February 15, 2022

Mariana Mortágua - É sabido que quando se trata de amor deixamos de raciocinar e de ver o que está diante dos olhos

 


É o caso aqui de Mariana Mortágua. Esta semana saiu um artigo no Le Monde sobre como os políticos em França estão divididos porque os extremos, tanto à direita como à esquerda, admiram e defendem Putin. Pois, pelos vistos aqui no rectângulo também. Mariana Mortágua compara esta situação da Ucrânia à dos Mísseis de Cuba e Putin a Kennedy... a sério? Putin e Kennedy, o primeiro um ditador beligerante e o outro um defensor da liberdade e da democracia? Comparar a URSS durante a Guerra Fria, quando os EUA e a Rússia tinham as ameaças mútuas ao máximo e mísseis apontados um ao outro prestes a disparar, com a Rússia do século XXI a aumentar o território às custas dos coitados dos países fronteiriços?  Os EUA têm sido beligerantes contra a Rússia? Trump, outro extremista, até o admirava e louvava publicamente. E Mariana Mortágua diz que os EUA e a Inglaterra querem precipitar a guerra sem provas e Putin só está a defender-se? Em 2014 quando a Ucrânia nem queria ouvir falar da NATO e foi invadida, Putin também só estava a defender-se? E agora em 2022 quando os satélites até contam o número de pessoas a marchar na fronteira, não há provas? E Putin é um homem de acordos e de diplomacia? Como se viu na Geórgia, na Tchechenia, na Arménia e por aí fora? E a solução é a Ucrânia declarar que está disposta a ficar de joelhos e a aceitar o Tutor Putin e perder soberania e auto-determinação para não incomodar o papá Putin? E o mal está nas sanções que Biden e a Europa impõem à Rússia e aos seus corruptos oligarcas bilionários? Está com pena que Putin perca o 3º iate? Não é preciso preocupar-se porque o super-iate saiu de Hamburgo há uma semana já por causa disso e o palácio de Putin, o novo czar das Rússias, está bem aquecido com as notas do petróleo. E devia a Europa abandonar a Ucrânia à sua sorte, sozinha nas mãos de Putin? Onde está o BE que clamava que devíamos sair da UE porque perdíamos soberania de cada vez que adoptávamos uma pequena directiva europeia? 
Enfim, é sabido que quando se trata de amor deixamos de raciocinar e de ver o que está diante dos olhos.


A Ucrânia é o pretexto

Mariana Mortágua
Em 1962, o Mundo viveu um impasse perigoso quando, em plena Guerra Fria, a União Soviética instalou mísseis nucleares na ilha de Cuba, recentemente libertada do ditador Fulgêncio Batista.

Perante a ameaça, Kennedy determinou o bloqueio naval da ilha, levantado quando os EUA se comprometeram a não invadir Cuba e ambas as potências retiraram os seus mísseis, a URSS de Cuba e os EUA da Turquia, perto da fronteira soviética. 
(...)
Enquanto a Rússia (e as autoridades ucranianas) continuam a afastar a hipótese de uma invasão, os porta-vozes do Ocidente parecem querer precipitar o evitável. O responsável pela Defesa dos EUA anunciou uma invasão iminente, o primeiro-ministro britânico mencionou, sem provas, a existência de agitadores russos na Ucrânia e o presidente Biden quis competir com Putin em arrogância e temeridade. Ao contrário da solução diplomática, que exigiria a retirada de todas as forças estrangeiras e a neutralidade militar da Ucrânia, o conflito permite aos EUA a imposição de sanções inéditas à Rússia, como a expulsão do sistema de pagamentos internacionais e o bloqueio do gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha. Ambas as potências ficariam assim isoladas e enfraquecidas. Por seu lado, na UE não falta quem deseje aproveitar o conflito para justificar o projeto de um exército europeu, a começar pela indústria do armamento.

Como sempre, há muito em jogo, nesta guerra económica e de influências a nível mundial. A Ucrânia é o pretexto e o seu povo é a última preocupação.

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