua continuação. Estamos prontos para um diálogo construtivo". Isto soa como um discurso de um aluno castigado em frente de um comité de professores, pois o rapazinho tem medo e pede perdão. O governo alemão pede a Moscovo que o perdoe!

Uma boa parte pode ser (!) a frase seguinte que diz: "pensamos nos interesses dos nossos vizinhos europeus, especialmente dos parceiros da Europa Central e Oriental. Pensamos em diferentes percepções das ameaças e centrar-nos-emos numa política comum e coerente da UE em relação à Rússia". 
Esta pode ser uma abordagem muito boa e ser implementada como respeito a receios legais da Polónia, países bálticos e Ucrânia (espero!) OU pode ser lida como uma tentativa de ter em conta a retórica da Rússia sobre "ameaças" vindas da UE e da NATO. Veremos qual será a leitura que prevalecerá.

5) O Tratado diz sobre a "anexação da Crimeia que viola o direito internacional" e pede o fim desta situação, bem como das "tentativas de desestabilização da Ucrânia" e da "violência na Ucrânia Oriental" (sim, "violência"). Ainda assim, não diz nada sobre o que a Alemanha irá fazer em relação ao tema.

6) A pior parte vem logo a seguir. O Tratado fala de um "conflito na Ucrânia Oriental" (!) e não de uma guerra russa contra a Ucrânia. 
Também diz claramente, "o caminho para uma solução pacífica do conflito na Ucrânia Oriental e para o fim das sanções com lei relacionadas passa pelo cumprimento integral dos Acordos de Minsk". Isto é moralmente terrível e factualmente errado. Os "Acordos de Minsk", mesmo se plenamente cumpridos, não irão proporcionar qualquer fim ao "conflito", mas apenas cimentar o status quo para sempre, e SÃO uma violação do direito internacional (Helsínquia, princípio das fronteiras).

Mais uma vez: o Tratado de Coligação (que será também a lei para o próximo Ministro dos Negócios Estrangeiros @ABaerbock) nega a guerra russa contra a Ucrânia e insta a Ucrânia a cumprir os Acordos de Minsk como se este fosse o único caminho para a paz. Esta é a pior parte do texto relacionado com a Ucrânia.

7) Para piorar ainda mais a situação, o Tratado insta a uma forte cooperação com a Rússia em "temas futuros (H2, Saúde) e no combate aos desafios globais (Clima, Ambiente)". Não tenho a certeza se as doenças relacionadas com o novichok fazem parte da cooperação no domínio da Saúde...

Efectivamente, a Rússia tem uma redacção perfeita que lava a guerra russa contra a Ucrânia; uma estrutura perfeita para fazer cumprir os péssimos Acordos de Minsk contra a Ucrânia; e leva como recompensa ser o parceiro da Alemanha mesmo em assuntos energéticos. Não posso acreditar que li isto num Tratado, mas li.

9) Além disso, a Rússia recebe ainda outra promessa: "Queremos dar a oportunidade de poderem viajar sem vistos, da Rússia para a Alemanha,  especialmente grupos importantes como os jovens com menos de 25 anos". Interessante, que se trate de uma liberalização de vistos de sentido único, apenas as viagens da Rússia para a Alemanha.

É também de mencionar, que este presente à Rússia não tem qualquer compromisso da parte da Rússia, enquanto que no caso da Ucrânia (um Estado parceiro que lutou pela integração na UE) foi obrigada a dar dezenas de passos por vezes humilhantes, incluindo a introdução de novas leis. Pois, os russos recebem-na de graça.

É também muito importante, que o Tratado não mencione QUALQUER ameaça possível para a Rússia, como a introdução de novas sanções, se a Rússia continuar a escalar contra a UE ou outros países. A Rússia pode receber várias recompensas (incondicionalmente!), mas não enfrenta nenhuma ameaça. Péssima política.

É também de mencionar, que nem o NordStream2, nem os ataques russos às instituições europeias (incluindo assassinatos em solo da UE), nem os ataques russos contra os seus vizinhos, nem a chantagem energética russa são mencionados. Este Tratado parece ser escrito para ser aprovado pelo Kremlin.

Globalmente: nas suas partes relacionadas com a Ucrânia, Bielorrússia e Rússia é um Tratado muito mau, sofrendo claramente da enorme dependência do SPD do Kremlin, que - se literalmente implementado - não trará nenhum bem para a Europa e será mais um tijolo no muro entre nós e os nossos vizinhos.

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