March 26, 2022

Putin não quer a paz com a Ucrânia

 



@ZelenskyyUa deixou claro que está pronto para fazer grandes compromissos para pôr fim a esta guerra já. Putin é quem bloqueia o progresso de um acordo de paz. São precisos dois para dançar o tango. Não se pode apelar a um "acordo de paz" sem delinear uma estratégia para levar Putin a negociar as coisas difíceis.

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Se calhar porque Zelenskyy sabe que Putin não quer a paz, quer a derrota da Ucrânia. Quer que a sua chantagem de ameaçar com armas nucleares funcione para legitimar a sua narrativa de ser normal grandes potências definirem quem são os seus países vassalos e para abrir caminho a actos futuros semelhantes. 
Além disso, Putin nunca se sentará à mesa das negociações com Zelenskyy. Putin despreza-o a ele e aos ucranianos - nunca ele, que se vê como um grande líder, um estratega genial, um gigante da História se poria ao mesmo nível que um pequeno cómico da TV. 
A intenção dele -disse-o várias vezes- era estabelecer-se como líder mundial em paridade com os EUA. A ideia dele era que o mundo fosse controlado por 3 blocos (para já, porque o continente africano ainda está a definir-se) - EUA, Rússia e China, cada um com os seus países vassalos (os tais das teorias da área de influência). Ele quer o fim da influência da Europa e dos seus valores de democracia e direitos humanos.

Ele vê os EUA a aproximarem-se de uma sociedade autoritária e a afastarem-se da Europa. Eu também via, embora agora, com este blunder dele na Ucrânia, as coisas tenham melhorado, pelo menos temporariamente.

Eu vejo os EUA numa crise dificilmente sanável nos próximos muitos anos. Trump foi um grande factor de retrocesso na vitalidade democrática dos americanos. Agora estão divididos em duas forças, não politicamente rivais mas com cortesia democrática, como sempre foram, mas como forças antagónicas, onde uma delas quer subverter a ordem social democrata e já tentou reverter pela força umas eleições. Agora são duas visões de sociedade: uma de continuidade democrática outra de autoritarismo e estão aquarteladas em redutos, com os seus soldados... estão em guerrilha. E o povo acompanha-os nessa guerrilha. 

De momento Biden fez recuar o tom bélico que Trump impôs nos EUA e incentivou no mundo, mas a seguir a Biden virá outro que não se sabe se terá a mesma experiência e bom senso. De qualquer dos modos, a semente da violência partidária está lançada e a germinar. Putin não é alheio a isso e apostava nisso.
 
Podia aproveitar-se este raro momento de união entre os EUA, a Europa e muitos outros países do mundo, como se viu na condenação de Rússia na ONU, para introduzir alguma alteração no direito internacional que reverta essa ideia dos países terem 'direito' a determinar quem são os países vizinhos que podem ter autonomia e soberania. Estabelecer uma espécie de protocolo preventivo de guerras como esta em que um país invade outro sem nenhuma provocação ou direito. Um protocolo em etapas, com sanções como se está a fazer agora à Rússia ou outras medidas apropriadas. Se estas medidas têm sido tomadas logo na invasão da Crimeia, tinha-se evitado esta guerra, esta carnificina dos ucranianos pelos russos que ainda por cima põe em causa a paz mundial.

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