February 24, 2022

Putin vai à História como eu vou às maçãs na banca do sr. Armindo

 


Escolho as maçãs uma a uma e só trago as que gosto e me interessam. Deixo lá as outras que não me interessam. Assim também o faz Putin. Vai à História e tira um a um os acontecimentos que lhe interessam e ignora os outros.

"Em 1991, quando mais de 90% de ucranianos votaram pela independência e a URSS se dissolveu, a Ucrânia tinha um terço do arsenal nuclear soviético e o terceiro maior do mundo, bem como a capacidade para produzir tantas armas quanto a Rússia. A Rússia pediu aos países que influenciassem a Ucrânia para aderir ao «Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares» e destruir todo o seu arsenal nuclear, bem como a capacidade de produção de armas nucleares.

Em 1993, um professor de Relações Internacionais da Universidade de Chicago, John Mearsheimer, publicou um artigo que incluía a sua previsão de que uma Ucrânia sem qualquer dissuasão nuclear seria provavelmente sujeita a agressão por parte da Rússia, mas esta era uma opinião muito minoritária na altura."

Seja como for, a Ucrânia assentiu em destruir as suas armas nucleares com condições. As condições incluíam a garantia de que a Federação Russa se comprometesse a não atacar a Ucrânia. A Rússia concordou e essas condições e garantias ficaram escritas no memorando de Budapeste que foi assinado a 5 de Dezembro de 1994, pelos líderes da Ucrânia, Rússia, Grã-Bretanha e Estados Unidos. O líder da Rússia era Yeltsin, o que lançou Putin como primeiro-ministro. Yeltsin estava lá a sossegar e garantir à Ucrânia que ficasse descansada que nunca os atacariam e Putin foi o seu delfim. Lembro-me bem da assinatura deste memorando.

O memorando tem a seguinte redacção:

"Os Estados Unidos da América, a Federação Russa, e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, saudando a adesão da Ucrânia ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares como Estado não dotado de armas nucleares, tendo em conta o compromisso da Ucrânia de eliminar todas as armas nucleares do seu território dentro de um período de tempo especificado, registando as mudanças na situação de segurança mundial, incluindo o fim da Guerra Fria, que criaram condições para reduções profundas nas forças nucleares, confirmam o seguinte:

1. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam o seu compromisso com a Ucrânia, em conformidade com os princípios da Acta Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, de respeitar a independência e soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia.

2. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam a sua obrigação de se absterem da ameaça ou uso da força contra a integridade territorial ou independência política da Ucrânia, e que nenhuma das suas armas será jamais utilizada contra a Ucrânia, excepto em legítima defesa ou de outra forma, de acordo com a Carta das Nações Unidas.

3. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam o seu compromisso para com a Ucrânia, de acordo com os princípios da Acta Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, de se absterem de coacção económica destinada a subordinar ao seu próprio interesse o exercício pela Ucrânia dos direitos inerentes à sua soberania e, assim, assegurar vantagens de qualquer tipo.

4. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam o seu compromisso de procurar uma acção imediata do Conselho de Segurança das Nações Unidas para prestar assistência à Ucrânia, como Estado parte no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, se a Ucrânia se tornar vítima de um acto de agressão ou objecto de uma ameaça de agressão em que sejam utilizadas armas nucleares.

5. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam, no caso da Ucrânia, o seu compromisso de não utilizar armas nucleares contra qualquer Estado parte no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, excepto no caso de um ataque a si próprios, aos seus territórios ou territórios dependentes, às suas forças armadas, ou aos seus aliados, por um tal Estado em associação ou aliança com um Estado dotado de armas nucleares.

6. A Ucrânia, a Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha, a Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América consultar-se-ão no caso de surgir uma situação que levante uma questão relativa a estes compromissos.

- A França e a China também deram à Ucrânia garantias semelhantes às do Memorando de Budapeste, mas com algumas diferenças significativas. Por exemplo, o compromisso da França não contém as promessas estabelecidas nos parágrafos 4 e 6 acima, de remeter qualquer agressão ao Conselho de Segurança da ONU, nem de consultar no caso de uma questão relativa aos compromissos.

O compromisso da China assume uma forma totalmente diferente, datando de 4 de Dezembro, e lendo da seguinte forma:

O Governo chinês congratula-se com a decisão da Ucrânia de destruir todas as armas nucleares no seu território, e louva a aprovação pelo Verkhovna Rada da Ucrânia a 16 de Novembro da adesão da Ucrânia ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares como Estado não dotado de armas nucleares. A China compreende plenamente o desejo da Ucrânia de garantia de segurança. O Governo chinês sempre defendeu que em circunstância alguma a China utilizará ou ameaçará utilizar armas nucleares contra Estados não dotados de armas nucleares ou zonas livres de armas nucleares. Esta posição de princípio também se aplica à Ucrânia. O Governo chinês insta todos os outros Estados com armas nucleares a assumirem o mesmo compromisso, de modo a reforçar a segurança de todos os Estados não dotados de armas nucleares, incluindo a Ucrânia. "


(é claro que a História não confere a ninguém direitos de invasão)

também publicado no blog delito de opinião

5 comments:

  1. (...) em associação com um estado dotado de armas nucleares.
    Ora aí está o problema. Se os EUA entram nisto, estamos bem lixados. E a China também entra. E o outro louco da Coreia idem. Alguém tem de impedir isto! Nem que seja o Papa!

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  2. Alguém? Não há uma pessoa ou um país com poderes mágicos... cabe-nos a todos nós.

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  3. Eu acho que o Papa era a pessoa ideal para mediar o conflito.
    E aproveitava e limpava a má imagem de pedofilia na Igreja.
    Já enviei uma mensagem ao Vaticano.

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  4. Ouviste a conferência de imprensa do Biden?
    O Putin deve estar cheio de medo...uiui!
    Olha, eu acho mesmo que se o Papa Francisco não nos acudir....
    Para já o dinheirinho dos Russos vai continuar a fluir nos States....

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  5. Porque o Putin interessa-se muito pelo Papa...

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