February 13, 2022

Os professores não são tratados como os outros profissionais





O ensino é uma das poucas carreiras em que o livre arbítrio dos outros tem um impacto diário e negativo na subsistência de um funcionário. Por exemplo, quando um estudante não faz os seus trabalhos de casa e a sua nota desce, entende-se como um problema para o professor resolver. Quando um paciente não faz o exame aos olhos que lhe foi aconselhado e a sua visão piora, entende-se que o paciente é responsável, não o seu optometrista. Todos compreendem o valor das consequências dos próprios actos e estes outros profissionais podem fazer o seu trabalho sem que as repercussões da irresponsabilidade de outra pessoa recaiam sobre as suas cabeças!

Aqui estão 7 exemplos que mostram como os professores não são tratados como os outros profissionais

1. Um paciente pouco saudável que não segue as recomendações não afecta a reputação ou o salário do seu médico, mas os baixos resultados dos testes dos alunos afectam os professores.

Ignorando descaradamente os conselhos médicos para deixar de fumar, os médicos diagnosticam uma pessoa com um enfisema. Sem vontade de mudar a sua dieta rica em gorduras e colesterol, uma pessoa sofre de obesidade e doenças cardíacas. Será que estes resultados negativos para a saúde afectam negativamente o salário e a reputação dos seus médicos? Absolutamente não! No entanto, nas escolas, as notas baixas dos alunos apáticos que não seguem uma única recomendação dos professores e não trabalham, têm um impacto negativo no financiamento das escolas, prejudicando os professores.

2. A perícia do arquitecto não é questionada, no entanto as qualificações dos professores são constantemente postas em dúvida.

Todos os dias, em todo o mundo, as pessoas entram em edifícios e casas sem receio de que os edifícios desabem. Porquê? Porque assumimos que a perícia do arquitecto nos protege. As pessoas em geral não depositam este nível de confiança nos professores, apesar dos nossos múltiplos graus académicos, certificações, horas de desenvolvimento profissional e envolvimento nas escolas. Os professores sabem o que funciona para os seus alunos, mas estamos constantemente a ter pessoas que nunca puseram os pés na sala de aula a questionar a competência dos professores e a dar conselhos de como as coisas se devem fazer. 

3. Os dentistas não são culpados quando os seus pacientes não escovam os dentes e não usam fio dental, mas a culpa é do professor quando os alunos não fazem os trabalhos de casa.

Quando não praticamos uma boa higiene oral e acabamos com os dentes cheios de cáries, sabemos que não podemos culpar o dentista. Ninguém espera que os dentistas ofereçam serviços gratuitos adicionais àqueles que descuram os cuidados básicos, nem tampouco que dali a um ano, esses desleixados tenham os dentes iguais ao do outro paciente que cuida primorosamente da sua saúde e higiene bocal. No entanto, a sociedade espera que os professores passem os alunos que não fazem os seus trabalhos mais básicos e descuram completamente a sua higiene pedagógica, espera que os ponham numa turma com alunos que cumprem os seus deveres e ainda espera que esses alunos desleixados, cheguem ao fim do ano seguinte no mesmo nível que os outros que cuidaram primorosamente dos seus deveres. Isto é irracional.

4. Os pilotos não são forçados a voar direito a um furacão, mas espera-se que os professores continuem imperturbáveis independentemente dos obstáculos.

Do tempo inclemente aos passageiros indisciplinados, mesmo os melhores pilotos não são imunes à forma como as influências externas afectam a sua capacidade de voar em segurança. Compreendendo a gravidade destes factores externos, as companhias aéreas há muito que implementaram certas salvaguardas, como a restrição do peso das bagagens de mão, por exemplo, ou a interdição dos passageiros incomodarem o piloto enquanto faz o seu trabalho, para garantir a eficiência e a segurança das viagens aéreas. Os professores perguntam como é ter esse tipo de apoio prático quando tentam ensinar face à oposição e interferência constante de pais, governantes, comunicação social e sociedade em geral. 

5. Não se espera que um chefe de cozinha alimente os comensais que não estão no restaurante, mas espera-se que os professores sejam responsáveis pelo sucesso dos que não vêm à escola.

Se eu fizer uma reserva para jantar e não aparecer no restaurante, o cozinheiro não é responsável pela minha fome. Não apareci, por isso não posso comer a refeição que tinham planeada para mim. No entanto, esta relação de causa e efeito aparentemente simples não se aplica às escolas. Se um aluno não vai às aulas, a tutela manda que não sejam eles os responsabilizados pela sua ausência, nem os pais, mas os professores, que estavam lá no seu posto, com um plano para a sua instrução. Como se fosse função do professor perseguir alunos fora da escola... Ajudar um aluno a recuperar o atraso por ter precisado de faltar a uma aula ou duas ou três, ou por ter estado doente, é razoável; mas mandar um professor acumular, para um aluno, um ano lectivo inteiro de aulas nas últimas semanas de Maio, como trabalho extra, porque esse aluno repetidamente faltoso decide finalmente aparecer nas aulas, para depois poderem passá-lo, é o oposto de razoável! 

6. As empresas só atendem ao seu mercado-alvo enquanto os professores têm de envolver todos os estudantes.

A Starbucks sabe que os seus consumidores são apreciadores de café, por isso a empresa fabrica produtos artesanais orientados para os apreciadores de café. Os professores, por outro lado, não se podem dar ao luxo de fazer marketing apenas para um público alvo previamente interessado no produto. Os professores vendem conhecimentos de matemática, de geografia, literatura, etc., a pessoas que não os querem à partida, e depois são julgados pelos conhecimentos que esses desinteressados, têm sobre matemática, geografia, literatura, etc. Duvido que os directores de marketing da Starbucks recebam avaliações profissionais negativas por não convencerem os detratores de café a ir todos os dias às suas lojas beber café e saber tudo sobre as suas misturas de café. Porém, aos estudantes que não querem aprender e esforçar-se não se pode dizer nada e, nem sequer os pais se responsabilizam pelos filhos não fazerem nada em casa ou passarem a noite acordados na internet. Não, em vez disso, rotula-se irracionalmente os professores como responsáveis, como se fossemos feiticeiros com magias de transmutação de personalidades amorfas.

7. O público vê os trabalhadores qualificados como insubstituíveis, mas acredita que qualquer ser humano adulto, por ter filhos ou por ter experiência em ser humano, pode liderar uma sala de aula com proveito.


Parece razoável contar com uma pessoa com vasta experiência e conhecimento para realizar um trabalho importante. Se temos um problema com o fogão a gás não procuramos o vizinho só porque é adulto e também tem um fogão; se partimos o braço não procuramos o vizinho só porque é adulto e tem experiência de ter braços; se alguém nos rouba e precisamos de justiça não pedimos ajuda ao vizinho só porque é adulto e sabe ler as leis em português: procuramos especialistas que saibam como ajudar com proveito. No entanto, aqui estamos nós, numa carência nacional de professores, a aceitar qualquer adulto sem conhecimentos ou formação para ensinar os nossos filhos. E até falam em substituí-los por robots para poupar dinheiro. É como se o público acreditasse realmente que os professores são dispensáveis e qualquer um soubesse perceber-lhes, orientar-lhes e desenvolver-lhes as potencialidades.

As criança e os adolescentes jovens tendem a tomar más decisões e a fazer coisas estúpidas - faz parte do crescimento! Mas as escolas devem ser o lugar seguro onde praticam ser responsáveis pelo seu comportamento, em vez de aprenderem a usar os outros como desculpas. 

(a partir de um artigo de por Stephanie Jankowski)

No comments:

Post a Comment